Nesta semana, o presidente Donald Trump reiterou a saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris, justificando a decisão com seu ceticismo em relação às mudanças climáticas e destacando o foco na expansão do uso de combustíveis fósseis. Para Trump, o pacto internacional impõe perdas econômicas significativas aos EUA, enquanto outros países, como a China, supostamente continuariam emitindo poluentes sem sofrer as mesmas penalidades.
Segundo Pedro Luiz Côrtes, professor da Escola de Comunicações e Artes (ECA) e do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da USP, a fala do presidente norte-americano toca em pontos-chave do Acordo de Paris, que é baseado em compromissos voluntários para a redução de emissões de gases de efeito estufa. “Trump argumenta que a China polui muito, mas a poluição não fica restrita ao território chinês. Ele ignora, no entanto, que os EUA também são um dos maiores emissores per capita do mundo, e suas emissões têm impacto global”, explica o docente.
Acordo de Paris
O Acordo de Paris, assinado em 2015, não estipula penalidades financeiras, mas incentiva os países a apresentarem metas próprias de redução de emissões. Para Côrtes, a decisão de Trump reflete uma retórica alinhada a interesses da indústria de petróleo, gás e carvão, setores que desempenharam papel crucial em sua campanha política. Ele argumenta que o termo “carvão limpo”, usado por Trump, é um exemplo de greenwashing, ou seja, uma tentativa de mascarar práticas ambientalmente prejudiciais como se fossem sustentáveis.
A saída do Acordo também pode impactar os esforços globais para combater as mudanças climáticas e a representatividade da COP30, que será realizada no Brasil. Segundo o professor, embora a ausência dos EUA seja preocupante, a importância da Amazônia como bioma global deve atrair um número significativo de países e delegações. “O desafio será garantir a presença de chefes de Estado, especialmente da China, que tem investido fortemente em tecnologias de transição energética”, afirmou.
Setor energético
Além disso, Côrtes ressalta que a decisão pode prejudicar a competitividade da indústria americana em setores estratégicos como energia limpa e tecnologia. Ele afirma que, sem incentivos para a transição energética, os EUA correm o risco de ficarem tecnologicamente atrasados, enquanto países como China e membros da União Europeia avançam em energia solar, eólica e carros elétricos.
De acordo com o especialista, a retirada do acordo reforça a dependência americana de combustíveis fósseis, enquanto outros países desenvolvem soluções sustentáveis. A China, por exemplo, percebeu que os veículos elétricos representavam uma oportunidade de liderar o mercado automobilístico e reduzir suas próprias emissões, conforme enfatiza o docente.
Competitividade
Apesar da decisão federal, há resistência dentro dos EUA. Estados como a Califórnia, seguidos por outras 15 unidades federativas, adotam regulamentações ambientais rigorosas. Esses Estados, que representam um terço da população americana e são majoritariamente governados por democratas, continuam promovendo a redução de emissões.
Conforme Pedro Luiz Côrtes, a posição de Trump pode beneficiar economicamente, a curto prazo, as indústrias de petróleo e gás. Contudo, ele alerta para as perdas a longo prazo e conta que a decisão afeta a credibilidade dos EUA em esforços multilaterais contra a crise climática. “Sem investimentos em inovação, a indústria americana pode perder competitividade global, especialmente em tecnologias de energia limpa. Embora Trump justifique a saída como uma forma de proteger a economia, ela enfraquece os esforços globais e dificulta a transição para um modelo sustentável no próprio país”, avalia.
*Este conteúdo segue os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), da Agenda 2030, da Organização das Nações Unidas (ONU). Nesta matéria, o ODS 13 – Ação Global Contra a Mudanças Climática.
*Texto de Julio Silva para o Jornal da USP
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