20% mais faltas. 11% mais cartões amarelos. 16% mais cartões vermelhos. Na Itália, jogadores de pele mais escura foram mais advertidos do que os de pele mais clara. É o que apontou um estudo sobre viés racial da arbitragem realizado por estudantes norte-americanos, publicado na revista Sociology, da Associação Britânica de Sociologia (BSA, na sigla em inglês).

Influenciados por pesquisas feitas nas ligas esportivas americanas, Beatrice Magistro e Morgan Wack, das universidades de Toronto e Washington, identificaram um padrão semelhante na Serie A, a primeira divisão do futebol italiano. Até mesmo os árbitros, treinados para julgarem de forma neutra, estão sujeitos a decisões com viés racial.

Metodologia de pesquisa

Em ‘Racial Bias in Fans and Officials: Evidence from the Italian Serie A’ (“Viés racial de torcedores e árbitros: evidências da Série A italiana”, em tradução livre do inglês), os pesquisadores levantaram dados como desarmes, faltas e cartões de todas as partidas do campeonato entre 2009 e 2021.

Ao cruzar as ocorrências por 20 diferentes tons de pele – conforme a base do Football Manager, jogo eletrônico de simulação de futebol -, veio a constatação: os jogadores de pele mais escura receberam mais advertências por faltas e cartões do que os de pele clara.

Influência da arquibancada

A descoberta foi “perturbadora”, disse Magistro ao jornal britânico The Guardian. “Ficamos pensando que talvez não seja só o árbitro, que talvez também seja o barulho que eles ouvem das arquibancadas”, acrescentou a pesquisadora. O estudo, que inicialmente seria entre 2009 e 2019, se estendeu para o período pandêmico.

Durante a temporada 2020-21, em que as partidas foram disputadas com portões fechados, não foi registrado um viés racial para as decisões dos árbitros. No entanto, Magistro ressaltou que, “como aconteceu apenas durante um ano, não queremos apontar todo o racismo vem dos torcedores”.

De toda forma, o estudo demonstrou a necessidade por mais ações das autoridades contra incidentes racistas de torcedores, recorrentes no futebol italiano. A Secretaria Nacional contra a Discriminação Racial (Unar, na sigla em italiano) criou um observatório no esporte, e em seu primeiro ano registrou 211 casos.

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