A vida do vendedor ambulante Aluísio Gustavo da Silva, 40 anos, dá um livro. Daqueles cheio de capítulos e histórias. Da peregrinação por colégios estaduais na região metropolitana de Goiânia até a aprovação no curso de medicina na Universidade Federal de Goiás, ele superou preconceito, problemas financeiros e de saúde e está próximo de realizar seu grande sonho.

Aliás, Aluísio faz questão de lembrar que sua vida mudou mesmo, quando um dos seus professores no curso de veterinária – sim, ele também é veterinário – o aconselhou a buscar o que sempre desejou: a medicina.

“Foi o professor Luciano Marra em 2013. Tinha formado em veterinária na UFG e ganhei um mestrado. Foi aí que ele entrou. Quando eu ia fazer a matrícula, me desaconselhou por causa de uma alergia que tinha desenvolvido”.

Alergia?

Mas que alergia é essa? Aluísio revelou que tinha bronquite quando criança, mas que durante o curso de veterinária desenvolveu uma alergia por causa do convívio com os animais. Mesmo assim se formou, mas aconselhado pelo professor Luciano, que lembrou do problema, desistiu do mestrado, voltou a sonhar com a medicina e praticamente não atua como veterinário.

“Tenho alergia de tudo quanto é animal que se possa imaginar. Então não consigo atender como veterinário. Faço poucos atendimentos domiciliares com muito cuidado”, detalhou Aluísio, que hoje em dia por causa da bronquite da infância e o medo da alergia, carrega a “bombinha de asma” pra tudo quanto é lugar.

“Hoje mesmo sai correndo de casa e esqueci”, lembrou o corrido Aluísio, que não para nunca, e que a partir de agora terá de se desdobrar para cuidar da família, conciliar a faculdade de medicina e trabalhar como vendedor de algodão doce e brinquedos – sim, ele também é vendedor ambulante – profissão que exerce há muitos anos e que o ajuda a manter-se em pé em busca dos seus sonhos.

Quanta história

Aluísio já está matriculado no curso de medicina da UFG. Antes frequentou por 41 dias as aulas na Universidade Federal de Jataísim, ele também passou lá. E a caminhada até chegar onde tanto desejou é cheia de personagens. Claro que dona Maria Sebastiana faz parte dessa história de superação.

“Sou de família muito simples. Minha mãe trabalhava 36 horas e folgava 12 pra dar conta da gente, pois somos em cinco irmãos. Então ela nunca teve condição de dar uma educação de melhor qualidade. Ela dava comida, roupa e o restante a gente ia se virando”, detalhou o Aluísio, que recorda colégio por colégio por onde passou até concluir o ensino médio.

“Estudei no Colégio Pedro Xavier Teixeira, no JK e no Parque Amazonas em Goiânia. Em Aparecida, estudei no Petrônio Portela e no Cruzeiro do Sul. Depois eu fui atrás de colégios particulares e ganhei bolsa de estudos em cursinhos. Tentei passar no vestibular por dois anos, não consegui, aí parei de estudar”.

Volta aos Estudos

E depois que parou de estudar, Aluísio foi pra rua vender seus brinquedos e algodão doce. Então professores do cursinho que tinha frequentado o encontraram e levaram ele de novo para a sala de aula. Foi quando passou para veterinária na UFG.

“Os professores me acharam na rua vendendo brinquedos, me levaram de volta para o cursinho. “Fiz o meu 3º ano, já queria fazer medicina, mas por causa das dificuldades, acabei fazendo veterinária em 2006 na Universidade Federal de Goiás. Me formei em 2013”.

Formado em veterinária, sem poder atender por causa da alergia, aconselhado pelo professor Luciano a buscar a medicina, Aluísio então voltou ao cursinho. Mais uma vez no colégio Protágoras. Em 2014, já pelo ENEM – Exame Nacional do Ensino Médio – sempre tentava e nada de passar. A rotina para estudar e trabalhar era curiosa, como ele mesmo explicou.

“Primeiro semestre eu trabalhava vendendo algodão doce e brinquedos. Fazia muitas festas agropecuárias em todo o estado. Já no segundo semestre, eu trabalhava nos finais de semana vendendo brinquedos e algodão doce, no fim do dia também, mas no restante do tempo passava estudando no cursinho do Protágoras. Foram nove anos lutando, fazendo cursinho e trabalhando”.

Aprovado

E depois de tantas tentativas, veio a aprovação no ano passado. O agora estudante de medicina já tem uma meta traçada pra quando se tornar o “Doutor Aluísio”.

“Tenho um compromisso com a sociedade pelo resto da minha com relação aos problemas respiratórios. Quando coloco uma coisa na cabeça, ninguém tira. Se existir a menor possibilidade de encontrar a cura para a asma, a bronquite, ou qualquer outro problema respiratório”.

Acompanhado da esposa Maria Iraci e do filho Davi, de 9 anos, Aluísio segue escrevendo a sua história. Na entrevista, deixou claro que não vai parar de vender os seus brinquedos e algodão doce. “Ainda é a minha grande fonte de renda. E com certeza será nos próximos seis anos”. Assim, Aluísio Gustavo da Silva segue sua caminhada…

“Todos nós temos um propósito de vida. Se você acredita em Deus ou não. Enquanto houver vida, existirão as possibilidades”.

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