Aproximadamente 14% das denúncias de violência contra crianças e adolescentes registradas em 2023 são crimes sexuais. Foram 9.580 denúncias até 30 de abril, de acordo com dados da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos, o Disque 100. De acordo com especialistas, os números só mostram o que ficou “silenciado” durante os período de pandemia.
“Tudo indica que a pandemia agravou e muito a situação. O que temos visto é que, após a retomada das aulas presenciais, os números vêm crescendo”, analisa a responsável pelo Programa Defenda-se, do Centro Marista de Defesa da Infância, Cecília Landarin Heleno.
Diante dos dados apresentados, o ambiente escolar tornou-se ser um espaço de convivência e formação de vínculos importante para combate ao aumento da violência contra crianças e adolescentes. Por isso as escolas precisam de profissionais preparados para acolher a revelação espontânea dos agredidos.
“Essas são situações que mostram o quanto um ambiente acolhedor pode favorecer a denúncia. Os dados do 16º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, publicado em 2022, demonstram que, em 82,5% dos casos, os agressores são conhecidos da criança ou da família e, é nessa hora que a escola acaba se tornando o local escolhido para a denúncia”, completa Cecília.
Protocolos
Para que a comunidade saiba como lidar com os relatos, o programa Defenda-se desenvolveu uma plataforma com perguntas e respostas sobre o que se deve saber antes, durante e depois da revelação espontânea. Voltada para a formação de educadores, o objetivo da iniciativa é orientar como identificar, acolher e encaminhar a situação. O interessados podem acessar o site da campanha (defenda-se.com) como apoio para a preparação de qualquer pessoa ao receber uma revelação espontânea.
“Profissionais de espaços educativos podem acessar, mas é útil para todos, já que uma criança pode escolher qualquer pessoa para receber um relato de violência”, acrescenta Cecília.
Cicatrizes da pandemia
Os dados da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos (Disque 100) mostram um crescimento nas denúncias de violência sexual contra crianças e adolescentes. De janeiro a abril de 2023, foram registradas 9.580 denúncias. Comparando com o mesmo período do ano anterior, em que foram registradas 6.447 denúncias, o aumento foi de 48,6%.

Dos casos denunciados nos quatro primeiros meses de 2023, 1.724 indicavam como local do abuso a casa da vítima. Já 4.029, apontavam para a casa onde mora a vítima e o suspeito. O ambiente virtual também é cenário para as agressões com 763 denúncias .
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