Outubro é o mês dedicado à conscientização sobre o câncer de mama. Nesse sentido, o movimento do “Outubro Rosa” visa alertar as mulheres sobre a importância da prevenção e do diagnóstico precoce da doença. Em entrevista ao Sistema Sagres, o oncologista clínico, Gabriel Santiago, esclareceu pontos cruciais sobre o tema e ressaltou a necessidade do autoexame e dos exames clínicos.
“O autoexame das mamas é indicado para toda paciente do sexo feminino a partir dos 20 anos de idade. Deve ser realizado sete dias após o início da menstruação”, destacou o médico. Ele explicou que esse procedimento simples pode ajudar a mulher a detectar mudanças no formato, tamanho ou presença de nódulos, o que é essencial para identificar tumores em estágio inicial.
“A paciente que está na menopausa, por exemplo, deve escolher um dia específico do mês para realizar o autoexame”, completou. No entanto, o especialista frisou que o autoexame não é suficiente para garantir a detecção precoce do câncer de mama.
“Todas as mulheres a partir dos 40 anos devem realizar uma mamografia anual e passar por uma consulta com um mastologista”, explicou Santiago. Segundo ele, a mamografia é essencial para identificar tumores que podem não ser percebidos no autoexame. Especialmente em estágios iniciais, quando as chances de cura são maiores.
Outro protocolo
Para mulheres com menos de 40 anos, o protocolo é diferente. “Se a paciente detecta alguma alteração na mama, como nódulos, mudanças no tamanho ou formato, ou secreções anormais, é indicado fazer uma ultrassonografia”, esclareceu o oncologista. Esse exame é mais eficaz para mulheres mais jovens, cujas mamas são mais densas.
Santiago também alertou sobre casos de pacientes com histórico familiar de câncer de mama. “Para aquelas com parentes de primeiro grau que tiveram a doença, o rastreamento deve começar aos 35 anos, com a realização de mamografias anuais”, disse.
Já as pacientes portadoras de mutações genéticas, como a BRCA, devem iniciar o rastreamento ainda mais cedo. Isso porque, nesses casos, o risco de desenvolver câncer de mama aumenta. “Essas mulheres precisam iniciar a triagem por volta dos 25 anos, com a ressonância magnética das mamas”, recomendou o médico.
Outros sinais
Outros sinais de alerta mencionados pelo oncologista incluem alterações no volume ou forma da mama, secreções anormais pelo mamilo (especialmente se forem sanguinolentas ou cristalinas), e mudanças na pele da mama, como inversão ou retração do mamilo.
“A presença de nódulos na axila também é um sinal de alerta”, ressaltou Santiago, destacando que o câncer de mama pode ser assintomático nos estágios iniciais. “Lesões como o carcinoma in situ, que é um pré-câncer, podem não causar sintomas por um longo período, daí a importância da mamografia para detecção precoce”, afirmou.
O tratamento para o câncer de mama depende do estágio da doença, mas os principais métodos incluem cirurgia, quimioterapia e radioterapia. “Nas lesões iniciais, o tratamento cirúrgico, muitas vezes seguido de radioterapia, é o mais indicado. Em casos mais avançados, pode ser necessário iniciar com quimioterapia”, explicou o médico.
Santiago concluiu com um apelo à conscientização e ao cuidado com a saúde. “O câncer de mama, quando detectado cedo, tem grandes chances de cura. Por isso, é fundamental que as mulheres estejam atentas ao seu corpo e realizem os exames recomendados regularmente”, finalizou o oncologista.
Inovações
Santiago destacou os avanços significativos no tratamento do câncer de mama. Além disso, ele ressaltou a importância do diagnóstico precoce e as novas opções terapêuticas disponíveis para pacientes com a doença, especialmente em estágios mais avançados.
Segundo o especialista, o tratamento padrão ainda envolve uma abordagem integrada. “A terapia busca, inicialmente, reduzir o tamanho da lesão, para depois realizar a cirurgia e a radioterapia”, explicou Gabriel Santiago, enfatizando que essa sequência é recomendada para pacientes com a doença em estágio inicial.
Entretanto, o oncologista destacou que, para os casos mais avançados, o leque de opções terapêuticas cresceu de forma significativa nos últimos anos, oferecendo mais esperança para os pacientes. “Nós temos novas drogas, chamadas terapias alvo, além de conjugados anticorpo-droga e imunoterapia para alguns tipos específicos de câncer de mama”, afirmou.
Embora detectar um padrão seja difícil, o médico oncologista indica alguns fatores de risco para a doença. Entre eles estão a obesidade, o sedentarismo e uma dieta rica em gordura animal, carne vermelha e processada e pobre em frutas, verduras e legumes. Ademais, o uso da terapia de reposição hormonal por um longo período, especialmente após a menopausa, e o histórico familiar também levam a uma predisposição ao câncer de mama.
Eficácia
Essas novas abordagens, segundo o oncologista, permitem um tratamento mais preciso e eficaz, oferecendo melhores resultados para os pacientes que, no passado, tinham menos opções disponíveis. “Temos um arsenal terapêutico mais amplo atualmente”, disse Santiago.
Apesar dos avanços, o médico reforça a importância do diagnóstico precoce, fator crucial para o sucesso do tratamento. “O diagnóstico precoce aumenta muito as chances de cura. Em casos de doença em estágio inicial, a taxa de sobrevida em cinco anos é de aproximadamente 95%”, informou o especialista. “Por isso, é sempre importante buscar o diagnóstico precoce”, alertou.
A mensagem final do oncologista foi um chamado à conscientização sobre a detecção precoce e o acompanhamento médico regular, especialmente para mulheres que fazem parte dos grupos de risco. “O acompanhamento preventivo pode salvar vidas”, concluiu.
Incidência em mulheres jovens
Nos últimos anos, o aumento dos diagnósticos de câncer de mama em mulheres abaixo dos 40 anos, tem chamado a atenção de especialistas e reforçado a importância da conscientização.
No Brasil, o Observatório do Câncer, um registro que reúne dados dos pacientes tratados no A.C. Camargo Cancer Center entre os anos de 2000 e 2020, mostra que o número de casos de câncer de mama em mulheres jovens (abaixo dos 40 anos) é de 11,9%. A incidência da doença tem aumentado nos últimos anos, cerca de 5% das mulheres com menos de 35 anos são acometidas pela doença.
De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), embora a maior parte dos diagnósticos ainda ocorra em mulheres com mais de 50 anos, os casos em outras faixas etárias estão crescendo. “Esse aumento pode estar relacionado a fatores como estilo de vida, predisposição genética, uso prolongado de anticoncepcionais e outros comportamentos de risco”, afirma o médico oncologista.
Campanha
Por se tratar do tipo de câncer que mais acomete a população de sexo feminino no Brasil e no mundo – à exceção do câncer de pele não-melanoma -, a campanha reforça a necessidade de estimular a realização de exames e compartilhar informações que podem salvar vidas e reduzir a mortalidade em até 30%.
“Com essa conscientização, as pacientes passam a ter mais informações sobre a doença, fatores de risco, sinais, sintomas e métodos de diagnóstico. Por isso, elas são importantes para trazer conhecimento”, explica Gabriel Santiago.
*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), na Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). ODS 03 – Saúde e Bem-Estar
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