NICOLA PAMPLONA
RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – No primeiro trimestre completo após sua privatização, a Eletrobras registrou prejuízo de R$ 88 mil, revertendo um lucro de R$ 965 milhões obtido no mesmo período do ano anterior. O resultado reflete uma série de provisões contra perdas e efeitos da deflação nos contratos de transmissão de energia.
“A Eletrobras vive um momento especial, em que iniciativas já estão em curso, norteadas pela criação de valor e mitigação de riscos”, disse o presidente da companhia, Wilson Ferreira Junior.
No esforço para tentar reduzir riscos, a empresa decidiu provisionar R$ 470 milhões para possíveis perdas com inadimplência da Amazonas Energia e R$ 588 milhões para possível perda em processo contra a Chesf por atraso em linha de transmissão.
A redução de passivos e a mitigação de riscos de perdas judiciais são pilares da nova estratégia da companhia, segundo disse Ferreira Junior em sua primeira entrevista após retomar o cargo. A ideia é tentar dar mais previsibilidade aos números da companhia.
Do ponto de vista operacional, a Eletrobras foi impactada por efeitos da deflação sobre seus contratos de transmissão de energia. Segundo o balanço, o IPCA negativo teve impacto de R$ 1,9 bilhão no resultado do trimestre.
Assim, a receita caiu 13% em relação ao mesmo período do ano anterior, chegando a R$ 8 bilhões. O Ebitda, indicador que mede a geração de caixa de uma companhia, caiu 36%, para R$ 3,2 bilhões.
No balanço, a empresa disse que apresentou forte liquidez no terceiro trimestre, com disponibilidade de R$ 16,8 bilhões e realização de investimentos de R$ 990 milhões.
Em sua primeira entrevista, Ferreira Junior disse que a Eletrobras havia iniciado uma revisão de sua estratégia, com foco na comercialização de energia no mercado livre, redução de custos e despesas, perspectiva de crescimento, redução de passivos e eficiência tributária.
Para reduzir custos, a empresa já lançou um novo plano de demissão voluntária para empregados aposentados ou que atingirão as condições de se aposentar até 30 de abril de 2023. São 2.312 trabalhadores nessa condição tanto na holding como em suas subsidiárias.
A empresa estima que o plano vai custar R$ 1 bilhão, com a quitação de direitos e incentivos, como o pagamento de nove salários e de gastos equivalentes a três anos de plano de saúde e um ano de auxílio-alimentação.
Na ocasião, Ferreira Junior afirmou ainda não acreditar na reestatização da companhia, defendida por sindicatos e representantes da oposição ao governo Jair Bolsonaro. Para ele, o elevado custo da recompra de ações inviabilizaria o processo.
O processo de capitalização incluiu uma cláusula, conhecida como “poison pill”, que dificulta a recuperação da posição majoritária. “Se quiser dar passo para trás, reestatizar, isso vai custar. E, no caso específico da Eletrobras, o poison pill é quase três vezes o valor negociado na Bolsa”, disse o executivo. “Não tem sentido econômico, o governo tem um desafio fiscal fabuloso.”
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