Em entrevista ao jornal “El País”, a candidata do PT à presidência da república, afirma que o sucesso do governo Lula, tambem é o sucesso dela. Dilma Rouseff destacou que ” vai continuar o modelo de Lula, mas com coração e alma de mulher. Não para repetir, mas para progredir. Para mim, a mulher tem uma grande capacidade de cuidar e ao mesmo tempo de estimular”.

Na semana passada a candidata do PT a Presidência da República, Dilma Roussef, esteve em Portugal, França e Espanha para se reunir com lideranças desses países. Dilma Rousseff esteve em Madri na sexta-feira passada durante algumas horas, quando foi entrevistada pelo Jornal.

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El País: Se a senhora ganhar, seguirá o modelo político de Lula?

Dilma Rousseff: Vou continuar o modelo de Lula, mas com coração e alma de mulher. Não para repetir, mas para progredir. Para mim, a mulher tem uma grande capacidade de cuidar e ao mesmo tempo de estimular. É claro que o homem também pode ser cuidadoso, mas o olhar feminino é diferente. O programa de assistência Bolsa Família [as famílias recebem dinheiro em troca de que as crianças vão à escola e se vacinem], por exemplo, é administrado pela mãe. Em primeiro lugar porque ela tem um papel chave na coesão da família. E em segundo porque… Por acaso você conhece uma mãe que, se lhe derem dinheiro, não o destinará ao bem-estar de seus filhos? Difícil, não? No Brasil, uma das maiores tarefas pendentes é a recomposição dos laços. Melhorar a situação econômica não basta, também é preciso reconstruir a família, porque é chave para melhorar a educação, combater a criminalidade… Definitivamente, para crescer como sociedade. Esta recomposição dos laços familiares deve ser colocada no centro da agenda política. E não é tarefa para um mandato, mas de muitos anos de trabalho… No Brasil, privilegiar a mulher não é uma política de gênero, é uma política social: 30% das famílias brasileiras são encabeçadas por mulheres; 52% da população somos mulheres e os 48% restantes são nossos filhos. Não se trata de criar um matriarcado, mas de dar à mulher a importância que tem para a estrutura familiar. Lula tem muita sensibilidade para esse tema, ele foi criado por uma mulher forte.

El País: A senhora não teme que a sombra de Lula prejudique sua carreira?

Rousseff: Sou a ministra da Casa Civil. Sou quem coordena os ministros e os principais projetos de governo. Trabalhei intimamente com o presidente Lula nos últimos cinco anos e meio. O sucesso dele é o meu. Fui seu braço-direito e esquerdo. Ele não será ministro se eu chegar ao governo, mas sempre estarei aberta a suas propostas. Temos uma relação muito forte.

El País: Esta é a primeira vez que concorre a um cargo eletivo. Como se sente? Como está sua saúde?

Rousseff: A pressão é a mesma que quando se está dentro do governo, talvez inclusive menor, porque quando se governa é preciso dar respostas todos os dias. O processo eleitoral é diferente… Há discussões, debates, viagens… Mas me permite estar mais perto das pessoas. E o povo brasileiro é muito alegre, muito sensível… Gosto muito, de verdade. E de saúde me sinto muito bem.

El País: Se a senhora governar, como vai conjugar as políticas de crescimento econômico com a proteção do meio ambiente?

Rousseff: No Brasil, 87% da energia elétrica procedem das usinas hidrelétricas, quer dizer, são renováveis. Acrescento a isto que a energia eólica está aumentando significativamente. Nosso parque automobilístico, por outro lado, utiliza o etanol, um combustível que não é fóssil. Se você me perguntar se é preciso cortar árvores para produzir mais cana-de-açúcar, digo-lhe que não. O Brasil tem uma das tecnologias agrícolas mais importantes do mundo, e as pesquisas para produzir mais em menos território avançam. Não é verdade que seja necessária mais terra para produzir mais. O que se necessita é uma melhor tecnologia para aproveitar melhor os terrenos de cultivo. Isto é o que fazemos no Brasil. E permita-me lhe dizer que a Amazônia não só está protegida por lei como também não é um terreno fértil para cultivo.

El País: Quais seriam as principais diferenças de seu modelo com o que propõe José Serra?

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Rousseff: A diferença mais importante é que sabemos como construir as condições para o crescimento sustentável. Crescemos ao mesmo tempo que distribuímos a riqueza. No Brasil hoje há mobilidade social, as pessoas sabem que amanhã estarão melhor: 24 milhões de brasileiros deixaram para trás a pobreza e outros 31 milhões ascenderam socialmente. Mas resta muito a fazer, ainda há 50 milhões de pessoas que ganham abaixo do salário mínimo. Temos de investir muito na educação de qualidade, porque isso nos permitirá estimular o emprego formal. Este ano serão criados 2 milhões de empregos desse tipo.

El País: Quais serão as linhas mestras de sua política externa?

Rousseff: O Brasil sempre teve uma política externa enfocada em poucos países. Os grandes sucessos destes últimos anos foram o avanço do multilateralismo e que o país tomou consciência de sua importância dentro da América Latina. Nos tratamos com respeito e sem ingerências em políticas internas. Não somos imperialistas. Promovemos a cooperação entre os países, e não políticas de imposição. Não podemos ser ricos rodeados de pobres, por isso o impulso às infraestruturas regionais é vital para nós. É muito importante também a relação com a África e com os BRICs (Rússia, Índia, China e África do Sul). O Irã tem o direito de desenvolver um programa nuclear para uso civil, e submeter o programa com a maior transparência ao controle dos organismos internacionais é a melhor política. Mas não creio que esse conflito deva ser resolvido com sanções, e sim com diálogo. É preciso construir portas, e não levantar muros.

 

Fonte: El Pais