A invasão e depredação do Congresso americano no dia 6 de janeiro, fez com que todos os olhos se voltassem para os Estados Unidos. Naquela tarde, quatro pessoas morreram e outras ficaram feridas. O ainda presidente do país, Donald Trump, instigava os invasores por meio da conta dele no Twitter.

A rede social então, ineditamente, suspendeu a conta do usuário por 12 horas e foi acompanhada por Facebook e Instagram, que também anunciou que suspenderia a conta de Trump.

Essa medida dividiu opiniões sobre a questão da liberdade de expressão. E para conversar sobre esses assuntos a edição do Sinal Aberto deste sábado (16) conversou com a advogada atuante na área do Direito Digital e Proteção de Dados, Andressa Almeida e a psicóloga, Ariana Fidelis.

Limite da liberdade de expressão

Andressa Almeida resume que o limite da liberdade de expressão é aberto a interpretações. Com isso, cada país tem um limite para a liberdade de expressão, tanto nos termos jurídicos quanto políticos. “Globalmente é uma questão muito difícil encaixar bem o que seria a liberdade de expressão e o que abrangeria seu limite”, pontua.

A advogada explica que isso acaba deixando as pessoas sem entendimento sobre quais são as punições e o que deve ser punido pelas redes sociais. “O presidente Trump, por exemplo, várias vezes violou as regras da política do Twitter. Porém, só agora, nesse contexto político, que foi realizada essa suspensão seguida do banimento da conta”, argumenta.

Revolução midiática civilizacional

O professor Carlos Nepomuceno explica que a sociedade vive um fenômeno social denominado Revolução Midiático Civilizacional. Isso significa que uma nova mídia chegou na sociedade causando uma grande transformação. Ele conta que quanto mais populoso está o planeta, mais sofisticada precisa ser a comunicação.

Carlos conta que a sociedade assistiu três momentos nesse processo. Em um deles, a uberização, marcou a chegada de uma nova linguagem. O pesquisador cita o exemplo do Twitter, onde é possível postar qualquer tipo de vídeo. Contudo, ao bloquear a conta de Trump, a sociedade começa a questionar o poder dessas big tecs.

Confira a explicação do pesquisador na íntegra:

Lado bom e ruim

Por outro lado, a psicóloga Ariana Fidelis explica que as redes sociais têm dois lados, um positivo e o outro negativo. “No lado positivo a gente percebe que muitas pessoas tiveram a possibilidade de ter voz, de ter participação ativa e ajudou pessoas no aumento da autoestima. Por outro lado, ela também incita muitas coisas ruins, com comportamentos negativos, a supervalorização da imagem e distúrbios de imagem”, conta.

Crimes

Embora as redes sociais pareçam um ambiente sem lei, a advogada Andressa Almeida explica que ela é uma extensão de nossa vida. Sendo assim, há punição para manifestação de racismos, homofobia entre outros crimes que seriam punidos na vida real. “O que é difícil hoje em dia é aplicar essa punição. Por exemplo, como encontrar essa pessoa, porque as vezes a pessoa faz isso anonimamente”.

Nesse sentido a advogada defende que deve haver a suspenção da conta quando o usuário apresente estar violando as regras da política do espaço da rede social.

“O que aconteceu com Trump se justifica. Ele já vinha violando várias regras. O que não se justifica é a forma como foi realizada. Não foi de maneira clara e uniforme. Por exemplo, por que só agora, nesse contexto político ele foi suspenso e não quando ele reiterava discursos de ódio”, defende.

Análise comportamental

A psicóloga Andressa Almeida analisa que muitas pessoas estão sem um significado do que elas precisão fazer. Segundo ela, isso é resultado da forma como a pessoa foi educado. Por isso, quando essa geração vai para as redes sociais acredita-se que tudo pode ser feito.

“Não só na rede social. A gente já vem com isso estabelecido a partir da educação que a gente teve. Muitas vezes a gente foi educado acreditando que a gente pode tudo, então vem a rede social onde nós podemos nos expressar, onde vemos a possibilidade de se expressar sem, aparentemente, ser punido, eu então me comporto de maneira inadequada”, explica.