O ex-governador de Goiás Zé Éliton disse em entrevista à Sagres nesta quarta-feira (16) que está “perplexo” com a Operação Terra Fraca, desencadeada nesta terça-feira (15) com cumprimento de busca e apreensão em sua casa e em seu escritório de advocacia.

A perplexidade deve-se ao fato de o nome do ex-governador não ter sido citado uma única vez nas mais de 800 páginas do inquérito policial da Delegacia Estadual de Combate à Corrupção (Deccor) da Polícia Civil que investigou irregularidades na pavimentação asfáltica na GO-230, entre os anos de 2013 e 2018. “O que eu fiz? Não há nada no inquérito. É algo surreal”, disse.

Ouça a entrevista na íntegra:

O nome do vice-governador aparece apenas na medida cautelar da Deccor apresentada ao juiz Alessandro Pereira Pacheco, 2ª Vara dos Feitos Relativos a Delitos Praticados por Organização Criminosa e de Lavagem ou Ocultação de Bens, Direitos e Valores, quando o delegado pede autorização para busca e apreensão. O juiz autorizou 12 mandados de buscas. Os alvos foram 7 pessoas físicas e 7 pessoas jurídicas. Os mandados foram cumpridos contra 10 alvos em Goiás e dois no Tocantins.

“Eu tive a oportunidade de avaliar o inquérito policial como um todo e por isso estou absolutamente indignado e perplexo com essa operação. São mais de 800 páginas e não há uma referência a minha pessoa, direta ou indiretamente, em todo o processamento do inquérito policial. É algo que eu jamais observei na fase pré-processual de um procedimento de natureza investigativa (…). O que me deixa extremamente indignado é essa forma de buscar atingir pessoas. Ao meu ver isso é algo que viola direitos individuais e fundamentais”, afirmou José Eliton.

“Na cautelar a única referência que foi feita é aquela chamada Operação Decantação 2, com distorção de fatos e omissão de informações a autoridade judiciária. Naquele caso sequer fui ouvido como investigado, fui ouvido como declarante. Apresentei todas as informações às autoridades policiais naquele momento. Todos os objetos apreendidos naquele momento foram apreendidos com o laudo da Polícia Federal informando que não encontrou qualquer tipo de irregularidade. E tudo isso foi omitido na cautelar. Isso causa muita estranheza. Mas estou muito seguro e tranquilo em relação a isso. Vou lutar pelos meus direitos sempre”, conclui.

Vale ressaltar que são duas peças diferentes, uma é o inquérito policial, que é o documento que o delegado instaura sempre que vai fazer uma investigação. Esse inquérito tem mais de 800 páginas e apurou os possíveis crimes cometidos e as pessoas suspeitas de envolvimento. Esse inquérito é base de todos os outros procedimentos que vão ser adotados.

Neste inquérito, o nome de José Eliton não foi citado nenhuma vez como investigado ou suspeito de ter cometido alguma irregularidade. Entretanto, a partir deste inquérito, o delegado apresentou um documento ao juiz, que o ex-governador chamou de cautelar, para continuar a investigação a partir da busca e apreensão em casa de suspeitos. E é neste documento seguinte, que aparece o nome de José Eliton. Não citado e não investigado, ele aparece nessa cautelar.

O documento dessa cautelar, que foi encaminhado pelo delegado ao juiz, trás primeiro um resumo do que eles estão investigando no inquérito. O nome de Zé Eliton é citado apenas na página 72 de 267 páginas, que o documento possui. É quando o delegado começa a descrever que, supostamente, o tal núcleo financeiro da Operação Decantação 2 (desencadeada em 2019 pela Polícia Federal, como continuidade da Decantação 1, que foi em 2016 investigando irregularidades na Saneago).

Dessa forma, a Operação Terra Fraca investiga esse contrato de asfalto entre Mimoso e Água Fria. O delegado fez a apresentação para o juiz do caso da Terra Forte e na página 72 ele fala que foi visto que no inquérito da Polícia Federal o ex-governador José Eliton era do grupo político, que tomava decisões políticas na Decantação 2. Por conta disso, ele associa que o ex-governador também estaria na Terra Forte.

“É um absurdo total, ele sequer fez uma referência adequada àquilo que foi investigado na Decantação 2. É importante lembrar que a Decantação 1 já foi arquivada inclusive. Ele sequer teve a lealdade de informar ao juiz que eu não fui ouvido como investigado e sim como declarante. Então é impossível saber qual foi a motivação dessa situação completamente estranha. Naturalmente, isso será objeto das medidas que serão tomadas daqui para frente, para garantir os meus direitos. O que eu fiz? Não há nada no inquérito inteiro. É algo surreal,” afirmou o ex-governador.

Impacto político

O ex-governador declarou que uma operação conduzida dessa forma, naturalmente, causa um impacto político, tanto para ele, quanto para o partido. “mesmo porque a população nem sempre tem acesso ao processo”.

José Eliton reafirmou que há estranheza na operação e espera que não haja nenhuma motivação política. “Eu não tenho elementos que possam fundamentar isso. É claro que as coincidências ressaem aos olhos […] Assumo a presidência do PSDB e esse inquérito que vem tramitando sem qualquer referência a minha pessoa, de repente, tem uma cautelar com esse fato”.

Em nota, José Eliton reafirmou que seu nome não foi citado no inquérito e que “a autoridade policial do Estado, ao requerer a cautelar de busca e apreensão, faz referência unicamente a Operação Decantação 2”.