Desde pequenos, aprendemos que o Brasil não é apenas gigante em extensão territorial, como também é rico e diverso em recursos naturais. Planícies férteis, um dos solos mais ricos do planeta em minérios, mar produtivo, diversidade de climas e paisagens, o bioma do Cerrado e a bacia amazônica são alguns dos atributos.

A difusão da cultura de que a abundância de recursos naturais nos faz uma nação potencialmente rica nos fez ancorar expectativas na promoção de políticas públicas que incentivaram o Brasil a virar uma das maiores potências do agronegócio. E como um país que bate recorde de exportações de soja, milho, carnes, frutas e legumes vive ao mesmo tempo inflação recorde, recessão, desemprego e por consequência aumento exponencial da pobreza?

Explico: A riqueza é medida pelo valor da renda gerada por um ativo ao longo do tempo. Não à toa se fala em “maldição dos recursos naturais” para se referir ao impacto negativo que a superabundância destes tem sobre os países que deles dependem, justamente a partir de políticas que priorizam o extrativismo em detrimento da geração de cadeias de valor.

Para que um recurso natural se transforme em riqueza, é preciso intervir e transformá-lo com o seu trabalho. Se a riqueza dos países for analisada considerando o capital natural e produzido, o bem mais importante nos países mais desenvolvidos é o capital humano e nos países de baixa renda é o capital natural.

Ao despencar 8% no 3o trimestre deste 2021 confuso, o agronegócio foi o responsável principal pela retração do PIB em -0,1% no período. Porém o agro é a base que sustenta o país e, num momento de crise e aumento do valor das commodities, foi esse mercado que amorteceu um impacto mais profundo na economia brasileira.

A industrialização, ou seja, principalmente a transformação das nossas produções agropecuárias, é o único caminho para a geração de novos empregos e por consequência, crescimento econômico em uma sociedade que busque crescimento sustentável.

Precisamos trazer temas como o desenvolvimento industrial responsável ambientalmente para o campo da racionalidade. A indústria, quando se estabelece, cumpre o papel de comprar suprimentos para a produção, serviços que garantam seu funcionamento e por consequência movimentam o comércio da sua região com o volume financeiro que coloca em circulação com seus funcionários e fornecedores, além de fornecer o produto final para o próprio comércio. Não interessa às indústrias a destruição do meio ambiente, e o mercado vem tratando com rigor as empresas o que agridem. O futuro não será amistoso com empresas irresponsáveis.

É preciso compreender que só com inteligência nós conseguiremos coexistir num planeta de recursos finitos, aplicando as ferramentas corretas. O desenvolvimento e o consumo caminharão de mãos dadas com um planeta menos agredido e mais saudável. É isso que o mundo disse através das vozes dos líderes que estiveram na COP26 e assinaram um novo e duro tratado de cooperação. Portanto, ser sustentável é moderno, é um diferencial que está cada vez mais na moda.

Nós do Livres, que defendemos a liberdade econômica e social, não abrimos mão do compromisso com o meio ambiente, pois liberdade é respeitar e cuidar não apenas do outro, mas do mundo onde vivemos. É impossível prosperarmos em uma sociedade onde as empresas não consideram os ecossistemas que destroem e que o capitalismo é incompatível com a conservação da natureza, assim como a proteção dos direitos de propriedade garanta que as externalidades ambientais sejam minimizadas. O pensamento é que os países mais livres, além de mais prósperos, sejam os que mais zelam pelo meio ambiente.

O Brasil, como é público, vem fazendo um trabalho errático na questão do meio ambiente, onde, apesar de alguns avanços, ainda esperamos um arcabouço menos hostil em relação a questões básicas como regras claras do jogo, políticas econômicas de curto prazo, menor carga burocrática e contencioso judicial, infraestrutura de qualidade, logística mais barata, etc.

Na COP26, em Glasgow, foi declarado que um trilhão de dólares por ano serão necessários para investimentos em projetos de mitigação e adaptação às mudanças climáticas em países em desenvolvimento. Para além das cifras que se comprometem, o aproveitamento destes fundos constituirá uma nova oportunidade – MAIS UMA – para o nosso país. A América Latina levou apenas 4% dos investimentos “verdes” em 2020, de acordo com dados do Global Sustainable Investment Market.

O país não deve depender apenas da ajuda externa. Além do que se pretende mitigar e se adaptar às mudanças climáticas, o mundo pós-COP 26 priorizará e demandará cada vez mais matérias-primas e produtos oriundos de processos ambiental e socialmente sustentáveis. A rastreabilidade e o investimento em tecnologia serão um imperativo para cumprir as novas e rígidas certificações ambientais. Para isso, é necessário implementar uma estratégia abrangente baseada nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, que buscam proteger o planeta, erradicar a pobreza e garantir a prosperidade para todos.

O meio ambiente utilizado com racionalidade é um setor estratégico para se inserir no mundo e alavancar o desenvolvimento social e econômico do Brasil.

Fomos dotados de recursos naturais muito valiosos que estamos desperdiçando. Integrar a sustentabilidade em nossa estratégia de desenvolvimento não deve ser uma opção, mas uma obrigação. O momento em que se aplicam políticas de transferência de renda, o governo federal perde uma grande oportunidade de condicionar a aprendizagem de carreiras técnicos, formando desocupados em novas profissões, tirando essas pessoas do ostracismo e dando-lhes uma oportunidade para o desenvolvimento livre, tornando nosso país um pouco melhor a partir de indivíduos preparados para um mundo ultra competitivo.

Bruno Netto do Espirito Santo é membro do movimento Livres em Goiás.