Saber ler e escrever desde a infância é um dos primeiros passos da vida. Porém, nem todos têm acesso à alfabetização no país, principalmente quando se trata da idade adequada. Esse é o caso da costureira Rosália Pereira de Jesus, que mora em Aparecida de Goiânia.

“Eu tive uma infância muito difícil. Parei de estudar no 4º ano. Em 2004, voltei a estudar. Só que em 2006, eu engravidei da minha filha caçula, e tive que parar novamente de estudar. Aí, em 2018, resolvi retornar, e está sendo muito bom para mim”, relata Rosália.

Rosália precisou parar de estudar mais de uma vez (Foto: Sagres TV)

Mãe por três vezes, Rosália conseguiu dar aos filhos o que ela não pôde ter: a alfabetização na idade certa. E foi exatamente neles que ela se inspirou para voltar a estudar.

”Meu filho mais velho terminou os estudos. O do meio já é formado, fez duas faculdades. Eu tenho uma moça de 15 anos, que vai entrar agora no primeiro ano do Ensino Médio. Eu falei ”Quer saber? Vou voltar a estudar também”, porque aí vamos ser todos nós formados. E eu pretendo fazer um curso mais para frente”, revela a costureira.

Segundo dados de 2019 do Instituto Mauro Borges (IMB), há 285 mil analfabetos funcionais em Goiás. São aqueles que, embora saibam reconhecer letras e números, não conseguem compreender textos simples e tampouco realizar operações matemáticas mais elaboradas.

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Prioridade no ensino público

Giselle Pereira Campos, superintendente da Seduc-GO (Foto: Sagres TV)

Nesse sentido, alfabetizar na idade certa é um dos objetivos do AlfaMais Goiás. Desenvolvido pela Secretaria Estadual de Educação de Goiás (Seduc), o programa tem como objetivo reduzir os índices de alfabetização incompleta entre as crianças matriculadas nas redes públicas de ensino até o 2º ano do Ensino Fundamental.

Essa incompletude na alfabetização pode prejudicar os estudos no futuro. “Quando você não conclui esse processo de alfabetização no segundo ano do Ensino Fundamental, você faz com que o estudante leve uma defasagem por toda a sua vida acadêmica”, analisa Giselle Pereira Campos, superintendente de Educação Infantil e Ensino Fundamental da Seduc.

A iniciativa inclui pagamento de bolsas para profissionais envolvidos no programa, com valores entre R$ 600 e R$ 2 mil, e premiações para as 150 melhores escolas públicas. ”Essas escolas vão adotar, cuidar de outras unidades que precisam avançar nos resultados. Temos avaliação de fluência. O estudante lê e por um aplicativo a gente sabe como está a fluência leitora dele”, destaca a superintende.

Cerca de 200 mil estudantes e 8 mil profissionais da Educação nos 246 municípios goianos devem ser beneficiados com o projeto. Entretanto, a Giselle reconhece que o desafio é ainda maior, por conta do déficit causado pela pandemia. “Temos um problema seríssimo na alfabetização, porque se esse aluno tem que concluir no segundo ano, e no ano passado não teve aula presencial, só da metade do ano em diante, quer dizer que ele já está com déficit”, avalia.

A Rosália está cursando o terceiro ano da Educação de Jovens e Adultos (EJA), em Aparecida de Goiânia. Ela sonha em iniciar a carreira na área da Saúde, como enfermeira, e sabe que vai ter o apoio de quem contou com a dedicação dela para vencer na vida. “Meu filho do meio fala para mim: ‘Nossa, minha mãe vai terminar os estudos, vai se formar e eu estarei lá para comemorar junto com ela'”, relata a costureira.

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