A fé está presente no nosso cotidiano, seja acreditando em si mesmo, no universo ou em um ser superior. Perguntas relacionadas a fé dos enfermos podem se tornar comuns na rotina dos consultórios médicos do país após um novo documento lançado pela Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp), que detalha a importância da espiritualidade para os pacientes.

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A sugestão seria que ao investigar a vida do paciente, o profissional dê a mesma dimensão para questões clássicas, como hábitos alimentares, e aquelas associadas à espiritualidade.

Segundo o cardiologista e integrante do grupo de Estudos de Cuidados Paliativos da Socesp, Daniel Dei Santi, a espiritualidade é uma forma forte de enfrentamento de doenças. “Grande parte desses pacientes não vão falar o quanto isso é importante, mas a gente sabe que quando eles têm esse auxilio fica mais fácil enfrentar a doença. O enfermo consegue usar desse artifício para enxergar alternativas e melhorar seu estado de tristeza. O ato da fé pode ajudar diretamente na reabilitação e na aderência medicamentosa, pois as coisas tendem a fazer mais sentido”, explica.

Daniel esclarece que, às vezes, os pacientes ficam sem esperança. “Eu não tenho dúvida de que a fé é um grande auxílio. E isso não é uma coisa que pode ser imposta, precisa ser da vontade do paciente, tem que fazer sentido para ele. Assim o enfermo consegue caminhar com esse auxílio”, esclarece.

Mudança de vida

Luanna Dias conta que a fé foi a grande responsável por dar força a ela em um dos momentos mais difíceis de sua vida. A descoberta de uma alteração nos exames da filha, aos três meses de gestação, mudou a forma como Luanna enxergava a vida.

“Nos primeiros meses eu tive uma gravidez normal. Com 18 semanas eu marquei um ultrassom de rotina, pois não estava conseguindo descobrir o sexo do bebê, foi então que recebi a notícia que ela teria uma alteração na cabeça”, conta.

Luanna Dias grávida de seis meses

A pequena Dianna, que hoje está com um aninho de idade, recebeu esse nome de uma super-heroína. Ela foi batizada com o nome da Mulher maravilha, não por acaso, mas porque começou a travar batalhas muito antes de nascer.

Luanna conta que após a descoberta da alteração na cabeça da filha, precisou aguardar mais três semanas para realizar os demais exames. “No dia da minha consulta com um especialista em medicina fetal o médico me explicou que a coluna da minha bebê estava aberta, as raízes nervosas e a medula dela estavam expostas e foi aí que eu descobri que ela tinha mielomeningocele  e hidrocefalia leve”.

Comemoração dos 4 meses de vida da Dianna

A mãe de Diana explica que a gravidez foi complicada e que a equipe médica decidiu antecipar o parto. “A doença não parava de evoluir na barriga e em todas as consultas as lesões aumentavam. Quando eu marquei o parto com 7 meses, ela nos surpreendeu nascendo ainda antes do previsto”.

No dia 15 de agosto de 2020, a Dianna veio ao mundo, mas ao nascer a pequena teve Anóxia Neonatal, que é a privação ou a diminuição de oxigênio no cérebro, e insuficiência respiratória aguda tendo que ser entubada imediatamente. Luanna ressalta que se não fosse a fé, ela não teria conseguido passar por tudo que viveu.

“Eu tenho muita fé e acredito que Deus existe! Se não fosse ele a Dianna não estaria aqui hoje. Milha filha luta pela vida muito antes de nascer e essa força é vinda Dele”, afirma.

A enfermeira Raíssa Oliveira conviveu com a Dianna desde a internação na UTI neonatal. “A força que ela tinha e a vontade de sobreviver nos ensinou a ter mais gratidão pela vida e mais fé em Deus”, explica.

A pequena Dianna precisou ficar três meses na UTI Neonatal e mais três meses na UTI Pediátrica, tempo mais que suficiente para conquistar o coração das enfermeiras. A técnica de enfermagem Camila dos Santos conta que sentiu a presença de Deus vendo a luta da menina. “Através daqueles pequenos olhinhos eu pude perceber a fé renovada a cada instante”.

A psicóloga clínica Joana Nerys acredita que a fé é um instrumento importante para superar momentos difíceis. “Dificuldades, doenças e traumas podem ser amenizados. A fé é importante porque faz com que a pessoa confie em algo maior que ela, que dá apoio, que ajuda e oferece suporte nos momentos em que o indivíduo não se sente capaz”.

A psicóloga ressalta que um dos principais benefícios de acreditar no que não é visível aos olhos é o sentimento de conforto. “Um grande exemplo disso é o cristianismo, em que os fiéis enxergam Deus como pai, um ser que conforta, dá suporte e apoia. Então com certeza a crença em algo maior, em um ser que é bondoso, ajuda e oferece conforto”.

Agora, Luanna ora e deseja que a filha seja saudável e feliz. “Peço a Deus que ela seja uma criança esperta, feliz, que ela brinque, tenha infância, adolescência e juventude. Quero que ela passe por todas as fases da vida dela com muita resiliência, saúde, paz e que ela possa vencer tudo que está por vir”.

Hoje, em casa, a Dianna recebe cuidados de vários médicos, que cuidam da parte física, e cuidados dos pais, que fortalecem o espírito.

#Forma do Bem Sagres

Esta é a primeira reportagem da nova série inspirada no filósofo grego Platão. Ele descreve “A Forma do Bem”, como uma “Forma” (Ideia) análoga ao Sol que seria uma manifestação física que, assim como o Sol torna os objetos visíveis gerando vida sobre a Terra. O “Bem”, nesse conceito excede a vida, permite transcender para o além. Essa é a forma que, segundo Platão, permite ao filósofo, em treinamento, avançar para um rei-filósofo.

A Forma do Bem Sagres é um espaço de diálogo com a sociedade, alcançando as pessoas com conhecimento, reflexões e indagações. A cada semana, nos próximos três meses, apresentaremos novos conteúdos que vão te ajudar a ir além e a construir a sua navegação pelas rotas da transcendência.