A cidade se esforça para garantir, pelo voto, uma administração pública que produza melhorias coletivas. O fato, porém, é que aos poucos a população descobre que a força do conjunto social é capaz de potencializar e qualificar as benfeitorias de interesse comum.

 

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O exemplo mais recente sobre os resultados da mobilização coletiva está no município de Campos Belos, no Nordeste de Goiás, onde a população construiu o prédio do Instituto Médico-Legal (IML). A inauguração aconteceu no último 9 de dezembro.

Reuniu-se, ao longo de dois anos, sob o comando do Conselho de Segurança Municipal e a fiscalização do promotor André Luís Ribeiro Duarte, R$ 520 mil, para se erguer uma obra de mais de mil metros quadrados, em terreno da Agetop. O mobiliário e a mão-de-obra ficou a cargo da gestão estadual.

Distante 400 quilômetros de Brasília e 630 km de Goiânia, Campos Belos tem uma população estimada em 30 mil habitantes. Quem precisasse dos serviços do IML teria que viajar até Formosa, em longínquos 300 km.

Em menos de um ano, é a segunda vez que o goiano do interior distante e desassistido se vale do modelo Parceria População Estado, capaz de mitigar problemas estruturais e sociais crônicos. Vianópolis, a 95 km da capital, optou por construir a delegacia da cidade. Em ambos os casos, a gestão estadual veio a reboque.

Os que defendem o estatismo e se agarram aos impostos pagos pela sociedade torcem o nariz para as iniciativas coletivas. Para o grupo, a obrigação é estatal (município, estado ou união) e pronto. É uma questão cultural. O Brasil deixou de ser colônia há dois séculos, mas a estrutura de domínio ainda não foi banida da ótica de parcela da comunidade.

É como varrer a porta de casa ou tira um copo com água das ruas. A maioria prefere esperar pelo varredor da Comurg, que pode não chegar. Pega-se, então, dengue e se culpa o prefeito. A lógica é retilínea e simplista, mas esboça a ótica quase comum cultivada.

Talvez se o país tivesse sido alvo de uma política de povoamento e não exploração, emoldurado em uma estrutura religiosa calvinista (protestantismo reformado), provavelmente a realidade teria sido diferente. Entretanto, advérbio de possibilidade não escreve história e nem edifica cotidiano.

O dado é que por enquanto, alguns núcleos sociais estão se permitindo mobilizar em prol do coletivo, a despeito de injunções político-administrativas. Os resultados sugerem acerto na tática, que busca driblar a precariedade estrutural, também, do interior. Todavia, faz-se necessário setores da sociedade civil se disporem a comandar, independente do poder estatal, o caminhar.