Março é o mês marcado pelo Dia Internacional da Mulher, data que propõe a reflexão sobre a luta das mulheres por direitos e oportunidades igualitárias. É nesse momento que muito se fala sobre igualdade e equidade de gênero. Mas você sabia que os dois termos não são sinônimos?

A promotora de justiça e integrante do Núcleo de Equidade do Ministério Público de Goiás, Simone Disconsi, explica que, apesar dos termos serem bastante semelhantes, existe uma diferença na palavra equidade que amplia significado dela em relação a palavra igualdade.

“A igualdade é você tratar as pessoas de maneira igual e a equidade é mais do que isso. Além de você tentar ver as pessoas através de uma lente que enxergue eventuais diferenças e preconceitos, na equidade você tenta equiparar as pessoas além desses preconceitos e diferenças”, explica.

Já a definição do termo igualdade de gênero significa que homens e mulheres devem ter os mesmos direitos e deveres, algo fundamental para a construção de uma sociedade livre de preconceitos e discriminações.

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O uso de ações afirmativas

De acordo com promotora a equidade enxerga a sociedade de uma maneira em que existem pesos e contrapesos e, só a partir dessa visão, poderemos atingir a igualdade.

“Não adianta falar em igualdade quando as pessoas estão em patamares diferentes de oportunidades. Quando as oportunidades não são as mesmas, não podemos falar simplesmente de igualdade”, ressalta.

Nesse contexto, Simone, reforça a importância das ações afirmativas, ou seja, políticas públicas voltadas para grupos que sofrem discriminação étnica, racial, de gênero e religiosa.

“A equidade visa dar para as pessoas que precisam de tratamento desigual a equiparação social em termos de políticas públicas para que se alcance uma igualdade verdadeira”, pontua.

Equidade, igualdade e mulher

Na avaliação da doutoranda em história, especialista em educação e professora do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás (IF Goiás), Janira Sodré, a equidade é a igualdade respeitadas as diferenças.

“Existem algumas diferenças que são relacionadas, por exemplo, à própria reprodução humana. Quando pensamos na gestação, no parto e na amamentação, temos que analisar o impacto disso na carreira da mulher”, analisa.

Uma pesquisa divulgada pela Catho, empresa especializada em recrutamento de profissionais, mostra que as dificuldades de conciliar carreira e maternidade, fazem com que 30% das mulheres deixem o mercado de trabalho para cuidar dos filhos. Entre os homens, a proporção é quatro vezes menor, de 7%.

Entre as dificuldades estão a problemas no ambiente de trabalho por se ausentarem quando o filho passa mal, pedidos para chegarem mais tarde em dias de reunião escolar, subestimação, redução de carga horária e salário e exclusão de projetos por conta da maternidade.

“Obviamente precisamos melhorar políticas de amparo para esses momentos da vida da mulher que vão ter um impacto em outros setores da vida, como é caso, dos cuidados com as crianças e o próprio trabalho doméstico”.

Segundo a professora do IF Goiás, pensar em políticas públicas para todas as mulheres perpassa também por observar as hierarquias de raça, de classe e as hierarquias relacionadas a orientação sexual.

“O impacto de todas essas hierarquias, por exemplo, na vida de uma mulher negra, periférica, não heterossexual, é de tal sorte que chega a ser letal”, finaliza.

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