Mineiro de Monte Alegre, Cleobaldo chegou em Goiânia nos primeiros anos da nossa capital. Fez da cidade a sua base para ajudar (e como) as pessoas que precisam. Nunca parou! Depois de um tempo, passou a ser conhecido como Tio Cleobaldo, aquele que mata a fome das pessoas nas ruas da Capital.

“Mudei para Goiânia em 1970, quando trouxemos a minha mãe para se tratar no Hospital do Câncer. Há mais de 50 anos, Goiânia estava crescendo muito e vinha muita gente de São Paulo, Rio de Janeiro, do Brasil inteiro, comprava fazendas e tirava aquele povo pobre das propriedades e “jogava” aqui em Goiânia, ali perto da ferroviária, na antiga estação de ferro, então foi ali que comecei a conviver com a pobreza, levava pão pra eles, ajudava com registros, material escolar e outras coisas”, lembra Tio Cleobaldo, que seguiu o exemplo dos seus pais para nunca deixar de “estender a mão”.

Foto: Instagram Tio Cleobaldo

Hospital do Câncer

A história do Tio Cleobaldo, que hoje comanda uma Associação que promove mudança social através da segurança alimentar, educação, cultura, saúde, capacitação e assistência social, começou no Hospital do Câncer, infelizmente durante o tratamento de sua mãe, que lutou contra a doença por 12 anos. A família morava em Uberaba, escolheu vir para Goiânia por causa do Hospital do Câncer, referência naquela época. Na enfermaria, rodeado de mulheres doentes, famílias aflitas, foi que Cleobaldo se deparou com os primeiros atos de solidariedade.

“Morria alguma companheira da minha mãe, a gente sentia muito. A mamãe ficava na enfermaria e ajudava as outras mulheres, ensinando a fazer flores e depois ajudando a vender, arrumar um dinheirinho e mandar para os filhos que viviam em extrema pobreza. Com isso, quando minha mãe faleceu, a gente já conhecia bem a pobreza das pessoas, com filhos órfãos. Eu ajudava a tirar registros daquele povo”, recorda Tio Cleobaldo, que também tem boas lembranças do seu pai, que foi mestre de obras e ajudou e ensinou muita gente na construção civil.

HIV e COVID

A pandemia de Covid-19 que começou em 2020 e teve seu auge em 2021, não foi o primeiro período de aflição que o Tio Cleobaldo acompanhou de perto. Na década de 80, com o aparecimento da AIDS, enfrentou o desconhecimento sobre a doença para ajudar as pessoas contaminadas.

“Na época do vírus da AIDS foi uma discriminação violenta. Até hoje eu ajudo pessoas que foram discriminadas, pais e filhos, que levo em psicólogos, tentando ajudar para melhorar”, destaca Cleobaldo, que durante a pandemia da Covid-19, contraiu o vírus

“Fiquei 19 dias na UTI e escapei”, resumiu o Tio, que enquanto esteve internado, contou com o trabalho de outros integrantes da Associação para dar continuidade ao trabalho juntos aos vulneráveis nas ruas.

“Foram tantas orações, em tantas igrejas, diferentes religiões. Ele não foi entubado e voltou. Todo mundo parou por causa da COVID, ficou em suas casas, mas nós não desistimos. Éramos 12, mesmo sem o Tio Cleobaldo, continuamos ajudando as pessoas nas ruas”, diz Maylla Lopes, assistente social, que trabalha com o Tio Cleobaldo há mais de 10 anos.

Nas ruas

Mulheres, homens, crianças, pessoas de todas as idades, em todas as regiões de Goiânia, são ajudadas pela equipe do Tio Cleobaldo. A Associação também conta com advogados voluntários, psicólogos e médicos. Faz requerimento de certidões, RG e tem um projeto educacional. Tudo de graça. E é na distribuição de alimentos (cestas básicas e marmitas), que a condição humana e a necessidade dos vulneráveis são escancaradas.

Foto: Instagram Associação Tio Cleobaldo

“Se uma pessoa ganha um salário, paga aluguel, água e luz, ela tem uma programação de usar um botijão de gás durante um mês. Então, se ela resolver cozinhar um feijão, o botijão não dura, aí devolvem. Alguns são bem sinceros e pedem pra gente dar pra outra pessoa”, explica Tio Cleobaldo, que faz questão de deixar claro que ainda “coloca a mão na massa” na hora de produzir os alimentos. Aliás, são mais de 30 mil refeições mensais.

“Quem quer, faz. Quem não quer, manda. Assim trabalhamos. Temos uma turma boa, somos mais de 50 voluntários. Nós acreditamos e eu acredito na melhora do ser humano”, completa o Tio que “mata a fome”.

E a saga do Tio Cleobaldo com sua turma segue pelas ruas de Goiânia. “As pessoas têm ele como um pai. O Tio Cleobaldo nos ensina e ver as pessoas de forma diferente”, define Maylla Lopes.

“Tem muitas maneiras de ajudar, com a caridade moral, uma palavra amiga, um sorriso, dando atenção para as pessoas”, finaliza Tio Cleobaldo.

*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU): ODS 1 – Erradicação da pobreza; ODS 3 – Saúde e bem-estar; ODS 10 – Redução das desigualdades.

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