O setor da construção civil foi por muitos anos o destino de parte da população de baixa escolaridade, em especial homens na fase adulta. A necessidade de mão de obra física e braçal e a natureza artesanal de muitos processos construtivos assegurava a absorção deste perfil de força de trabalho.

Cada vez mais, posturas alinhadas aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis das Nações Unidas (ODS) têm sido assumidas pelas principais companhias do setor, que por sua vez servem de referência e encorajam as concorrentes a fazerem o mesmo.

O cenário que por muitos anos parecia ser a única opção de trabalho para muitas pessoas agora vive uma nova realidade. A construção civil agora é considerada a porta de entrada para quem tem pouco estudo e precisa trabalhar, mas também oferece a possibilidade de elevar seu nível escolar.

Educação e capacitação profissional

É o caso do projeto Ensino Consciente, desenvolvido pela Consciente Construtora em parceria com o Serviço Social da Indústria (SESI), que oferece aulas de formação e complementação dos estudos para seus funcionários.

Foto: Consciente Construtora.

O coordenador socioambiental da construtora, Felipe Inácio, explica que iniciativa oferece oportunidades de desenvolvimento pessoal e profissional por meio da educação e estimula o potencial de sustentabilidade nos colaboradores.

“O projeto Ensino Consciente completa 14 anos em 2023 e visa capacitar nossos colaboradores, principalmente os que ainda não sabem ler e escrever. Além das aulas, a construtora oferece todo o material didático, lanche e condições para o estudo”, afirma.

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A analista responsabilidade socioambiental, Juliana Xavier, considera a iniciativa muito importante para o desenvolvimento social e adianta que em breve mais uma turma do curso estará se formando.

“O projeto é em parceria com o SESI e com o EJA (Educação de Jovens e Adultos), sendo que as salas de aula são montadas dentro dos canteiros de obras, onde o colaborador pode tomar um banho após o expediente e participar das aulas. Atualmente estamos com uma turma de oito alunos que vão se formar no próximo mês de abril”, revela.

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A Aila Aparecida é funcionária da construtora há dois anos no setor de higiene e limpeza. Ela faz parte do grupo que vai se formar agora no mês de abril. Para ela a oportunidade de concluir o ensino médio será a oportunidade de inserir no ensino superior.

“Para mim é um sonho que está sendo realizado, pois não tive tempo para terminar o ensino médio devido a uma séries de questões. A partir desta oportunidade meu sonho é concluir o ensino médio e ingressar em um curso de Radiologia”, conta.

Outros exemplos

Quem também desenvolve projeto similar é a construtora MRV, que há 12 anos oferece cursos correspondentes ao ensino básico, ao ensino médio e à capacitação especializada em modalidades profissionalizantes tais como alvenaria, pedreiro de acabamento, por exemplo. Intitulado Escola Nota 10, meta da companhia para os próximos anos é zerar o número de analfabetos em seus canteiros de obras.

Dentre as milhares de pessoas já beneficiadas pelo programa está o Waldete, pedreiro que aprendeu a ler e escrever por meio do curso básico oferecido pelo Escola Nota 10. Como forma de reconhecimento e homenagem a todos os alunos, em dezembro de 2022 ele foi convidado a protagonizar uma campanha de Natal e contar como foi a experiência de escrever sua primeira carta de Natal.

Assista a campanha no Youtube

Segundo dados da Relação Anual de Informações Sociais (Rais 2021), apenas 0,6% dos profissionais formais atuantes no setor de construção civil se declaram analfabetos. Raramente um operário passa pela construção civil sem ter uma oportunidade de elevar o nível de aprendizado e ou qualificação.

Da parte das empresas, nota-se um contínuo interesse em de fato avançar nesse caminho. O processo acelerado de inovação tecnológica que vive o setor impulsiona a condução desses passos, pois tornam a alfabetização ainda mais essencial, seja para compreensão de manuais, avisos, assim como de normas técnicas que evitam acidentes.

Estimular praticas que desenvolvam o ensino nos canteiros de obras são exemplos que fomentam os ODS de número 4 (Educação de Qualidade); 8 (Trabalho Descente e Crescimento Econômico) e também 10 (Redução das desigualdades), contribuindo para um mundo melhor.

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