Neste mês a saúde celebra-se o Julho Amarelo. Trata-se do mês de combate e conscientização sobre as hepatites virais. A campanha alerta sobre a importância da prevenção, diagnóstico e tratamento da doença. No entanto, segundo o médico hepatologista vice-presidente da Sociedade Brasileira de Hepatologia (SBH), Rodrigo Sebba Aires, uma das mais preocupantes é a hepatite C.

Ouça a entrevista a seguir e tire suas dúvidas sobre a hepatite

“Na grande maioria das vezes a pessoa não tem sintomas. Os sintomas só se manifestam em uma fase muito avançada de doença, quando já tem cirrose, por exemplo. Então é importantíssimo que se faça um diagnóstico nessa fase em que a pessoa não tem sintoma. Para isso nós precisamos solicitar exames”, afirma. 

O dia 28 é o Dia Mundial de Luta Contra as Hepatites Virais. De acordo com o Ministério da Saúde, estima-se que cerca de meio milhão de pessoas no Brasil não saibam que estão com hepatite C, que é contagiosa. Relação sexual sem proteção, uso de sangue via transfusão ou contato com objetos contaminados, bem como transmissão de mãe para filho durante a gestação ou parto estão entre as formas de contágio.

“A maioria das pessoas com hepatite C são pessoas que se contaminaram há muitos anos e estão convivendo com o vírus às vezes há 20, 30, 40 anos sem saber. O vírus da hepatite C foi identificado em 1989, ou seja, é recente. Antes disso, não existia exame para detectar a hepatite C”, analisa Aires. 

Rodrigo Sebba Aires alerta sobre importância de teste de hepatite (Foto: Sagres Online)

Vacina e tratamento

Existem vacinas para os tipos A (na rede pública apenas para crianças) e B (para todos nas redes pública e privada). O esquema completo, com três doses, é que protege por toda a vida. Entretanto, não existe imunizante contra hepatite C, mas há tratamento. Por isso a importância do teste, reforçado pela campanha Julho Amarelo. 

“Quem é detectado com a presença do vírus é possível tratar, curar em boas parte dos casos, e prevenir as complicações”, afirma. “Hoje o tratamento é extremamente simples, fornecido pela rede pública. A pessoa toma um comprimido ao dia durante três meses com uma taxa de cura definitiva acima de 95%”, complementa Aires. 

A recomendação é que todas as pessoas com mais de 45 anos de idade sejam testadas, gratuitamente, em qualquer posto de saúde. Ademais, em caso de resultado positivo, o tratamento está disponível na rede pública, pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

“Se a pessoa já recebeu transfusão de sangue em algum momento da vida, há muitos anos, se ela foi exposta a algum objeto contaminado contaminado com sangue, agulhas contaminadas, tatuagens, pois naquela época não havia material esterilizado, pessoas que já utilizaram drogas injetáveis, compartilharam agulhas, seringas. Todas essas pessoas devem, obrigatoriamente, realizar um teste de hepatite C”, pontua.

Cronicidade

Tanto a hepatite B quanto a C podem se tornar doenças crônicas, à medida em que evoluem, ou seja, não possuem resolução em um período curto de tempo. No caso da hepatite A, a cura pode ocorrer naturalmente, pelo sistema imune do organismo, e não deixa sequelas. 

A hepatite ataca, primeiramente, o fígado. Está atrelada ao consumo excessivo de bebidas alcoólicas ou outras substâncias tóxicas, incluindo alguns tipos de remédios. No entanto, segundo Aires, se não houver diagnóstico rápido, pode afetar outros órgãos. 

“Doenças renais, do sistema hematológico, que é o sangue, doenças de pele, que têm ligação sim com os vírus da hepatite na fase crônica. É muito importante as pessoas ficarem atentas e, em caso de algum problema, procurarem auxílio médico e evitarem a automedicação”, recomenda. 

Saiba mais sobre os tipos de hepatite

– Hepatite A: tem o maior número de casos, está diretamente relacionada às condições de saneamento básico e de higiene. É uma infecção leve e se cura sozinha. Existe vacina.

– Hepatite B: é o segundo tipo com maior incidência; atinge maior proporção de transmissão por via sexual e contato sanguíneo. A melhor forma de prevenção para a hepatite B é a vacina, associada ao uso do preservativo.

– Hepatite C: tem como principal forma de transmissão o contato com sangue. Trata-se da maior epidemia da humanidade atualmente, cinco vezes superior à AIDS/HIV. A hepatite C é a principal causa de transplantes de fígado.  A doença pode causar cirrose, câncer de fígado e morte. Não tem vacina.

– Hepatite D: causada pelo vírus da hepatite D (VHD) ocorre apenas em pacientes infectados pelo vírus da hepatite B. A vacinação contra a hepatite B também protege de uma infecção com a hepatite D.

– Hepatite E: causada pelo vírus da hepatite E (VHE) e transmitida por via digestiva (transmissão fecal-oral), provocando grandes epidemias em certas regiões. A hepatite E não se torna crônica, porém, mulheres grávidas que forem infectadas podem apresentar formas mais graves da doença.

Confira a prevenção para cada tipo de hepatite

Prevenção da hepatite A:

– a vacina contra a hepatite A é altamente eficaz e segura e é a principal medida de prevenção;
– lavar as mãos com frequência, especialmente após o uso do sanitário, trocar fraldas e antes do preparo de alimentos;
– utilizar água tratada, clorada ou fervida, para lavar os alimentos que são consumidos crus, deixando-os de molho por 30 minutos;
– cozinhar bem os alimentos antes de consumi-los, principalmente mariscos, frutos do mar e peixes;
– lavar adequadamente pratos, copos, talheres e mamadeiras;
– usar instalações sanitárias;
– no caso de creches, pré-escolas, lanchonetes, restaurantes e instituições fechadas, adotar medidas rigorosas de higiene, tais como a desinfecção de objetos, bancadas e chão, utilizando hipoclorito de sódio a 2,5% ou água sanitária;
– não tomar banho ou brincar perto de valões, riachos, chafarizes, enchentes ou próximo de onde haja esgoto;
– evitar a construção de fossas próximas a poços e nascentes de rios;
– usar preservativos e higienizar as mãos, genitália, períneo e região anal, antes e após as relações sexuais.

Prevenção da hepatite B:

a vacina é a principal medida de prevenção contra a hepatite B, sendo extremamente eficaz e segura; usar preservativo em todas as relações sexuais; não compartilhar objetos de uso pessoal, tais como lâminas de barbear e depilar, escovas de dente, material de manicure e pedicure, equipamentos para uso de drogas, confecção de tatuagem e colocação de piercings.  A testagem das mulheres grávidas ou com intenção de engravidar também é fundamental para prevenir a transmissão de mãe para o bebê. A profilaxia para a criança após o nascimento reduz drasticamente o risco de transmissão vertical.

Prevenção da hepatite C:

Não existe vacina contra a hepatite C. Para evitar a infecção é importante:

Não compartilhar com outras pessoas qualquer objeto que possa ter entrado em contato com sangue (seringas, agulhas, alicates, escova de dente, etc); usar preservativo nas relações sexuais; não compartilhar quaisquer objetos utilizados para o uso de drogas; toda mulher grávida precisa fazer no pré-natal os exames para detectar as hepatites B e C, HIV e sífilis. Em caso de resultado positivo, é necessário seguir todas as recomendações médicas. O tratamento da hepatite C não é indicado para gestantes, mas após o parto a mulher deverá ser tratada.

Prevenção da hepatite D:

A hepatite D ocorre em pacientes infectados com o tipo B, portanto, a vacina contra a hepatite B, protege contra o tipo D, também.

Prevenção da hepatite E:

A melhor forma de evitar a doença é melhorando as condições de saneamento básico e de higiene, tais como as medidas para prevenir a hepatite do tipo A.

Este conteúdo está alinhado ao Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS), na Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU) ODS 3 – Saúde e bem-estar.

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