A 28ª edição da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a COP-28, começa no próximo dia 30 de novembro. É nela que deverão ser debatidos com maior profundidade os inúmeros eventos meteorológicos extremos que têm ocorrido nos últimos anos em diversos países. O Brasil, por exemplo, que enfrentou ondas de frio em 2021, se vê diante de uma onda de calor sem precedentes.
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Atualmente, o Brasil está sob o efeito do fenômeno climático El Niño. É ele o responsável por potencializar chuvas nas regiões Sul e Sudeste e provocar secas nas regiões Norte e Nordeste. Inúmeras cidades brasileiras estão sofrendo as consequências provocadas pelo fenômeno. Nesse sentido, segundo o professor titular da Escola de Comunicações e Artes (ECA) e do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da Universidade de São Paulo, Pedro Luiz Côrtes, essas questões não serão encaminhadas para a conferência de maneira consistente.
Para entender tudo isso, Côrtes discute sobre os acontecimentos mundiais atuais e como eles podem interferir nas discussões ambientais apresentadas na COP-28. Em entrevista ao Jornal da USP, o professor analisa que o mundo passa por um complicado contexto geopolítico. Além disso, as chancelarias dos países estão envolvidas na tentativa de resolução do conflito entre Israel e Palestina. Ademais, a mídia não tem repercutido nenhuma iniciativa ou proposição mais consistente dos países em relação à COP-28, isso a menos de duas semanas para o início da reunião.
Côrtes acrescenta a recente questão de beligerância, ou seja, situação de conflito, entre Estados Unidos e China, em que o presidente norte-americano Joe Biden chamou Li Qiang, primeiro-ministro chinês, de ditador. Por essa razão, as expectativas do especialista a respeito das soluções discutidas na COP28 estão baixas.
“Essas são situações que não contribuem para o encaminhamento dos conflitos internacionais, sejam eles reais ou potenciais, isso vai drenando a atenção em relação a questões que poderiam ser levadas adiante na conferência”, aponta o Côrtes.
Vale ressaltar que o encontro será realizado em Dubai, um dos maiores produtores de petróleo do mundo. Para Côrtes, é importante analisar as reais motivações para a reunião: o governo local está realmente empenhado em trabalhar em um processo de transição climática e investimento em fontes sustentáveis ou o País busca influenciar as decisões que venham a ser tomadas em relação à transição energética?
Metas e a posição brasileira
Com relação ao governo federal anterior, o Brasil mudou drasticamente sua posição em relação às questões ambientais e agora assume um significativo papel de protagonismo. Conforme Côrtes, no segundo semestre deste ano, devido ao conflito Israel-Palestina, o foco em questões ambientais perdeu um pouco de força, já que o País vem atuando de maneira ativa para a resolução da guerra.
Além disso, o professor avalia que ainda é preciso realizar muitos avanços nas questões ambientais. Entretanto, algumas resoluções apresentadas pelo governo brasileiro podem ser consideradas de extrema relevância, como a redução dos focos de queimada na Amazônia.
Ademais, em 2023, o Brasil apresentou o Novo Plano Safra, um programa do governo federal que, segundo o professor, prevê que projetos envolvidos no manejo ambientalmente adequado podem levar à obtenção de taxas reduzidas de financiamento. Existem outros projetos com foco ambiental em andamento ou que esperam aprovação. “O Brasil voltou a ter um protagonismo ambiental, mas ainda não mostrou tudo que se propunha a mostrar nesse primeiro ano de governo”, conclui.
Este conteúdo está alinhado ao Objetivo de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU) – ODS 13 – Ação Global Contra a Mudança do Clima
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