O presidente Jair Bolsonaro (PL) entra no último ano de seu atual governo com a missão de angariar apoio e ampliar o seu eleitorado em busca da reeleição. O primeiro Debate Super Sábado de 2022 avalia exatamente qual postura o mandatário deve adotar e faz uma comparação com os primeiros dias de gestão em 2019. Assista a seguir

Para a professora de Ciência Política da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e coordenadora do Laboratório de Partidos, Eleições e Política Comparada, Mayra Goulart, Jair Bolsonaro tem se mostrado, a partir de seus discursos e ações, um político consistente, com traços que carrega desde os tempos de deputado federal.

“Bolsonaro é consistente, ele não fez estelionato eleitoral. Quem votou nele, por ele, são pessoas que têm um conjunto de valor com certa consistência e que a gente pode colocar no espectro ideológico como sendo de extrema direita ou um conservadorismo ideológico bem radical”, analisa.

Militares

Capitão reformado do Exército, Bolsonaro se manteve como um defensor da classe militar na política, seja como parlamentar, seja como Presidente da República.

“Em um primeiro momento ele aparece como um corporativista dos militares, lutando por um melhor plano de carreira, melhores aposentadorias para os militares, coisa que ele fez também no governo quando tira os militares da Reforma da Previdência. A gente observa uma ponte entre o início da sua carreira no Legislativo e o seu governo”, contextualiza.

O também cientista político e professor da Universidade Federal de Goiás (UFG), Frank Tavares, avalia que o governo de Jair Bolsonaro manteve sanções a princípios fundamentais em uma democracia como a liberdade de imprensa e o provimento de políticas públicas, bem como frequentes ataques a instituições democráticas como o Supremo Tribunal Federal.

“Não tem liberdade de expressão suficiente, não tem instituições participativas suficientes, eles ainda dizem que há integridade eleitoral no Brasil, o que nas minhas próprias publicações eu divirjo por uma série de razões. O Brasil é cada vez menos respeitoso com relação às liberdades civis. O custo de se fazer oposição no Brasil é muito alto, as potencialidades repressivas são muito altas, a circulação da informação é obstruída. Hoje, nosso país, do ponto de vista de liberdade de imprensa, nos mesmos índices internacionais, já é classificado como não livre. Não temos, portanto, direitos civis suficientes para um ambiente democrático”, analisa Tavares.

Auxílio Brasil

Para a professora Mayra Goulart, 2022 será o ano em que o presidente tentará manter os acenos à parcela mais econômica e socialmente vulneráveis da população, com vem fazendo desde o fim do ano passado com o Auxílio Brasil, programa social que substituiu o Bolsa Família.

“Discurso e projetos de lei do Bolsonaro enquanto congressista não dão sinalizações às classes populares, e é esse o elemento que ele tenta agora, na reta final do seu governo, reverter com o programa de Auxílio Brasil, tentando de alguma maneira dar algum aceno para as classes populares, exatamente vendo nelas um gargalo”, afirma Goulart.

Moderação

Apesar do aceno, o cientista político e doutor em Ciências Sociais pela Universidade de Brasília (UnB) e professor da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO), Pedro Pietrafesa, acredita que Bolsonaro pouco mudará a postura em relação ao que já veio demonstrando nos anos anteriores, principalmente durante a pandemia de Covid-19. Para o especialista, não há expectativa de moderação no tom do presidente.

“Eu não espero que ele vá moderar por conta das eleições de 2022 e por conta do seu desempenho nas pesquisas eleitorais que está bastante aquém de um candidato que está concorrendo à reeleição, mas por conta de como ele construiu seu mandato, como foi seu desempenho na pandemia, que foi um desempenho sofrível, em que teve uma piora bastante acentuada das condições de vida da população brasileira. As eleições de 2020 já direcionaram um pouco como que seria o comportamento eleitoral”, avalia Pietrafesa.

Pedro Pietrafesa, Mayra Goulart e Frank Tavares no Debate Super Sábado (Foto: Sagres TV)