Favelas e Periferias: fontes de talentos, poderio produtivo!

No imaginário coletivo das classes dominantes, o que se imagina sobre esses territórios é que favelas são palcos deviolência, tráfico, carência e miséria. Ora, não precisa nem dizer quantos são os problemas das periferias. Mas a questão é, quando estigmatizamos o território, passamos a imaginar que todos daquele recorte carregam os mesmos problemas, e é justamente dessa imaginação que criam-se os preconceitos e ignora-se o que de fato predomina nessas regiões: talentos naturais e um enorme potencial de produção!

O Instituto Data Favela trouxe, em estudo lançado recentemente, dados relevantes: o número de favelas brasileiras, infelizmente, dobrou na última década (de 6.239 para 13.151) e 17 milhões de pessoas vivem nelas, sendo que 67% desta população é de pessoas negras. Outro destaque do estudo é que 8 em cada 10 moradores têm, já tiveram ou pretendem ter o próprio negócio, tornando o empreendedorismo o principal sonho profissional nas favelas. Ainda no mesmo estudo, constatou-se que os moradores de favelas brasileiras reúnem um poder de consumo de R$ 119,8 bilhões por ano – superior ao PIB de países como Paraguai, Uruguai e Bolívia.

Ciente desta potência produtiva e da falta de oportunidades que o morador de periferia enfrenta, Celso Athayde, da Favela Holding e fundador da CUFA, realizou no mês de abril a primeira edição da Expo Favela, evento que reuniu em São Paulo, mais de 400 empreendedores e startups de favelas, conectando a investidores e empresários do asfalto. A ideia é que essas conexões democratizem as oportunidades e incentivem as iniciativas da favela. A exposição colocou a periferia no centro do debate e contou com palestras de personalidades como Luciano Huck, Alok, Cafu, Luiza Helena Trajano, Kondzila, Minotauro, Geraldo Rufino, Rick Chesther, Emicida, Regina Casé, Ricardo Nunes e Preto Zezé.

O acontecimento colocou em evidência a capacidade de produzir, empreender, gerar ideias, negócios, expressar e impactar que há nas favelas e mostrou que não deixa a desejar para o que é produzido em outros territórios ou em qualquer outra camada da sociedade. Aliás, tudo isso na favela vem acompanhado do componente cultural oriundo da identidade desse povo, o que abrilhanta muito mais o todo. Estamos falando de geração de oportunidades e de resultados extraordinários, que para muitos não eram esperados, mas que pra nós não é nenhuma novidade.

A Expo Favela foi mais um marco que resulta em ressignificação, ocupação de espaços, quebra de paradigmas e se transforma em mais uma prova palpável da enorme potência desses territórios. Uma constatação de que essa capacidade produtiva já não pode ser mais negada e muito menos escondida, mesmo sabendo das diversas barreiras que ainda precisam ser vencidas. Por isso, quando fica exposto este cenário, duas certezas ficam claras. Primeiro: há muito ainda a ser feito. Segundo: não é hora de parar, estamos avançando!

Breno Cardoso é presidente estadual da CUFA, fundador da Central das comunidades, favelas e periferias e empreendedor social.