A violência contra a mulher continua sendo uma realidade alarmante no Brasil. Durante o Tom Maior do Sistema Sagres, a advogada Ana Carolina Fleury, especialista na defesa dos direitos das mulheres, destacou que, apesar dos esforços de conscientização, os números seguem altos e a luta por mudança ainda é diária.
“Dia após dia, ano após ano, a gente não vê realmente mudanças significativas no sentido de redução de número, redução de relatos de violência”, afirmou Ana Carolina. “Isso só comprova que sim, a gente continua nessa luta todos os dias.”
Dados recentes apontam um aumento expressivo nas denúncias. Em Goiás, por exemplo, a Central de Atendimento à Mulher, pelo número 180, registrou um crescimento de 34% nos atendimentos e de 26,9% nas denúncias em comparação ao ano anterior. Mas esse aumento tem duas faces, como explica a advogada.
“Por um lado, é positivo, porque significa que mais mulheres estão denunciando e conhecendo os seus direitos. Por outro, mostra que a violência continua acontecendo, possivelmente em índices ainda maiores do que conseguimos medir”, destacou.
Tipos de violência e o papel da sociedade
A Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340) classifica cinco tipos de violência contra a mulher: física, psicológica, moral, patrimonial e sexual. Entre elas, as que mais desafiam especialistas são a violência física, psicológica e patrimonial.
Além disso, da dificuldade em denunciar, muitas mulheres enfrentam julgamentos da própria sociedade, o que pode dificultar a busca por ajuda. “Perguntas como ‘Por que não denunciou antes?’ ou ‘Por que não saiu dessa relação?’ só aumentam o peso da culpa e afastam essas mulheres do acolhimento necessário”, enfatizou Ana Carolina.
O apoio da rede familiar e comunitária é fundamental. “Precisamos de uma sociedade que ouça e acredite nas mulheres, ao invés de questioná-las e invalidar suas dores”, disse.
Caminhos para a denúncia
Para mulheres que se encontram em situação de violência, existem diversos canais de denúncia e suporte. Em situações de emergência, o ideal é acionar o 190 ou o Batalhão Maria da Penha. Já para orientações e encaminhamentos, o 180 é um canal essencial.
Ana Carolina também ressaltou a importância de aplicativos de segurança, como o Mulher Segura, disponível em Goiás, que permite acionar rapidamente a polícia. Além disso, defensoria pública e advogados especializados desempenham um papel crucial na assistência às vítimas.
Um dos pontos centrais do debate foi o papel da educação na prevenção da violência de gênero. “Acredito que a educação seja uma força motriz para a transformação”, disse a advogada, citando Paulo Freire: “A educação por si só não muda nada, mas muda as pessoas que podem mudar a sociedade.”
Educação
Para ela, é fundamental ensinar desde cedo conceitos de respeito e igualdade, tanto para meninas quanto para meninos. “Criar filhos de maneira diferente, trazer debates para a escola, realizar palestras e eventos sobre violência contra a mulher são ações que fazem diferença”, afirmou.
Mãe de dois meninos, Rafael e Bento, Ana Carolina reforça que a mudança começa dentro de casa. “A gente precisa falar sobre isso sem medo. Muitas famílias evitam, mas é essencial ensinar que violência não é sinônimo de afeto, que puxar o cabelo de uma coleguinha não é sinal de gostar dela”, explicou.
O combate à violência contra a mulher exige um esforço coletivo, que passa pela denúncia, pelo fortalecimento das redes de apoio e, principalmente, pela educação. “O mundo não é a minha casa. Infelizmente, ele é bem pior”, concluiu Ana Carolina.
*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), na Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). ODS 05 – Igualdade de Gênero
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