As relações interpessoais envolvem os vínculos estabelecidos entre indivíduos distintos, abrangendo diferentes formas de relacionamento, como amizade, amor ou laços familiares. Em muitas situações, a escola representa o primeiro espaço em que as pessoas, especialmente crianças, têm a oportunidade de interagir com outras que não pertencem à sua família. Tornando-se, portanto, um ambiente fundamental para o desenvolvimento social.
“As relações que acontecem na família e as relações que acontecem na escola podem se aproximar em vários aspectos. Mas, elas também podem ser complementares em outros. A família tem os seus valores, a sua forma de pensar, a sua forma de entender. Porém, a criança pode ser influenciada pelas discussões, pelas questões e pelas provocações que são feitas pela escola“, destaca a professora Marilene Proença, em entrevista a Alessandra Ueno do Jornal da USP.
“A escola não tem o papel de mudar a família, de alterar os valores da família. Mas, ela vai poder dialogar com essa família sempre que necessário para se pensar alternativas em relação à criança, em relação ao processo educacional“, completa a professora do Departamento de Psicologia da Aprendizagem do Desenvolvimento e da Personalidade do Instituto de Psicologia da USP.
Censo escolar
De acordo com informações divulgadas na primeira fase do Censo Escolar de 2022, há mais de um milhão de crianças e adolescentes, com idade entre 4 e 17 anos, que não estão matriculados em escolas. Tal situação é alarmante não apenas sob o aspecto educacional, mas também do ponto de vista psicológico, pois afeta diretamente a formação do indivíduo.
“Nós precisamos compreender que o espaço de escolarização é composto tanto pela construção do conhecimento quanto pela construção da sociabilidade, das relações interpessoais, da convivência, do enfrentamento às discriminações que existem na nossa sociedade. Esses dois maiores aspectos são indissociáveis: o conhecimento e a convivência“, pontua a professora.
A pandemia da covid-19 é um exemplo de como o distanciamento das interações escolares pode afetar negativamente a educação. “As crianças que ficaram muitos meses em casa, principalmente as crianças pequenas, tiveram uma impossibilidade de conviver com outras crianças, de estar em espaços de socialização. Todo esse processo precisa ser retomado com bastante tolerância, com bastante paciência. Mas, também considerando que as crianças têm essa plasticidade e que, com certeza, estarão superando isso da melhor maneira possível“, explica Marilene Proença.

“É uma questão de tempo, é uma questão de inserção de propostas, de atividades, de projetos que venham a incentivar a convivência e a socialização. É um momento também muito importante de reflexão na educação de maneira geral. As escolas têm que estar atentas a esse processo. Ao mesmo tempo, trazendo as oportunidades para que as crianças vivam novas experiências que elas não tiveram no momento de isolamento social“, conclui.
Desafios
A escola é um ambiente de grande diversidade e é fundamental para o entendimento da convivência em sociedade. No entanto, infelizmente, esse espaço não está imune às práticas discriminatórias que ocorrem fora dele.
“A escola é um importantíssimo espaço de formação de relações interpessoais, porque é nela que nós vamos ter a grande diversidade das famílias, dos valores, das classes sociais, das formas de vida que vão estar ali convivendo no dia a dia. Nós não vamos encontrar relações homogêneas nas quais as pessoas são todas semelhantes, pelo contrário, nós vamos encontrar justamente essa diversidade“, argumenta a especialista.
“Essa diversidade que a escola tem é, por um lado, um ganho fundamental e, por outro lado, um desafio para o processo educacional incluir essa discussão. Hoje, nós sabemos que grande parte dos problemas como bullying, violência contra a escola, contra as crianças , contra os próprios professores, é fruto justamente de um processo de contínuas discriminações que acontecem na sociedade e que são muitas vezes reproduzidas no interior da escola“, acrescenta.
Escola, família e comunidade
A fim de prevenir a ocorrência dessas violências, a professora enfatiza a importância da integração entre a escola, a família e a comunidade. “Todos esses aspectos precisam ser englobados no interior do processo educativo, nos currículos escolares, nas discussões que são feitas pelas disciplinas para que a escola possa tratar desses temas da forma mais ampla possível. Nós vamos precisar realmente identificar as temáticas e construir programas que venham a dar conta dessa realidade. É preciso um envolvimento de todas as séries da escola, dos professores, das famílias, do bairro“, justifica.
“Eu considero que é muito importante que a escola sempre esteja construindo formas de apresentar esses projetos no ensino, articulando com as famílias. É muito importante que as famílias, desde a creche até o ensino médio, possam ser co-autoras desse trabalho. Além disso, possam estar também conhecendo como os seus filhos estão aprendendo”, finaliza.
*Esse conteúdo está alinhado com o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU 04 – Educação de Qualidade
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