De acordo com o Plano Nacional de Educação (PNE), o Brasil deve, até 2024, viabilizar a oferta de Educação em tempo integral para no mínimo 50% das escolas públicas. Nesse sentido,deverá atender cerca de 25% dos alunos da Educação Básica.

A etapa envolve estudantes da Educação Infantil, Ensino Fundamental e por fim, estudantes do Ensino Médio.

Em suma, escolas de tempo integral significam mais tempo na sala de aula, visto que a modalidade pressupõe o aumento da carga horária obrigatória. Na capital goiana, segundo a Secretaria Municipal de Educação (SME), ao todo são 45 escolas de tempo integral.

Entre elas, está a Escola Municipal Professora Maria Nosídia Palmeiras das Neves que, desde 2010, trabalha com turmas do 1º ao 5º ano. Assim, a escola conta com quase 280 alunos matriculados.

Possibilidades

“O tempo integral traz mais oportunidades para a criança. A extensão de tempo possibilita que se trabalhe com o aluno diversas outras linguagens”, explica a atual diretora do colégio, Suelaine Alves.

De acordo com a pedagoga, a sua experiência com os anos iniciais da Educação Infantil demonstra que esse tipo de ensino possibilita um tipo de flexibilização com impacto direto na aprendizagem.

Atividades relacionadas às práticas de Letramento integram a rotina do Nucleo Diversificado na Escola Municipal (Foto: EM Professora Maria Nosidia Palmeiras das Neves)

“Nós trabalhamos letramento, numeramento, projetos e dentro deles, múltiplas aprendizagens de forma mais lúdica”, ressalta.

A escola municipal em que trabalha começou com suas atividades em 2009, e logo no ano seguinte, se transformou em uma escola de tempo integral. Para Suelaine, que trabalha na escola desde o início, a educação em tempo integral é o caminho que considera mais eficaz, principalmente pelo o que chama de “experiência diversificada”.

Rotina

Após tantos anos imersa nessa rotina, os horários, intervalos e sequência de atividades já são citados com facilidade pela diretora. Entre refeições, sonecas, aulas e projetos, está a organização que para ela, ainda que passível de melhoras, nasce a realidade que conduz os primeiros anos da vida escolar das quase 280 crianças espalhadas pelo seu pátio.

De forma resumida, ela explica a rotina da EM Professora Maria Nosídia Palmeiras das Neves, ou como prefere chamar, o dia a dia “do Maria Nosídia”:

  • 07h: Chegada dos alunos
  • 08h: Café da manhã
  • 11h: Almoço e atividades de higienização
  • 12h: Descanso e atividades de relaxamento
  • 13h25: Início do período vespertino
  • 16h15: Encerramento das atividades

“Não é fácil estudar o dia todo, pode ser cansativo, mas é um momento de ter acesso àquilo que a grande maioria não conheceria em outras condições”, reflete Suelaine Alves.

Novas Linguagens

Em Goiânia, as escolas municipais de tempo integral trabalham com o conceito de Núcleo Comum (NC) e Núcleo Diversificado (ND). O primeiro representa as disciplinas tradicionais alinhadas à Base Nacional Comum Curricular (BNCC), enquanto que a parte diversificada engloba projetos complementares, além de temáticas como letramento, tutoria, práticas de leitura e escrita, dentre outras atividades.

Nesse sentido, tanto o período matutino como o vespertino envolve atividades pertencentes aos dois núcleos, o que, segundo a diretora, expressa uma “abordagem mesclada”.

Mensalmente, a escola divulga jornal com resumo de atividades e projetos para os pais dos alunos (Foto: Arquivo/EM Professora Maria Nosídia Palmeiras das Neves)

“Nos projetos, as turmas não são fixas. Não é só primeiro ou só segundo ano. Então, às vezes tem projeto que tem alunos de mais de uma sala. Claro, procuramos priorizar as faixas etárias de um modo que não una alunos de idades muito distantes”, complementa.

Entre os projetos presentes na escola, estão o da horta, educação financeira, cidadania no trânsito, além de iniciativas que promovem conceitos como o da sustentabilidade, como é o caso do projeto de incentivo ao resíduo zero.

Desafios

“As famílias têm uma grande necessidade da escola em tempo integral, pelo fato de ser um lugar seguro para deixar os seus filhos durante todo o dia. Eles precisam trabalhar, isso é fato. Se a criança não está na escola de tempo integral, nem sempre ela terá essas oportunidades”, afirma a diretora.

Para ela, a expansão da carga horária pressupõe novos desafios, como a formação de professores e o investimento de recursos para a estrutura e organização das escolas, entretanto, enxerga no tempo integral uma via para reduzir desigualdades.
“O que é o grande responsável pelos bons resultados da escola em que trabalha?”, é a pergunta que Suelaine pensa para responder. Depois de um tempo, percebe que toda resposta possível envolve o que classifica como uma trabalho coletivo.

“Eu penso que é um conjunto de fatores, a escola depende de várias pessoas. Mas, acredito que começa com uma gestão democrática. Eu como diretora, sozinha, não consigo. Uma coordenação que trabalha de forma isolada também não. Então, é preciso haver uma gestão democrática e compartilhada”, define.

IDEB

Essa é uma sigla bem conhecida por professores e trabalhadores em Educação nas diferentes escolas do país, seja nas representantes da rede pública ou nas particulares. As quatro letras representam o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica.

Nesse sentido, o indicador sintetiza o desempenho dos alunos na prova aplicada pelo Sistema de Avaliação da Educação Básica, e os dados relacionados à aprovação escolar, fornecidos pelo Censo Escolar.

Na Prefeitura de Goiânia, a EM Maria Nosídia apresenta em seu histórico uma sequência de bons desempenhos no IDEB, que ainda representa a mais importante avaliação em ampla escala da Educação Básica no país.

“O resultado não é meu. E também não é apenas do professor ou do aluno, é nosso. Para que as coisas funcionem precisamos trabalhar juntos”, defende a diretora. Segundo ela, um dos pontos que explica o bom desempenho da unidade, é a atenção especial dada aos primeiros anos da escola, período em que é construída a alfabetização.

Comunidade

Além do trabalho articulado entre professores e gestores ligados à realidade da escola, uma outra instituição aparece como fundamental, nesse contexto, a familiar.

A chamada Cultura da Paz faz parte do programa de conteúdos trabalhados com alunos das turmas do 1º ao 5º ano na escola municipal (Foto: Arquivo/EM Professora Maria Nosídia Palmeiras das Neves)

“Sempre estivemos acima da média, então temos um respeito muito grande na comunidade. Então eu acho que isso favorece. Os pais buscam intensamente uma vaga em nossa escola, por dois motivos. Pelo fato de ser integral e pela escola ter a característica de ser uma escola responsável, acolhedora e onde a criança realmente aprende”, reflete.

Futuro

Ainda para Suelaine Alves, a carga horária ampliada permite que se crie mais vínculos com a criança e com as próprias famílias da comunidade.

“A família precisa participar desse espaço. Nós sempre trabalhamos nessa perspectiva de que a família esteja presente na escola”, explica a diretora.

De acordo com a diretora, não há como se pensar em ampliação das escolas em tempo integral sem a proposição de maiores investimentos, o que segundo ela, são válidos diante do potencial que o modelo representa, desde que com a oferta das condições necessárias.

“Existe muito a melhorar, mas eu vejo que é o melhor caminho para a educação”, afirma.

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