Você já ouviu falar na Lei nº 10.639/2003? Ela prevê a obrigatoriedade do Ensino de História da África e Cultura Afro-Brasileira nas escolas. De acordo a determinação, professores de História, Língua Portuguesa, Educação Física, Matemática e outros componentes curriculares podem trabalhar em conjunto para uma educação antirracista. 

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No entanto, de acordo com a professora, mestre e doutora em História pela UFG, Carolina Castro, a educação antirracista deve ocorrer em toda a escola. Isso compreende a chegada do aluno na unidade de ensino até o convívio em sala de aula. 

“Desde a pessoa que está na portaria, atendendo essa criança, esse estudante, como o pessoal da cozinha, o coordenador pedagógico, o diretor dessa escola. Todos têm que ter leitura e compreensão da educação antirracista”, afirma em entrevista à jornalista Tetê Ribeiro no programa Informando, do Portal Conexão Escola.

Assista a seguir

Carolina reforça ainda que educação antirracista é aquela que promove a leitura e a discussão sobre o tema. Além disso, como o racismo deve ser combatido no âmbito escolar. Um mural com histórias e personagens negros, por exemplo, já sinaliza que aquela escola tem essa preocupação.

“Além da leitura, práticas que irão promover a discussão de combate ao preconceito, de respeito a essa diversidade. Isso vai fazer muita diferença no cotidiano escolar”, analisa.

Afroletramento

Segundo Carolina, a inserção da temática africana e afro-brasileira na educação, por meio da leitura, é que torna possível o empoderamento dos estudantes negros. Isso contribui, no entanto, não apenas nas escolas, mas também na vida fora dela.  

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“Trazer o personagem negro como principal, como referência, para aquela criança que está lá, lendo com a professora em sala de aula. Enxergar-se, ter o momento de pensar ‘eu posso ser uma médica, posso ser uma jornalista. Posso ser sim uma pessoa que faz a diferença na sociedade à qual eu pertenço’. Isso é muito importante”, afirma. 

Combate ao racismo o ano todo

Carolina Castro atua na gerência de Educação Fundamental e no Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas (Neabi) da rede municipal de ensino de Goiânia. Para ela, temáticas que valorizam as culturas afro-brasileiras e indígenas não devem ser trabalhadas apenas em datas comemorativas. É o caso, por exemplo, do Dia dos Povos Indígenas, em 19 de abril, e Dia da Consciência Negra, em 20 de novembro. 

“Os direcionamentos e orientações pedagógicas na SME trazem essa perspectiva. A de desconstruir e não reduzir as nossas temáticas, tanto afro-brasileiras quanto as indígenas, em datas comemorativas”, afirma. 

Carolina do Carmo Castro (Foto: YouTube/Portal Conexão Escola)

Todos podem agir contra o racismo na escola

Atitudes racistas devem ser combatidas diariamente na escola. Alvo de perseguição histórica, o cabelo crespo, por exemplo, traço característico de pessoas negras, não está imune no ambiente escolar. Além disso, atitudes como gozações com a cor da pele e outros traços também precisam de intervenção do professor. 

“O próprio DC-GO (Documento Curricular para Goiás) traz essa possibilidade do currículo a partir do planejamento e das ações cortidianas desse professor. Ele deve ter esse olhar. Eu posso sim trabalhar [isso]. Se eu vi, se eu percebi, é ali que eu vou dialogar, linkar e fazer com que eu trabalhe essa possibilidade e faça a diferença no cotidiano com o aluno”, conclui. 

Leitura

Na entrevista, Carolina Castro se baseia e cita a obra “Racismo Estrutural”, de Silvio de Almeida. No livro, o autor, filósofo e professor paulista classifica, de forma didática, os tipos de racismo e suas dimensões. 

Segundo Silvio de Almeida, são três os tipos de racismo: o individual, o institucional e o estrutural. 

  • Individual: ocorre, por exemplo, nas redes sociais, com xingamentos e depreciações a posts, fotos e vídeos de pessoas pretas, indígenas e quilombolas;
  • Institucional: ocorre em espaços públicos ou privados, no qual alguns grupos considerados privilegiados por sua cor. Possuem lugares de tomadas de decisões, em detrimento de outros dados como subalternizados;
  • Estrutural: abarca todos os outros tipos de racismo, está enraizado na sociedade e precisa ser entendido e combatido diariamente. “Instituições como Legislativo, Judiciário, Ministério Público, diretorias de grandes empresas, têm o branco, o homem, em lugares de poder. Temos de pensar que o negro, a mulher, precisam ter essa representatividade, este lugar de fala, para que possamos mudar essas situações”, pontua Carolina Castro.

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