Segundo pesquisa realizada pelo PoderData e divulgada na última quarta-feira (19), a desaprovação do governo federal alcançou 53%, um crescimento de dois pontos percentuais de janeiro para março. A queda da popularidade se encontra com a situação econômica do país, dentre os motivos, o preço dos alimentos que o brasileiro encontra nos supermercados, a questão habitacional e pagamento de impostos. 

No Pauta 2 da última semana, o professor de Economia da Universidade Estadual de Goiás (UEG), Marcelo Moreira, contou que o governo apresentou medidas para tentar reverter o índice e destacou o foco do governo na classe média do país. Mesmo assim, na opinião de Moreira, os efeitos das políticas adotadas podem aparecer somente no início do próximo ano. As medidas tem tendência econômica, mas visam o aspecto político para o governo, por isso foram avaliadas pelos especialistas.

Entre as medidas apresentadas está um Projeto de Lei (PL) enviado ao Congresso Nacional na terça-feira (18) que amplia a faixa de isenção do Imposto de Renda para R$ 5 mil, política que, se aprovada, deve beneficiar 10 milhões de brasileiros a partir de 2026. Além disso, o PL prevê um desconto parcial para quem ganha até R$ 7 mil. O importante para o professor é que a medida traz uma justiça fiscal.

“A medida realmente tem caráter distributivo e traz uma trajetória para uma reforma tributária progressiva”, analisou. “Ela busca de alguma maneira, como medida de caráter portanto distributivo a justiça fiscal com um elemento muito importante que está sendo debatido com uma ideia de tributação zero porque do ponto de vista para cima não haver um aumento de imposto, haverá um aumento na alíquota para quem recebe acima de um patamar, então, portanto com neutralidade tributária”, disse. 

Medidas do governo

Outra medida que apareceu no horizonte do Governo Lula é a criação de uma nova faixa no programa Minha Casa Minha Vida para atender a classe média. A nova faixa seria para famílias com renda mensal entre R$ 8 mil e R$ 12 mil, grupo que está fora dos contemplados no programa.

A proposta tem ainda taxas mais baixas e descontos para cotistas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). O governo afirma que a medida visa diminuir a pressão sobre o FGTS por causa do saque-aniversário e outras obrigações financeiras, mas a sua aceleração e foco na classe média também ocorrem em meio à pressão pela popularidade em queda do governo. Assim como o imposto de renda, é uma medida que tem valor real para a vida das pessoas, disse Moreira.

“É uma iniciativa para enfrentar os desafios habitacionais”, disse e frisou que o país realmente tem um déficit habitacional. “Propostas como essa tem a ideia de promover o desenvolvimento social e econômico porque vai englobar um setor que gera empregos num número significativo e que também é movimentado justamente por uma parcela da população que agora vai ser também beneficiada com a isenção do imposto de renda”, disse.

Marcelo Moreira vê impactos econômicos e políticos na medida. “Se tratarmos essas duas principais ações como redistribuição de renda, como uma melhor forma de redistribuir a renda na estrutura da divisão funcional da renda, então são duas medidas que tendem a contribuir. Do ponto de vista econômico ela garante um estímulo à economia e do ponto de vista político ela possibilita trazer dentro do debate para o governo um setor de classe de renda, a classe média, que será incluída”, explicou. 

Impacto político

O professor e cientista político Guilherme Carvalho (Imagem: Sagres TV)

O cientista político, Guilherme Carvalho, comentou que a economia é uma das medições mais importantes da popularidade de um governo porque as pessoas votam de acordo com a própria percepção de melhoria de vida, fato chamado de voto econômico dentro da Ciência Política. 

“Nós costumamos pensar e refletir a respeito de como a nossa vida era antes de um determinado governo e como ela está hoje, sempre realizando análises comparativas. Esse governo em especial tem uma dificuldade comparativa porque, além da comparação com governos anteriores, ele é comparado com ele próprio, com os outros governos Lula que alcançaram desempenhos econômicos mais substantivos”, disse.

Carvalho também comentou os dados da pesquisa que mostram um avanço da desaprovação do governo Lula. O professor disse que se comparado a outros momentos nunca houve um pico inflacionário dentro do atual governo de Lula e que isso abala a normalidade econômica. O resultado disso é que o eleitor chega no supermercado e sente os preços. No entanto, minimizou o impacto político a longo prazo.

“Não é uma sentença de morte do governo Lula e muito pelo contrário não é também uma sentença permanente. A gente há de ver que o resultados que as urnas conferiram foi muito apertado, a gente tem um Brasil quase que dividido em cinquenta a cinquenta e de fato qualquer porcentagem a mais de reprovação de ruim ou péssimo na avaliação pode significar que o governo Lula está perdendo a aprovação de pessoas que votaram nele. Então, isso é muito negativo. No entanto, não é uma sentença de morte porque em política toda a certeza é provisória, ela nunca é uma certeza permanente”, disse.    

Sendo assim, o professor explicou que o voto pela situação econômica sempre é mutável em algum momento.

*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), da Agenda 2030, da Organização das Nações Unidas (ONU). Nesta matéria, o ODS 16 – Paz, justiça e instituições eficazes.

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