Choveu em agosto, mas apesar de serem chuvas esporádicas no período seco, houve quedas de energia em vários bairros de Goiânia durante as precipitações. Entretanto, André Amorim, gerente do Centro de Informações Meteorológicas e Hidrológicas de Goiás (Cimehgo), afirmou que a relação entre os fenômenos não é direta e que o problema não deveria ocorrer.

“O certo é que não era para acontecer problemas com falta de energia no sentido da chuva provocar algum problema, mas como está ocorrendo essa situação, é preciso separar essa questão, porque não é a chuva que provoca a falta de energia. Então, assim, alguns problemas no sistema elétrico é que estão suscetíveis à questão das chuvas, mas a gente não relaciona uma coisa com a outra de uma maneira muito direta”, explicou Amorim.

O gerente do Cimehgo avaliou que as chuvas causam danos que fragilizam o sistema elétrico, como é o caso das quedas de árvores nos fios da rede elétrica da cidade. Porém, ele ressalta a necessidade de avaliar sempre a causa das quedas de energia durante as chuvas.

“Com certeza a gente tem uma situação favorável a problemas de distribuição de energia elétrica, mas tem situações que acontecem que às vezes nem choveu ou a chuva é muito fraquinha e a energia cai, então temos que fazer essa avaliação”, contou.

Precipitações com risco elevado

Chuva em Goiânia (Foto: Johann Germano/Sagres Online)
Chuva em Goiânia (Foto: Johann Germano/Sagres Online)

André Amorim indica a manutenção prévia do sistema elétrico na distribuição de energia aos municípios antes do período chuvoso começar de forma definitiva para evitar os problemas. O profissional da área meteorológica pontuou que as chuvas que estão acontecendo no momento são esporádicas.

“As chuvas que estão ocorrendo agora estão fora um pouquinho do tempo, então não é o período chuvoso. Mas elas têm um potencial de risco mais elevado porque nós temos calor e nós temos umidade. E então a formação de sistemas convectivos, que são sistemas que se formam muito rapidamente, daí cai muita chuva ou se não cai muita chuva tem muita rajada de vento como naquele episódio do autódromo, com rajada de vento  de 75 km/h, o que causa problemas”, destacou.

O vento é assim um dos problemas das chuvas associada às quedas frequentes de energia quando ocorrem as precipitações. Mas para André Amorim não deveria haver queda de energia quando chove e o problema pode ser evitado.

“Quando faz-se a poda das árvores há uma estratégia para evitar que nós tenhamos essas quedas rotineiras de energia. Então, assim, não vou falar que é 100% evitável, mas você pode minimizar  isso aí num grande grau”, afirmou.

Chuvas em agosto

Várias cidades goianas registraram precipitações em agosto, o que para muitas pessoas não é algo comum de acontecer no estado. Notadamente, sabe-se que Goiás possui duas estações predominantemente características em seu clima: o período da seca de maio a setembro e o chuvoso de outubro a abril.

Mas, apesar da estranheza dos goianos, Amorim disse que pelo ciclo de anos, não é estranho chover no mês de agosto no estado. “Chove no mês de agosto, a climatologia fala pra gente que pode chover. O problema é que estamos tendo um ciclo um pouco mais seco. Então não são todos os meses de agosto que chove e assim traz realmente essa situação de espanto ou de ficar sem entender porque choveu no mês de agosto”, contou.

Para ressaltar que é normal que em alguns anos ocorram precipitações em Goiás no mês de agosto, que integra o período da seca, o gerente do Cimehgo destaca um gráfico que marca o volume de chuvas para o mês entre 1961 e 2023. 

Fonte: Centro de Informações Meteorológicas e Hidrológicas de Goiás

A série histórica mostra que em 28 anos do período não choveu em agosto, inclusive em 2022. No entanto, há anos em que o estado registrou volume significativo de precipitações, como em 1986 com 73,9mm, em 2001 choveu 51,5mm e este ano com o registro de pelo menos 28mm.

Influência do El Niño

Já era de conhecimento do Cimehgo que o El Niño provoca irregularidades nas chuvas em Goiás. Em entrevista à Sagres em junho deste ano, André Amorim havia dito que  “Nós podemos ter sim chuvas neste período de estiagem, mas nada muda, ele continua sendo um período de estiagem normal”.

O gerente do centro de meteorologia destacou novamente que o clima do estado varia com a interferência dos fenômenos. “Depende dos fenômenos que estão atuando porque nós tivemos três anos de La Niña e agora temos um ano de El Niño. O El Niño favorece essa subida de frentes frias que podem influenciar aqui no estado de Goiás. Então, assim, há toda uma correlação dentro desse contexto”, disse.

Gerente do Centro de Informações Meteorológicas e Hidrológicas de Goiás (Cimehgo), André Amorim
Gerente do Centro de Informações Meteorológicas e Hidrológicas de Goiás (Cimehgo), André Amorim

Além das irregularidades nas chuvas, a presença do El Niño aumenta a iminência de precipitações no formato de tempestades. Amorim explicou que o fenômeno ocorre com “aquele pacotão todo de transtornos”, as conhecidas tempestades, rajadas de vento e raios.

“Nós tivemos uma onda de calor, mas isso era aguardado porque o El Niño favorece essa situação de ondas de calor que não atingem somente Goiás, mas uma grande parte do Brasil. E um perigo que sempre me traz preocupação em época de El Niño é que chove em uma semana e depois na outra semana para, e chove e para, e vem tempestade”, analisou.

Cuidados

As chuvas irregulares provocam a preocupação com o risco de tempestades rajadas de ventos, chuvas de granizo e raios nas descargas atmosféricas nesse ciclo chuvoso do estado. O gerente do  Cimehgo destacou que as pessoas precisam ter cuidados com todos os fenômenos.

“Na iminência de uma tempestade procure um local seguro, não vá enfrentar não porque pode ter sim consequências graves. Quando eu falo de fenômenos, o El Niño vai trazer irregularidades nas chuvas, então é importante as pessoas estarem super atentas a respeito dessa situação”.

Setembro com chuvas

Ademais, Amorim pontuou que apesar do fenômeno El Niño o volume de chuvas em Goiás no mês de agosto está dentro do esperado. “Nós temos um modelo climático que projeta o tempo em seis meses. Lógico que a avaliação das condições do tempo são variáveis muito complexas porque a teoria do tempo é caótica. O que fazemos é uma análise temporal dos dias atuais e projetamos com uma perturbação no futuro”.

A perturbação, explicou Amorim, é uma situação de previsibilidade de horas, dias e meses que se transformam em previsão e tendências. E desta forma, de acordo com a tendência, as chuvas  em agosto eram sim esperadas pelo serviço de metrologia do estado, apesar do período ser seco.

“Estávamos esperando, assim como estamos esperando para setembro também. Mas ainda não é o começo do período chuvoso, então o produtor rural se acalma que não tem nada que sair plantando. Calma que temos que esperar as chuvas se consolidarem e ter umidade no solo, não adianta passar o carro na frente dos bois”, finalizou André.

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