No nordeste brasileiro, um clube que cresceu consideravelmente nos últimos anos e serve como inspiração para vários outros é o Fortaleza Esporte Clube. Depois de um início melancólico nos anos 2010, o Tricolor do Pici mudou de configuração desde a segunda metade da década, encerrando um jejum de quatro anos sem o título estadual e retornando às grandes competições nacionais.

No período, além de três títulos do Campeonato Cearense (2015, 2016 e 2019), a partir do vice-campeonato da Série C do Campeonato Brasileiro, em 2017, o Tricolor de Aço conquistou a Série B, em 2018, e a Copa do Nordeste, em 2019. De volta à elite do futebol brasileiro, a nona posição, com 53 pontos, sua melhor na era dos pontos corridos da Série A, também rendeu uma inédita vaga em competição internacional.

Em comum durante todo o trajeto, a gestão comandada por Marcelo Paz, jovem dirigente de 37 anos, que desde o final de 2014 está no principal cargo executivo do Leão do Pici. Durante a semana, o presidente tricolor foi entrevistado por Charlie Pereira para o Sistema Sagres de Comunicação, através dos canais de rádio e televisão. Material que agora trazemos também para o Sagres Online.

Futebol goiano

De início, Marcelo Paz destacou que “Goiânia é uma cidade que tenho ótimas lembranças com o Fortaleza. Em 2018, nosso acesso foi consolidado em um jogo contra o Atlético Goianiense, em que vencemos (por 2 a 1, em 3 de novembro). Ano passado, a vitória sobre o Goiás, no Serra Dourada, nos deu a vaga inédita na Copa Sul-Americana. Então gosto muito da cidade, tenho boas lembranças e bastantes amigos também”.

Nesta temporada, a exemplo do Goiás, derrotado pelo Sol de América, o Fortaleza ficou no meio do caminho da Sul-Americana, e justamente para um velho algoz esmeraldino. O dirigente reforçou que “o Independiente é um gigante, o ‘Rei de Copas’. O Goiás é uma equipe que tem mais tradição que o Fortaleza em competições internacionais, isso é claro e reconhecemos, tanto a nível de Sul-Americana quanto da Libertadores”.

Enquanto o “Goiás foi à uma final com o Independiente e por um detalhe não conseguiu o título, que seria histórico”, o Fortaleza caiu na primeira fase, em que “nos dois jogos fomos muito bem, na Argentina era para termos saído, no mínimo, com o empate, e aqui o jogo 2 a 0, tudo para classificarmos e levamos um gol nos acréscimos. Mas faz parte do futebol, são histórias que vivemos, lembramos depois e que nos projeta para conquista mais na frente”.

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Dificuldades em tempos de pandemia

A respeito da sugestão de empréstimo oferecido pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF), “é uma boa medida, mas é importante dizermos que esse valor não é um dinheiro novo, que virá a mais. Na verdade, é uma antecipação do que os clubes teriam para receber da Rede Globo, com o aval da CBF e sem juros, e esse é o principal ponto. Isso já estava previsto no orçamento, e se puxar agora vai fazer falta na frente, mas não deixa de ser uma boa medida”.

De qualquer forma, “temos que agradecer sim, porque captar dinheiro no mercado hoje não está fácil e os clubes de futebol em geral, por mais organizados que sejam, ainda não têm uma imagem boa para captar dinheiro em bancos e fundo de investimento, por exemplo. É um medida interessante e devemos fazer uso, mas, deixando muito claro, não é dinheiro novo. É dinheiro que já estava previsto, que seria recebido em algum momento através do contrato com a Globo, e está sendo antecipado pela atual circunstância”.

Sobre o procedimento do seu clube durante a pandemia, Marcelo Paz frisou que “estamos administrando com muita dificuldade e negociação. Tivemos que negociar com diversos ‘players’ diferentes, jogadores e comissão técnica, os funcionários colocamos em um modelo de suspensão de contrato de trabalho, a diretoria executiva teve redução de salário, e aqui a diretoria é remunerada, os fornecedores alguns passamos para frente os pagamentos e outras despesas, que julgamos que poderia ser cortadas, foram cortadas”.

“Então foram muitas ações de contenção de despesa para aliviar esse caixa e algumas ações também de gerar receita. No caso, fizemos promoção na loja, no delivery, no e-commerce e para adesão de novos sócios-torcedores. Fizemos uma ‘live’ com a retransmissão de um jogo histórico nosso, que gerou uma receita também, e fizemos o lançamento da camisa tradicional do clube versão 2020, sem ainda ter a camisa para entregar, porque está sendo produzida”, acrescentou.

O presidente tricolor ressaltou que “o torcedor conhece a diretoria, sabe da credibilidade e que sempre temos esse processo de lançar as camisas, e também houve uma adesão boa. Fizemos uma promoção e entrou um dinheiro que deu para nos ajudar. Então é diariamente, cortando uma despesa, tentando achar uma nova receita, atravessando esse deserto, mas até aqui temos conseguido com muita dificuldade. É difícil ter fôlego para mais 40, 50 dias e a coisa precisa de, alguma maneira, voltar ao normal”.

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Volta do futebol

Enquanto o retorno do Campeonato Goiano está longe de uma definição, Marcelo Paz garantiu que o Campeonato Cearense voltará. O dirigente detalhou que Fortaleza e Ceará já estão treinando, enquanto “o Ferroviário e o Atlético Cearense também têm previsão de voltar. O Guarany de Sobral tem que voltar a treinar, porque vai jogar a Série D, e restam mais três times, no caso Pacajus, Barbalha e Caucaia”.

O presidente tricolor detalhou que “faltam ainda duas rodadas para terminar a primeira fase do campeonato, depois vem semifinal e final. Houve uma reunião virtual com todos os presidentes e ninguém disse que não iria voltar. Vai ter que se reorganizar os times e o período de contratação foi aberto novamente, alguns vão completar com jogadores da base, mas o Campeonato Cearense está previsto sim para ser concluído durante o mês de julho”.

Questionado sobre haver segurança para esse retorno, Marcelo Paz afirmou que sim, já que “os clubes de futebol, sobretudo os da Série A e da B, têm uma estrutura que permite um controle muito grande de quem está no dia a dia. No nosso caso, testamos todas as pessoas que estão nos treinos, seja quem for: o cara da portaria, o roupeiro, o treinador, eu como presidente, que vou acompanhar o treino, e todo mundo foi testado já duas vezes”.

Para o dirigente, “isso é até um exemplo para outras atividades que estão voltando e não estão conseguindo testar os seus colaboradores. Não estou dizendo que não estão testando porque não querem, às vezes é a condição financeira e a estrutura. A exemplo da Alemanha, que voltou e não teve incidência de casos, aqui se pode fazer também com muito controle e portões fechados, inicialmente”.

Engajamento do torcedor

Enquanto isso, o Fortaleza busca maneiras de manter seu torcedor próximo. Afinal de contas, a arrecadação com sócio-torcedor representa “aproximadamente 18%. É o nosso melhor patrocinador, e só perde para a TV, pelo direito de transmissão. Mas é uma receita muito importante e a que mais se manteve nesse período da pandemia. Tivemos perdas em todas as áreas e no sócio também, mas é a que mais se manteve”.

Sobre a marca própria, questão também seguida no futebol goiano com Atlético, Goiás e Vila Nova, Marcelo Paz apontou que “é um sucesso, vende muito e nos dá flexibilidade”, uma vez que, diferente de quando tinha contratos com grandes fornecedores de material esportivo, “podemos lançar quantas camisas quisermos ao longo do ano, com camisas promocionais e alternativas, então é algo imprescindível”.

Outra questão de destaque é o grande número de negócios na cidade. Segundo o dirigente, são nove lojas, em que “todas as lojas dão lucro, sem exceção, e dão lucro rápido. Agora, tem que saber administrar. É um negócio diferente, é comércio. Você tem que saber comprar, ter vendedores capacitados, ter estoque e variedade. Não é só vender camisa”, por isso a importância de “licenciar chaveiro, boné, lápis, bermuda, álbum de figurinha, vinho, linha pet, infantil e feminina”.