De acordo com dados do mais recente Mapa do Ensino Superior, o número de matrículas na modalidade EAD aumentou cerca de 19,7%. Dessa forma, diante do crescimento do cenário no país, especialistas e alunos destacam a flexibilidade do modelo como uma de suas principais vantagens.

Apesar do crescimento expressivo, a Educação à Distância permanece sendo alvo de debates por especialistas no país.

Em junho, a Câmara dos Deputados promoveu audiência pública para debater a formação de cursos da saúde na modalidade EAD.

Fenômeno

No Brasil, segundo o Mapa do Ensino Superior, houve um decréscimo de 5,5% de matrículas em cursos presenciais. A publicação apresenta ainda o percentual de matrículas na modalidade EAD em cada uma das cinco regiões brasileiras.

Nesse sentido, a região Sul é a que apresenta o percentual mais expressivo de matrículas na Educação à Distância. De acordo com o Mapa, cerca de 51% das matrículas totais na região estão inseridas no formato EAD.

“O fenômeno é pré-pandemia. Na rede privada, os ingressantes no EAD já eram maioria em 2019”, explica Benhur Etelberto Gaio, reitor do Centro Universitário Internacional UNINTER e PhD em Educação à Distância.

Segundo ele, o aumento do número de matrículas no EAD deriva de uma série de fatores. Entre eles, da série de processos estabelecidos pelo Ministério da Educação que credenciou, em 2019, a oferta de cursos na modalidade.

“O aumento não se deve não apenas a maior demanda por procura, mas também pelo aumento de instituições e dos polos de apoio presencial”, avalia Gaio.

Flexibilidade

Menos tempo de deslocamento, horários mais flexíveis e possibilidade de conciliar com outras responsabilidades. Esses são alguns exemplos de justificativas trazidas por estudantes que optam pelo estudo nos moldes da Educação à Distância.

“Pesquisei bastante pelas faculdades que ofereciam o curso e optei pelo EAD simplesmente porque é uma grade muito mais maleável. Você não precisa se locomover até uma faculdade e não tem horários fixos”, afirma João Pedro Cicatelli.

Atualmente em Goiânia, ele possui graduação completa em Biologia, feita de modo presencial. Porém, para complementar a formação, optou cursar Engenharia Ambiental em faculdade privada, no formato EAD.

“’Tive receios porque ainda é uma modalidade pouco conhecida. Existem várias faculdades que oferecem diversas modalidades, então tive que procurar bastante uma que tivesse uma boa nota no MEC. Olhei sites específicos de reclamações, o que falavam sobre os professores, qualidade de atendimento e material disponibilizado”, explica.

Segundo ele, não seria possível conciliar os deveres na família e a rotina do trabalho com as atividades da graduação no caso de uma rotina presencial.

“A população está sendo beneficiada porque os adultos, como pessoas com família e que já estão trabalhando, estão retomando a sua formação. A EAD veio qualificar pessoas que não tinham a qualificação necessária para o exercício profissional ou que precisam de um título profissional para o seu crescimento”, explica o reitor da faculdade paranaense.

Acesso

De 2018 a 2023, o número de polos de Educação à Distância saltou 223% na rede privada e 70% na rede pública. Para o Ministério da Educação, o polo de Educação à Distância é o local credenciado, com estrutura física no Brasil ou no exterior.

Assim, o polo está apto a receber estudantes para atividades pedagógicas e administrativas relativas ao seu curso. Além disso, é possível que nos polos existam bibliotecas, laboratórios e salas para provas e avaliações.

“As instituições querem continuar crescendo e ampliando a sua rede para estarem em mais locais. É uma questão de oportunizar que pessoas em municípios menores possam fazer seus cursos superiores”, avalia o reitor.

Para ele, é essencial que esse crescimento exponencial seja acompanhado pelo Ministério da Educação (MEC). Assim, uma alternativa é estabelecer critérios rígidos de avaliação e monitoramento contínuo, especialmente para cursos da área da saúde, como Enfermagem, Odontologia, Fisioterapia, entre outros.

“Muitas pessoas estão impossibilitadas de frequentar uma sala de aula cinco noites por semana. Muitas vezes, o próprio valor da mensalidade é muito mais acessível na modalidade à distância”, analisa.

Cuidados

Apesar do caráter flexível e mais acessível para alguns públicos, é importante destacar condições que podem comprometer a qualidade do ensino oferecido. É o que reforça a estudante e professora de formação na Universidade de Brasília (UNB), Roberta Assunção. 

Após concluir sua primeira graduação no início dos anos 2000, em Administração e de modo presencial, Roberta investiu em uma série de formações posteriores. A mais recente em Pedagogia, dessa vez, no formato remoto. Além disso, ela também concluiu especialização em Educação à Distância.

Embora se considere uma “defensora do ensino EAD”, a professora destaca que grande parte das instituições de ensino não exploram as potencialidades dos recursos disponíveis.

”Eu sou defensora do EAD, eu tive a oportunidade de trabalhar com pessoas que promovem pesquisas nessa área. Vemos hoje que muitas faculdades particulares não utilizam ou utilizam muito pouco dos recursos”, sinaliza.

Diante disso, ela complementa que é importante que o aluno reconheça o seu perfil de estudos e que procure uma instituição que ofereça suporte e boas avaliações pelo Ministério da Educação (MEC). Segundo ela, é preciso considerar critérios como planejamento, estruturação do curso e a equipe multidisciplinar.

Avaliação

“As pessoas optam pelo EAD por uma questão de encurtar barreiras, por não ter acesso a uma universidade ou falta de tempo. Esses estudantes geralmente trabalham de 40 a 44 horas semanais”, afirma Roberta. 

No quesito avaliação, o Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade) aparece como um dos principais instrumentos usados como base no país. Em geral, especialistas indicam que estudantes pesquisem pelas notas obtidas pelas faculdades, tanto para cursos disponíveis em instituições públicas, como nas IES privadas.

“O MEC deve estabelecer regras muito claras sobre o processo da qualidade. Existem avaliações como o ENADE, em que um curso com avaliação ruim pode ter sua oferta descontinuada. Bem como as avaliações para efeitos de reconhecimento”, explica o reitor Benhur Etelberto Gaio.

Segundo ele, em cursos que exigem que parte da formação seja de modo presencial, é imprescindível que as instituições adotem métodos rígidos de acompanhamento e avaliação dos estudantes matriculados.

Perfil

Um outro ponto que aparece na discussão é a importância de que o estudante seja capaz de identificar o seu perfil de aprendizado. Segundo Roberta Assunção, que durante a pandemia precisou lecionar disciplinas de modo remoto, grande parte dos seus alunos demonstraram dificuldade com o uso dos instrumentos da Educação à Distância.

“Eles reclamavam muito. Falavam que não se adaptam, que precisam estar sentados na sala de aula com o caderno na mão, vendo o professor e os colegas”, relembra. Segundo ela, o ensino oferecido na pandemia é classificado como Ensino Remoto Emergencial, logo, não apresentou todas as funcionalidades previstas para a EAD.

Ainda assim, a professora destaca que alguns estudantes apresentam mais afinidade com a modalidade do que outros. Nesse sentido, reconhecer o próprio perfil é fundamental.

“Com certeza, alguns se adaptam melhor do que outros. Eu me sinto à vontade quando estou na minha casa, sem colegas do lado porque tiram minha atenção. Mas, também exige do aluno autonomia, organização de tempo, e disposição para poder estudar à distância”, ressalta Roberta.

Por outro lado, o Ensino à Distância, segundo especialistas, também amplia as possibilidades de alunos que antes não enxergavam o Ensino Superior como possibilidade, ingressarem no formato. Isso porque a presença de polos em regiões mais afastadas contribui para a integração de estudantes de contextos mais diversificados.

Inclusão

“O processo de melhoria qualitativa de vida, principalmente para as pessoas que já estão no mercado de trabalho, vem por meio de um curso na modalidade à distância e não presencial. Vemos isso pelas faixas etárias nos cursos superiores à distância”, complementa o reitor da UNISINOS.

Para o reitor, o ensino remoto aparece como uma ferramenta de inclusão, principalmente de populações mais vulneráveis.  “Aqui no litoral do Paraná temos uma região chamada Ilha da Cotinga, onde vive uma tribo guarani. Eles possuem escolas mas não possuem professores licenciados”, exemplifica.

Ele conta que em algumas regiões o EAD gera inclusão social e benefícios para a própria comunidade. “A educação à distância desde a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional já traz critérios de qualidade e direciona as instituições superiores para que organizem esses processos”, ressalta.

*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), na Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). ODS 04 – Educação de Qualidade.

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