Você já ouviu falar em explante mamário? Este é o nome da operação de remoção das próteses de silicone. Dados da International Society of Aesthetic Plastic Surgery (ISAPS) mostram que, de 2016 a 2020, houve aumento de 33% nas cirurgias para retirada dos implantes de mama. 

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A indicação para realização do procedimento pode partir do próprio médico, em função do tempo de inserção das próteses, ou como pedido do paciente. No entanto, pacientes tem buscado a cirurgia por causa da chamada “Doença do Silicone”. A suposta enfermidade, todavia, não possui comprovação científica, ou seja, não há testes específicos ou critérios para sua definição. 

“É muito injusto atribuir à prótese de silicone essa doença porque, na verdade, algumas mulheres podem desenvolver uma condição de um gatilho de um mecanismo autoimune de uma doença. Essa doença tem aspectos bastante inespecíficos, pode cursar com secura de olho, de boca, dores articulares, piora de sono, dores musculares, são sintomas muito inespecíficos, e muito difíceis de atribuir e garantir que esses sintomas sejam realmente relacionados à prótese de mama”, afirma. “Doenças autoimunes são muito comuns hoje na população”, complementa o mastologista Alexandre Marchiori, presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia Regional Goiás (SBM-GO)

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Contudo, se a paciente já apresentava predisposição ao desenvolvimento de doenças autoimunes, colocar a prótese pode ser um gatilho para a Síndrome Autoimune Induzida por Adjuvantes (ASIA). É quando substâncias externas provocam uma reação imunológica exagerada do organismo. Isso faz com que o corpo tente se defender da substância não reconhecida. As consequências, entretanto, podem ser processos inflamatórios ou condições clínicas. Estas, por sua vez, precisam de tratamento sempre com acompanhamento médico.

O médico mastologista Alexandre Marchori, presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia Regional Goiás (Foto: Sagres Online)

“Uma pressão de mídia, de grupos sociais que pode estar induzindo muitas mulheres a realizar algumas cirurgias que, na maioria das vezes, infelizmente, não amenizam os sintomas. Ou seja, não estava realmente relacionado com o fato de ela ter colocado implante no passado”, acrescenta o Marchiori, em entrevista à Sagres. 

Quando o explante é recomendado

Conforme dados da Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética (ISAPS), de 2016 a 2020, houve aumento de 33% nas cirurgias de explante. Entretanto, de acordo com Marchiori, a recomendação médica para cirurgia de remoção ou troca das próteses ocorre em situações específicas. 

“Desde que a prótese esteja evoluindo numa boa, esteja íntegra, não haja contratura capsular, e não desenvolva nenhum problema clínico, essa prótese pode realmente ficar para sempre. Mas, eventualmente, pode haver uma evolução com rotura do implante, e ele extravasar o conteúdo que não deveria estar em contato com a paciente e tem a necessidade de se realizar a retirada desse implante ou uma troca”, afirma. 

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Outros motivos para o explante, segundo o mastologista, é quando ocorre a contratura da cápsula fibrosa, ou quando há relação com a cicatriz ao redor do implante. “As próteses podem mudar a forma de uma maneira assimétrica trazendo desconforto estético e, principalmente, dor. Nessas pacientes que desenvolvem dor, a retirada dessa cicatriz, transformando novamente em uma prótese com aspecto natural, sem um aumento da tensão, alivia esse desconforto”, argumenta. 

Avaliação de especialistas

O médico, porém, recomenda parcimônia e avaliação de outros especialistas ao se tomar a decisão de realizar o explante mamário. “Cirurgia, por si só, tem risco. Tem custos, traz dor, tira do mercado de trabalho por alguns dias, da sua rotina habitual. Pensando em ASIA, nessa síndrome autoimune por adjuvantes, é preciso ter muita calma e parcimônia para tomar essa decisão de que a retirada [da prótese] realmente vai resolver os sintomas. Menos da metade das mulheres que se submetem a esse procedimento realmente deixam de ter os sintomas. É preciso selecionar muito bem cada caso. Uma avaliação de outros especialistas, principalmente um reumatologista, pode dar um respaldo”, conclui. 

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