(Foto: Divulgação)

O show do cantor e compositor Itamar Correira na Cidade de Goiás foi cancelado pela Secretaria de Cultura do governo de Goiás. A apresentação, prevista para acontecer neste sábado (16) no Cine Teatro São Joaquim, seria o lançamento do novo CD “Todos estão em nós”, que faz homenagem aos 15 mortos e desaparecidos em Goiás, vítimas da ditadura militar.

Em nota, a Secretaria de Cultura do governo de Goiás informou que Itamar Correira procurou a pasta para solicitar um espaço na agenda com isenção de taxa de locação para um evento “especificamente artística”, porém, a divulgação passou para “um plano inferior” e estava sendo divulgado outro “tipo de perfil”. A nota diz ainda, que pelo regulamento do Cine Teatro São Joaquim, não é permitido eventos políticos e que por isso o pedido foi revisto e revogado.

Itamar Correia, disse à reportagem da Sagres, que o show não foi cancelado, mas sim censurado. “Fui censurado por uma censura política”, disse. “Estou fazendo show em homenagem aos 15 mortos e desaparecidos em Goiás, vítimas da ditadura militar de 1964 e estendendo essa homenagem ao Dom Tomás Balduíno, Dom Pedro Casaldáliga e Frei Marcos Lacerda e, o que aconteceu para minha surpresa, depois de várias propagandas e chamadas, essa semana foi surpreendido com um comunicado suspendendo a apresentação do show ‘Todos estão em nós’”, completou.

O cantor revelou à Sagres que tentou reverter a suspensão e que no final da tarde de quinta-feira (14), véspera de feriado, recebeu o ofício comunicando que manteriam a suspensão da pauta. Itamar Correia criticou a justificativa da Secretaria de Cultura para o cancelamento do show, dizendo que não é de nenhum partido e que o trabalho dele é político. “Essa argumentação é uma forma de expressar a dissimulação sobre o assunto, um pretexto para esconder o que há de verdadeiro, o verdadeiro é que no artigo 2 do Regulamento do Teatro é que o ‘teatro não admite ação política partidária’, o meu trabalho não é partidário e não pode deixar de ser político”, confirmou.

O Diretório Estadual e o Municipal do Partido dos Trabalhadores – PT, de Goiás/GO emitiu uma nota de repúdio à decisão da Secult, dizendo que é um ato “arbitrário e abominável” de censura do Governo de Goiás, via Secretaria de Cultura. De acordo com a nota, é do conhecimento de todos que o cantor Itamar Correia, desenvolve, através da arte, a temática política desde o fim da ditadura militar.

Itamar Correia irá manter a apresentação. Será às 21h, na Igreja do Rosário, Cidade de Goiás, tombada patrimônio histórico da humanidade. 

Veja as notas na íntegra:

Nota da Secretaria de Cultura do governo de Goiás

No dia 16 de outubro de 2019, o cantor e compositor Itamar Correia procurou a Secretaria de Estado de Cultura (Secult Goiás) para solicitar um espaço na agenda do Cine Teatro São Joaquim, com isenção de taxa de locação, para lançamento de um CD e apresentação de um show, a se realizar no dia 16 de novembro. A natureza do evento seria especificamente artística. A autorização foi dada.

No entanto, posteriormente, quando começou a ser feita a divulgação do evento em questão, verificou-se que o show/lançamento de CD passou a um plano inferior e estava sendo divulgado com outro tipo de perfil. Nesse sentido, o solicitante incorreu na alteração da natureza do evento. Por ter sido desviado do pedido original e por não ser permitido, pelo regulamento, que o Cine Teatro São Joaquim receba eventos políticos, o pedido foi revisto e revogado.

Comunicação Setorial – Secult Goiás

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Nota de Repúdio

O Diretório Estadual e o Municipal do Partido dos Trabalhadores – PT, de Goiás/GO, repudia, com veemência, o ato arbitrário e de abominável censura do Governo do Estado de Goiás, via Secretaria de Cultura, de impedir a realização, no Teatro São Joaquim, Cidade de Goiás, do lançamento do CD “Todos estão em nós”, do cantor e compositor Itamar Correia, previamente agendado para este sábado, dia 16 de novembro de 2019.

O cantor e a produção do evento foram surpreendidos, na última hora, pela decisão da SECULT Goiás, de não mais ceder o Teatro São Joaquim, alegando que o lançamento do CD tem “viés político”. Registre-se que o evento foi agendado com muita antecedência e já estava amplamente divulgado e com ingressos vendidos.

O lançamento do CD, que tem a participação do Comitê Goiano de Direitos Humanos Dom Tomás Balduíno, é uma homenagem aos 15 mortos e desaparecidos políticos em Goiás, pela reconstrução do Comitê Goiano da Anistia e dedicado a Dom Tomás Balduíno, Dom Pedro Casaldáliga e Frei Marcos Lacerda.

Estranha muito e preocupa ainda mais esse ato do Governo Caiado, por meio do Secretário Edvaldo Lourenço, uma vez que é do conhecimento de todos que o Cantor Itamar Correia, desde o fim da ditadura militar, sempre desenvolveu, através da arte, essa temática.

O que pretende o Governo de Goiás? Ignorar e querer também que a sociedade ignore o que ocorreu no Brasil durante o período militar?

Muita decepção e retrocesso. Aliás, a área cultural do Estado, que já se notabilizou em não dar continuidade a eventos já consolidados – como o FICA -, também, deixa sua marca como quem censura e tenta impedir a realização de iniciativas da comunidade.

Além da clara censura, temos indícios de ato de improbidade, uma vez que o Teatro é um equipamento público, o qual, recentemente, foi praticamente reconstruído com considerável quantia de recursos públicos federais durante os Governos Lula e Dilma.

O Teatro é do Povo e o seu uso não pode ser decidido a bel prazer dos gestores públicos, como se fosse um bem privado.

Cidade de Goiás, Patrimônio Mundial da Humanidade, 16 de novembro de 2019

 

*Matéria atualizada às 15h48 com correção