Em entrevista à Sagres, a economista e ex-secretária da Fazenda de Goiás Ana Carla Abrão afirmou que vê com preocupação as reformas que estão no Congresso Nacional no momento. A economista destacou que defende a necessidade de reformas no Brasil há um tempo, mas que as propostas atuais não atingem os principais problemas do País.

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“Por exemplo, a reforma administrativa vai mexer com a estabilidade do serviço público, vai mudar os vínculos, mas não abrange os privilégios que os membros de poderes tem em relação a férias de 60 dias, pagamentos retroativos, aposentadoria por punição. Ou seja, se é para fazer reforma para retroceder, é melhor não fazê-las, é melhor manter a discussão”, explicou.

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No início do Governo Bolsonaro, Ana Carla relatou que havia uma expectativa de aprovação das reformas em função do Ministério da Economia, sob o comando de Paulo Guedes. “Sem dúvida alguma, vivemos um estelionato eleitoral, porque a agenda liberal foi um dos motivos que elegeu o presidente Bolsonaro, inclusive, como é sabidamente noticiado, com grande apoio do mercado financeiro”.

Além da ineficiência nas reformas, a falta de privatizações também foi criticada pela ex-secretária, que vê uma combinação entre a desarticulação do Governo Federal e o ativismo do Congresso Nacional, como fator definidor para o cenário atual.

Ana Carla Abrão – Economista, sócia da Oliver Wyman Consultoria de Gestão e ex-secretária da Fazenda de Goiás

Crise política e econômica

Para a economista, a crise institucional que o Brasil passa causa instabilidade na economia e dificulta a recuperação do país no setor. Ela ressalta que após uma queda expressiva em 2020, em função da pandemia, o Brasil registrou bons números no segundo trimestre de 2021, mas que o futuro está ameaçado pelo cenário político atual.

“A crise política, obviamente, impacta o crescimento do ano que vem, de 2022, que já, sabidamente, é um ano mais volátil, mais difícil em função das eleições e que com essa crise antecipada, com essa crise institucional, fica ainda mais complicado“.

Uma das preocupações da economista é a alta da inflação que, segundo ela, é “o mais perverso dos mecanismos de concentração de renda”. Ana Carla explicou que além de desorganizar o processo econômico, a inflação atinge principalmente os mais pobres, que não têm como se proteger dos aumentos em produtos básicos.

“O Brasil é um dos países mais desiguais do mundo e a pandemia agravou nosso processo de desigualdade. A recessão do ano passado jogou mais brasileiros para a miséria. Com o processo inflacionário, é como jogar gasolina na fogueira, porque, afinal de contas, a gente já tem um processo de empobrecimento da população muito expressivo e de concentração de renda”, detalhou.

Entrada de Goiás no RRF

Ex-secretária da Fazenda de Goiás durante o governo de Marconi Perillo, a economista defendeu a entrada do Estado no Regime de Recuperação Fiscal (RRF). “Vai dar ao Estado de Goiás a possibilidade de se organizar estruturalmente”.

A ex-secretária declarou que os indicadores pressionam Goiás hoje e impedem investimentos necessários para os goianos. Segundo ela, além do RRF, Goiás – e demais estados – precisarão de reformas profundas e bem maturadas para que haja equilíbrio nos estados e municípios.

“Na minha época foram feitas mudanças importantes, contenções de gastos para que a gente pudesse ultrapassar problemas pontuais, só que os problemas estruturais – e isso vale para todos os estados da federação – estão aí e são justamente eles que causam um desequilíbrio estrutural entre despesas e receitas”.

Assista a entrevista no Sagres Sinal Aberto: