A educação é, ao mesmo tempo, um desafio e uma inspiração para Bárbara Bombom. Mulher preta, trans, atualmente digital influencer e performista, ela começou a trabalhar cedo como faxineira e trancista, depois de aprender a fazer tranças com a tia em casa.

A goiana integrou neste sábado (20) a conferência “Acesso à educação: uma importante conquista”, no último dia da Expofavela 2023. Foi a primeira edição estadual do evento em Goiânia.

Bombom, que representa o quilombo Vó Rita, em Trindade, relatou, no entanto, as dificuldades enfrentadas por crianças e adolescentes de sua comunidade na escola, realidade que ela própria também vivenciou no ambiente escolar.

“Estamos há algum tempo buscando que a escola em nosso quilombo seja uma escola quilombola. Que venha trazer, dentro da escola, a educação quilombola. A gente ainda não conseguiu. É muito difícil para uma criança, criada dentro de casa com uma educação quilombola e se depara com uma realidade diferente. Ela ouve que ‘isso não pode’, ‘isso não é certo’. Isso confunde a cabeça da criança. Então ela não consegue nem ser uma boa aluna e nem entender a cultura que ela vive, que passa de pai para filho”, conta.

Primeira Expofavela em Goiás foi realizada no Centro de Convenções em Goiânia (Foto: Johann Germano)

Além disso, Bárbara Bombom conta que teve de deixar a escola muito cedo. A digital influencer relata que, muito jovem, acabou desistindo dos estudos. “Desisti da escola muito cedo, pelas piadinhas, por não poder ir ao banheiro. Por ser trans, tinha de ir ao banheiro masculino, então fui agredida, fui atacada. Muitas vezes atacada com palavras por professores e superiores dentro da escola”, afirma.

Empreendedorismo

Hoje, porém, Bombom retornou à sala de aula. Ela cursa o primeiro ano da Educação de Jovens e Adultos (EJA). Nas redes sociais, a digital influencer e empreendedora milita pela igualdade racial, por respeito à comunidade quilombola e à comunidade LGBTQIAPN+.

Renê Silva, fundador do jornal Voz das Comunidades (Foto: Johann Germano)

O fundador do jornal comunitário Voz das Comunidades, do Rio de Janeiro, Renê Silva, também esteve no evento para a conferência “Ascensão social por meio do empreendedorismo”.

Renê reconhece a importância da educação e da inclusão para a promoção do empreendedorismo nas periferias.

“Educação é o melhor caminho para que a gente possa, de fato, fazer uma transformação, uma revolução nas favelas e periferias e do povo preto dessa país. Só através da educação é que a gente consegue ter essa mudança que a gente tanto fala há tantos, e usando, obviamente meios como a tecnologia, as informações hoje, a gente tem muitas coisas em nossas mãos. Mas é preciso que cada vez mais haja investimento em educação para as pessoas que moram dentro das favelas”, pontua.

Acesso à educação e visibilidade

Assim como milhares de crianças e jovens das periferias, Bárbara Bombom não conseguiu ter o mesmo acesso à educação que a parcela privilegiada da sociedade. A Expofavela 2023 Innovation levanta este debate, ou seja, a importância do acesso à educação e às novas tecnologias.  

Presidente nacional da CUFA, Kalyne Lima (Foto: Johann Germano)

“Dentro das favelas a gente tem diversas experiências que envolvem a educação, na transformação, na oportunidade, na ressignificação de jornada das pessoas. Aqui a educação é um pilar extremamente importante. A gente entende que muitos empreendedores atravessam uma situação difícil em sua vida, teve de fazer seu próprio negócio acontecer porque perdeu o emprego ou coisa do tipo, e que às vezes falta oportunidade de ter educação financeira, saber impulsionar o seu negócio, saber mexer com tecnologia. Então a base da educação é super importante para a Expofavela”, afirma Kalyne Lima, presidente nacional da Central Única das Favelas (CUFA).

Ademais, o presidente da CUFA Goiás, Breno Cardoso, acredita que a educação é a chave para que todas as pessoas da periferias possam alcançar o protagonismo em suas vidas.

“A educação é a chave para todos os caminhos. A gente acredita que essas populações da periferia não só precisam mas devem ser protagonistas de suas histórias, e não massa de manobra. A educação permite isso, é um dos caminhos para que se possa ser protagonista de sua própria história”, conclui.

Breno Cardoso, presidente da CUFA Goiás (Foto: Johann Germano)
Leia mais

Lei que estabelece Semana de Combate ao Feminicídio é sancionada em Goiás

Programa Jovem Trabalhador realiza mutirão de inscrições na Agrotins

Professores de Goiás são finalistas em prêmio nacional de Educação