A educação é a solução para diversos problemas e é essencial para a formação do cidadão e transformação da sociedade. O ideal é que o estudo comece ainda na infância para que a construção do saber seja gradual à medida que elas cresçam. O problema é que essa oportunidade não chega para todos, pois em muitas regiões, onde há um grande índice de pobreza, as crianças precisam ajudar no sustento da família, trabalhando ou auxiliando os pais com os irmãos mais novos.

De acordo com dados de uma pesquisa divulgada pelo Unicef, 11% das crianças e adolescentes entre 11 e 19 anos estão fora da escola no Brasil. Isso representa cerca de 2 milhões nessa faixa etária longe dos bancos escolares.

Lucas Avelar (Foto: Sagres Online)

Essa realidade reflete em adultos e no aumento do percentual de pessoas analfabetas do Brasil. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua) 2019, a taxa de analfabetismo das pessoas de 15 anos ou mais de idade foi estimada em 6,6% cerca de 11 milhões de analfabetos.

Etarismo

Trata-se da discriminação por idade contra uma pessoa ou grupo etário com base em estereótipos. O etarismo é um tipo de preconceito e pode assumir muitas formas, e que vai desde atitudes individuais até políticas e práticas institucionais que perpetuam a discriminação em função da idade.

Lucas Martins de Avelar compõe a coordenação do Fórum Goiano de Educação de Jovens e Adultos (EJA). Ele pontua que para compreender a importância da educação de jovens, adultos e idosos é necessário entender que a escola tem uma função social muito importante, e que não há idade para estudar e aprender, já que o aprendizado deve ser constante.

“A escola tem a função de fazer com que as pessoas tenham acesso aos conhecimentos que podem fazer com que elas tenha uma ampliação da sua leitura da realidade, para que saiam da cotidianidade, muitas vezes alienada, do ‘olha para o próprio umbigo’ e vislumbrar outras possibilidades e outras oportunidades de se inserir no mundo, de se relacionar com as pessoas, de buscar formas mais dignas de existência”, afirma.

Outro ponto preocupante é a pandemia. Durante esse período, as desigualdades foram aprofundadas. Elas, no entanto, segundo Avelar, já estavam ali, com o agravante de que agora estão mais visíveis, e contam com o fator do etarismo.

De acordo com Avelar, esse conflito de gerações ocorre devido a invisibilização do idoso. A construção da juventude nos evidencia uma cultura de violência que vai sendo criada e inserida nas pessoas.

“Ele existe por conta da invisibilização da população adulta idosa como sujeitos de conhecimento e aprendizagem. Muitas vezes se tem uma ideia do adulto idoso como pessoas que estão no mercado, a partir do momento em que ele sai do mercado produtivo, há uma tendência de matar essas pessoas em vida. Não se consegue compreender que enquanto vida a pessoa tem ela é um sujeito de conhecimento, de aprendizado. A gente não para de aprender”, reforça.

Em busca do sonho

Giseuda Alves veio do Maranhão para Goiás aos 11 anos, mas só conseguiu estudar depois de criar os filhos e superar um câncer (Foto: Sagres TV)

A dona Giseuda Alves é um exemplo de quem teve de criar os filhos primeiro, superar todas as dificuldades da vida para só então conseguir se dedicar ao sonho de estudar.

“Ainda quero me formar em Biologia. Quero fazer o curso de Fitoterápico, estou fazendo tratamento com fitoterapia. É isso que eu quero, me formar. Vai dar certo”, vislumbra.

“É muito bacana quando você vê pessoas idosas nessa busca também, porque essa busca dá força e energia para a gente continuar, a esperançar pelo melhor”, diz Iury Sparctton, professor de Giseuda na EJA em Aparecida de Goiânia.

Maria Aparecida Santana é professora de Português da Giseuda. Ela se dedica à educação há 23 anos e já deu aula para todas as faixas etárias. Porém, foi no ensino de jovens e adultos que ela se encontrou.

“Eles chegam aqui dizendo assim ‘eu não sou capaz, eu não vou aprender’. Então a gente começa a vincular essa vinda deles e esse nosso ensino, que é um ensino diferenciado, por eles serem adultos. Eu me sento ao lado deles e dedico aquele tempo a eles, isso é gratificante, isso me preenche como professora. Que sentido tem eu ser professora se o aluno não precisa de mim?”, questiona.

Maria Aparecida Santana (Foto: Sagres TV)

Assista a seguir à reportagem de Palloma Rabêllo

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