A França tentará barrar o acordo comercial com o Mercosul no Conselho da União Europeia (UE). A parte política do acordo terminou nesta sexta-feira (6), em Montevidéu, no Uruguai, após reunião da 65ª Cúpula de Chefes de Estado do Mercosul. Na ocasião, os chefes de Estado do Mercosul receberam a representante da União Europeia, Ursula von der Leyen.
O acordo de livre comércio que reduz as tarifas de exportação entre os países que compõem os blocos se arrasta há 25 anos. O fim das negociações é um alívio para Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai – países do Mercosul. Mas não agradou a França, que ainda vai tentar barrar o acordo.
“A luta não acabou”, escreveu Sophie Primas, ministra do comércio exterior da França na sua conta no X (antigo Twitter) logo após o anúncio.
“O que está acontecendo em Montevidéu não é a assinatura do acordo, mas a conclusão política da negociação. Isto não vincula os Estados-Membros. Cabe agora ao Conselho Europeu e depois ao Parlamento Europeu exprimirem-se. A França lutará em cada passo do caminho ao lado dos Estados membros que partilham a sua visão”, afirmou.
#Mercosur : le combat n'est pas terminé.
— Sophie Primas (@sophieprimas) December 6, 2024
Ce qu'il se passe à Montevideo n’est pas une signature de l’accord, mais la conclusion politique de la négociation. Celle ci n'engage pas les États membres.
C'est maintenant au Conseil européen puis au Parlement européen de s'exprimer.…
Exigências ambientais
Desde 2019, a França afirma que não concorda com o atual texto do acordo. O país coloca as exigências ambientais como o principal motivo de sua posição contrária à assinatura entre as partes. Na quinta-feira (5), véspera da reunião no Uruguai, o presidente francês, Emmanuel Macron, afirmou a Von der Leyen que o texto do acordo ainda não é aceitável.
“O projeto de acordo UE-Mercosul é inaceitável em seu estado atual”, disse Macron.
Em visita oficial ao Brasil no início do ano, ele reforçou que deseja alterações no texto e explicou as preocupações da França.
“Esse acordo é um freio para o que estamos fazendo para retirar o carbono das economias e lutar pela biodiversidade. Nós, europeus, temos o texto mais exigente do mundo em matéria de desmatamento e descarbonização. Pedimos a nossos agricultores e industriais para que façam transformações históricas, esforços enormes. Houve muitos descontentes que se manifestaram [na França, contra exigências ambientais]. Mas se abrirmos para produtos que não respeitam esses acordos, somos loucos, não vai funcionar”, afirmou.
Após a reunião desta sexta, Ursula von der Leyen afirmou que os investimentos que virão do acordo vão respeitar o meio ambiente.
“O acordo entre o Mercosul e a União Europeia é este primeiro passo para o acordo de Paris e para poder combater o desmatamento. O presidente Lula e seus esforços para proteger a Amazônia são bem-vindos e necessários, mas preservar a Amazônia é uma responsabilidade compartilhada de toda a humanidade”, destacou.
Meio do caminho
Ainda há um longo caminho de decisões para que o acordo entre em vigor. No Mercosul, ele precisa de aprovação interna dos quatro países do bloco. Aqui no Brasil, por exemplo, ele passará pelo Poder Legislativo (Câmara dos Deputados e Senado).
“Uma vez aprovado internamente, o Acordo pode ser ratificado por cada uma das partes, etapa que permite a entrada em vigor do Acordo”, informou o governo brasileiro.
Para os países do bloco sul-americano o acordo é uma oportunidade. E para os europeus também. Mas alguns setores do livre comércio preocupam os setores produtivos locais. Então, o que para o agro brasileiro é uma abertura maior a um dos principais mercados do mundo, para a França pode representar uma perda econômica significativa para a sua produção agrícola.
Por isso, o país sustenta que a posição contrária é em relação às exigências de produção agrícola em relação ao meio ambiente e vai tentar barrar o acordo no Conselho da UE.
Aprovação final do acordo
As negociações finalizaram nesta sexta-feira, mas o acordo ainda pode não passar na própria União Europeia. O texto precisa ser aprovado nos dois principais órgãos do bloco: o Conselho da União Europeia e o Parlamento Europeu.
O parlamento legisla e supervisiona acordos internacionais e é composto por deputados dos 27 países que compõem a UE. Por isso, precisa de maioria simples para passar o acordo. Mas o acordo será ratificado mesmo é pelo Conselho da União Europeia, que é composto por ministros dos governos de cada país e é responsável pelos acordos da UE com outros países.
Para passar pelo Conselho, o acordo será revisado juridicamente, traduzido para as 23 línguas oficiais da UE e para as duas oficiais do Mercosul, assinatura dos dois blocos, aprovação interna de todos os países dos dois blocos e só então será concluído entrará em vigor.
No entanto, na parte da aprovação interna dos países, o texto passará por votação no Conselho da União Europeia. Desta forma, será preciso uma aprovação de pelo menos 55% dos países e que alcance representação de 65% da população total do bloco.
Do outro lado, é preciso de 35% para barrar ou quatro países da UE. Além da França, a Polônia também já se manifestou contra o acordo, enquanto Alemanha e Espanha se manifestaram favoráveis. Posições de nações como Áustria, Itália e Países Baixos ainda são incertas.
*Com informações do G1
*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), da Agenda 2030, da Organização das Nações Unidas (ONU).
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