“Quem não tem cão caça com gato. Pra mim é tudo natural”.

A frase acima é de Kathrein Moura, que nasceu com uma deficiência congênita completa dos membros superiores. Sem os braços, supera barreiras diárias. No entanto, nada de lamentações. Em suas redes sociais, onde têm milhões de seguidores, ela mostra sua rotina sem deixar a “leveza” de lado.

“Postei um vídeo no Tik Tok, que viralizou. Eu estava cozinhando e muitos acharam interessante”, disse Kathrein, que é palestrante e influencer digital, além de formada em direito e pós-graduada em segurança pública.

As tantas histórias contadas pela Kathrein, os inúmeros exemplos de tarefas diárias em casa e no trabalho, estão todos registrados na internet.

“A internet pra mim é algo profissional, que rende mais do que meu trabalho diário. É um trabalho que levo muito a sério, não só pelo lado financeiro, mas também pelo retorno que recebo das pessoas. Costumo dizer que sou uma psicóloga sem diploma”, complementa Kathrein Moura.

Habilitação

Funcionária pública, Kathrein mora em Anápolis (GO). É casada com o motorista Luiz Carlos Pereira e cheia de histórias pra contar. Inspiradora, ela digita, cozinha e até mesmo dirige. Faz tudo com o pés. Aliás, obter a carteira de habilitação teve um gostinho especial.

Kathrein e o marido Luiz Carlos

“Sempre tive esse sonho de dirigir. Para a pessoa com deficiência, não é só uma questão de liberdade. Pra mim era uma questão muito importante, uma sonho de infância. Eu não tinha encontrado uma autoescola adequada, até que encontrei uma em Goiânia, com a “cabeça aberta” e o pessoal me acolheu muito bem”, disse Kathrein, que deu mais detalhes de como foi para tirar a habilitação.

“Passei por uma junta médica e uma outra técnica. O carro deve ser automático e direção elétrica. Simples assim. Um pé vai no volante e outro embaixo. Não precisa de adaptações. Nunca errei nenhuma baliza desde quando comecei a dirigir. Passei na prova de primeira”.

A família

Kathrein tem 32 anos (brinca e não se importa em revelar a idade) e ainda não tem filhos, mas faz questão de dizer que é mãe de sete cachorrinhos e outros bichos. Na família e em pessoas dispostas a ajuda-la, encontrou a segurança para se desenvolver.

“Sempre estudei no SESI, em Anápolis, e a escola sempre se adequou muito bem às minhas necessidades. A adolescência, com os hormônios aflorados, já foi um pouco mais conturbada, mas sempre tive a família do meu lado”, lembra a influenciadora, que fez um alerta sobre como algumas famílias “isolam” seus filhos com deficiência.

“O papel da família é muito importante na evolução, no entendimento, na descoberta de como fazer as coisas dentro de casa, como fui descobrir como eu iria fazer tudo com os pés. Então, tive aquele espaço que os pais devem dar para a pessoa com deficiência se auto descobrir. Infelizmente tem pessoas que criam o filho com deficiência dentro de uma bolha, de uma redoma, e isso é muito prejudicial para o desenvolvimento e descoberta das habilidades”.

Preconceito

Sem fugir da dura realidade que atinge cerca de 25% da população brasileira que têm algum tipo de deficiência, Kathrein não esconde que sofreu com preconceito.

“Quando comecei a estudar, sempre teve o preconceito, com nomenclaturas incorretas, mas nunca mexeu comigo. A maneira como essas pessoas reagem com quem tem deficiência, diz mais respeito a elas do que a mim”, define Kathrein, que ainda observa que as pessoas com deficiência são mais exigidas em sua formação.

“Sempre falo que a pessoa com deficiência amadurece mais rápido do que as outras crianças e outros adolescentes, porque nós passamos por mais situações adversas do que uma criança normal. Os episódios preconceituosos diminuíram muito hoje em dia, mas ainda tem e passo por alguns”.

Aceitação

Com os vídeos nas redes sociais e seu alto-astral, Kathrein Moura tem a consciência de que ajudas pessoas com deficiência. No entanto, se aceitar é o passo mais importante para uma vida “menos complicada”.

“A primeira coisa é se aceitar como uma pessoa com deficiência. Pessoas que nasceram com deficiência ou que se tornaram deficientes ao longo da vida, o primeiro ponto é que elas não se aceitam. Participo de um grupo com mais quatro moças que têm a mesma deficiência que a minha. Vejo que três delas tem o meu perfil, uma outra é mais retraída. Estou tentando motiva-la pra que ela mude”, revela a servidora pública, que reiterou como é importante encarar a realidade.

“A partir do momento que pessoa se aceita, ela está no caminho para superar as adversidades que a vida impõe. São muitos, todos os dias. Temos que descontruir todo essa processo de preconceito e vitimização”.

Inspiração

A Kathrein foi uma das convidadas do programa “Inspiração”. Uma criação do Sistema Sagres de Comunicação e abre espaço para personagens que sempre têm uma história legal e inspiradora para contar. Clique no link e veja como foi o bate-papo.

*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), na Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU): ODS 10 – Redução das Desigualdades.

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