Francisco Tavares e Giordano de Souza nos estúdios da Sagres 730 (Fotos: Jéssica Dias/Sagres On)

Os 200 primeiros dias de governo do presidente Jair Bolsonaro (PSL) estiveram em pauta no Debate Super Sábado (20) desta semana na Sagres 730. O bacharel em Direito, doutor em Ciência Política, coordenador do Grupo de Estudos e Pesquisas Sócio-Fiscais da UFG, Francisco Tavares, avalia que o governo segue na contramão do que defende como política liberal. 

“Na chamada modernidade pós-iluminista, no mundo civilizado, desde o século 18, Poder Executivo precisa negociar, precisa compor com o Poder Legislativo e precisa obedecer ao Poder Judiciário. Do ponto de vista político, a marca deste governo é o não-comportamento ou inconformidade com os padrões da chamada democracia liberal em favor de uma cultura que a gente define tecnicamente na essência política como autocrática, ou seja, um governo que não quer se submeter nem à norma, nem ao sistema político-partidário, mas apenas aos seus próprios desígnios e de sua família”, analisa. 

Para o economista, Assessor de Assuntos Internacionais do Governo de Goiás, Giordano de Souza, o Brasil passou por mudanças no processo pós-impeachment, o que inclui a divisão política da sociedade. 

“O que a gente observa hoje nessa lentidão, nessa readequação muito lenta dos processos, algo de trauma, de uma sociedade que pareceu também dividida, desde o trauma primeiro da eleição da Dilma (Rousseff) quando a sociedade já teve um primeiro face a face com o que era uma divisão, com a derrota do Aécio (Neves) naquele ano de 2014. Hoje estamos ainda tentando cuidar da muda, ainda não conseguimos a colheita”, avalia. 

Reforma da Previdência 

Aprovada em primeiro turno na Câmara, a proposta ainda precisa ser analisada e votada no Senado Federal. Para Giordanno de Souza, os privilégios têm sido uma dificuldade do governo quando o assunto é a Previdência. 

“O poder político, como sempre, vai seguir com problemas para retirar privilégios ou benesses. É o desequilíbrio de contas. Hoje se concede um benefício fiscal em detrimento a vários setores. Amanhã, olha, não posso mais manter, vai ter problema, vai ter choro de ameaça de retirada de investimentos da economia, todas as áreas”, afirma. “Os 20 anos anteriores do processo anterior de gestão, se tornou um modelo expansionista, ilusionista muitas vezes, no processo de que ele criava um mercado para poder gerar o chamado incentivo emocional do empresário, do investidor. É um ânimo do mercado que dependia disso. Mas também todo o contexto internacional para o investimento estava favorecido a essa situação”, acrescenta. 

Para Francisco Tavares, mesmo com a reforma, a economia do país continua favorecendo apenas a camada economicamente mais favorecida da população no Brasil. “Para os 10% mais ricos, esse país é um paraíso fiscal. Para os 20% mais pobres, esse é um país que confisca, que tributa a ponto de inviabilizar a vida das pessoas. Países desiguais não conseguem crescer. Em vez de reduzir desigualdades, esse governo aposta na desigualdade e faz as velhas políticas contracionistas que, por exemplo, o FMI semana após semana publica estudos mostrando que não funciona”, pontua. 

Embaixada brasileira nos Estados Unidos 

Uma polêmica recente da gestão de Bolsonaro é a indicação do próprio filho, o deputado Eduardo Bolsonaro, para assumir o posto de embaixador do Brasil nos Estados Unidos. O economista Giordano de Souza acredita que a nomeação seria um indicativo de prioridade para negociar com o presidente Donald Trump. 

“Eu acredito que seja por esse motivo que o presidente Bolsonaro tenha indicado o filho dele, por uma perspectiva de demonstrar um alinhamento incontestável com a política do Trump. Ao mesmo tempo a gente observa que existe nessa identidade conservadora que pequenas ações que deixam parte da sociedade chocada”, destaca. 

Já para Francisco Tavares, a indicação de um filho para uma embaixada representa um retrocesso. “Nomear o filho no posto mais importante, um dos mais prestigiados lá no Itamaraty, que é onde ficam os nossos diplomatas, que o posto dos Estados Unidos em Washington, não é exatamente conservadorismo, ao meu juízo”, discorda. “A administração pública deve ser impessoal, ou seja, os critérios para alocação de postos e cargos não podem ser por afinidades pessoais como são aquelas que unem pais e filhos. Então para nós conservarmos a nossa sociedade segundo seus valores postos na Constituição, nós não podemos romper com a impessoalidade. Isso seria voltar a um tempo da monarquia, do país colônia, que seria então ir de ré, seria um pensamento reacionário, não é conservador, portanto”, afirma.

Na enquete promovida pela Sagres 730 no Instagram, 62% dos ouvintes gostaram do primeiro semestre de Jair Bolsonaro no Palácio do Planalto, contra 38% descontentes. Os dados são das 11h23 da manhã deste sábado (20).

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