O Matheus completou 12 anos no dia 28 de agosto. De sorriso fácil, é fã de pagode. Ao celular, ouvia Péricles (ex-vocalista do Exaltasamba), enquanto o Rafael, seu pai, concedia uma entrevista para um videocast. Era a primeira vez dos dois em um estúdio, diante de microfones e câmeras. Seria mais uma pauta normal na vida de um jornalista como eu, no entanto a dupla INSPIRA MUITO, QUALQUER UM, a sair por aí CORRENDO atrás dos sonhos e de uma vida melhor.

E Matheus e Rafael correm de verdade. Um ajuda o outro. É que o Matheus nasceu com microcefalia e teve seu desenvolvimento afetado. Sem andar, conta com a ajuda do Rafael, que corre empurrando o filho em um triciclo especial. Matheus, dessa forma, tem a oportunidade de “tomar aquele vento no rosto”, correndo pelas ruas de Goiânia, acaba inspirando Rafael e mais: o filho não ajuda só pai, mas todos que tem motivos (desculpas) de sobra pra ficar se lamentando.

O papo

Sobre a entrevista com o Matheus e o Rafael, ela aconteceu em um dos estúdios do Sistema Sagres de Comunicação. Foi uma produção para o Inspiração, um programa semanal ,recentemente criado pela direção da empresa, para contar histórias legais. Foram 30 minutos do Rafael contando como é a rotina ao lado do Matheus, da esposa e da filhinha mais nova. O Matheus, como não fala, ficou ali do lado, quietinho, ouvindo o Péricles. Aliás, quando convidei o Rafael para participar de programa, perguntei se o Matheus poderia participar. Ele disse: “Claro. Ele não fala, mas interage e entende tudo o que é dito perto dele”. Foi a deixa que precisava para eu ficar a vontade com os dois. O papo fluiu!

Rafael e Matheus
Rafael e Matheus superam dificuldades e correm pelas ruas de Goiânia

No início, ainda tímido, as repostas do Rafael eram mais curtas. Natural para uma primeira entrevista, mas depois desenrolou e nem vimos o tempo passar. Além da rotina com o Matheus, o Rafael também contou da sua vida de atleta. Pelas ruas de Goiânia, são provas e mais provas. Sempre com o Matheus.

“Já até briguei com organizadores de eventos e outros corredores que acham que o triciclo me favorece para eu correr mais rápido. Eu corro pra dois. Tenho que fazer força pra subir e na descida, fazer força para segurar o triciclo. Preconceito sempre vai ter, no esporte, em qualquer, estamos aqui pra quebrar barreiras”, destaca Rafael.

As marcas

E as marcas dos dois impressionam. Sim, dos dois. Tá certo que é o Rafael que faz o maior esforço físico, mas a força pela vida do Matheus, é o que move a dupla. No perfil do Instagram “correndopelomatheus” da pra ver alguns tempos que chamam a atenção: 5 km abaixo de 18 minutos; 10 km em 36 minutos; 21 km em 1 hora e 26 minutos; uma maratona, 42 km, em 3 horas e 11 minutos; 55 km em 5 horas e 11 minutos.

“Lembro que a nossa primeira corrida foi noturna, 10 quilômetros. Ali, vi que ele tinha gostado e defini que era isso que queria pra gente. Inclusive, a fisioterapeuta que cuidou do Matheus, disse que a corrida é como uma terapia pra ele”, explica Rafael.

A inspiração

O projeto “Correndo por eles”, no Rio de Janeiro, foi a inspiração para o Rafael pegar o Matheus e sair correndo por aí. Sempre com aquela força de muita gente que se identifica com a história da dupla.

“Conheci o projeto através da televisão. vi que era isso queria pra minha vida. Mantive contato com o pessoal, contei a nossa história e eles vieram do Rio de Janeiro e trouxeram o triciclo. Depois disso ganhamos outro triciclo de um cara chamado Rodolfo e sempre contamos com a ajuda de muita gente. Me perguntam se eu ganho dinheiro correndo. Respondo que ganho amigos”, disse Rafael, que ainda trabalha como motorista em uma transportadora.

Segue o corre

Por causa da idade, o Matheus já recebeu alta do seu tratamento no CRER – Centro de Reabilitação Governador Henrique Santillo. O Rafael reconhece como foi importante conhecer o local e as pessoas que ajudaram demais no desenvolvimento do filho. Claro que o Matheus tem suas limitações, mas frequenta escola, brinca com a irmãzinha e curte as corridas com o pai, a mãe e os amigos.

Correndo pelo Matheus, a vida segue. Correndo pelo Matheus, Rafael e sua família inspiram os outros. E por mais que as dificuldades falem mais alto em vários momentos, com a cansativa rotina do pai e trabalhador, ficar parado não é uma opção.

“As vezes dá vontade de parar. Não vou mentir. Mas sempre recebo mensagens de pessoas que demonstram e reconhecem o que faço pelo Matheus. Então vejo que estamos no caminho certo.

Que as corridas nunca acabem para o Matheus e o Rafael!!!!

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