Goiás tem dois casos suspeitos de Flurona

A Secretaria de Estado da Saúde de Goiás (SES-GO) investiga dois casos suspeitos de Flurona, uma coinfecção por Covid-19 e gripe. Devido ao aumento dos casos de Influenza no Estado, o risco é maior de ter infecção por dois vírus ao mesmo tempo. Conforme a superintendente de Vigilância em Saúde de Goiás, em substituição, Cristina Laval, as duas amostras ainda não confirmaram a coinfecção.

“Um exame realizado pelo Lacen há 10 dias detectou essa coinfecção. Precisamos ainda aprofundar a vigilância laboratorial e isso é feito através de sequenciamento genômico dessa amostra, e ele é feito no nosso laboratório de referência nacional, o Adolfo Lutz, em São Paulo”, explicou a superintendente.

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Este caso é de um município do interior, que não foi divulgado o nome. O segundo caso suspeito é de Aparecida de Goiânia, onde um paciente fez exame RT-PCT e foi detectada possibilidade de infecção com dois vírus. A amostra deste caso também será enviada ao Instituto Adolfo Lutz. A previsão é de que os resultados sejam divulgados após 10 dias. 

Em entrevista à Sagres, nesta quarta-feira (5), Cristina Laval, informou que a SES orienta todos os municípios a informarem o Estado quando ocorrer suspeitas de Flurona. “Todas as vigilâncias epidemiológicas municipais, na vigência da detecção concomitante do vírus Influenza e Covid em qualquer amostra de paciente, devem contactar imediatamente a vigilância estadual para a gente fazer o resgate dessa amostra e conseguir enviar para nosso laboratório de referência nacional e poder confirmar o caso ou não”, enfatizou.

Até o momento, os dois casos suspeitos em Goiás têm sintomas leves. “Não houve necessidade de internação e eles tiveram um desfecho muito tranquilo”, comentou a superintendente.

No entanto, é preciso estar atento. “É uma situação nova para nós, diferente, que está acontecendo exatamente pela cocirculação desses dois vírus que pode levar a uma coinfecção. Mas tudo isso ainda são respostas que precisamos ir em busca delas”, afirmou Cristina Laval.

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Confira a entrevista na íntegra:

Rodrigo Melo: Existe um caso suspeito de Flurona, uma infecção dupla, de Influenza e Covid-19. Quando foi constatado o caso suspeito? 

Cristina Laval: Temos a informação na Secretaria de Estado da Saúde do exame realizado no Lacen, há 10 dias, que detectou essa coinfecção, que a gente considera como suspeito porque preciso aprofundar a vigilância laboratorial e isso é feito através de sequenciamento genômico dessa amostra, e ele é feito no nosso laboratório de referência nacional, o Adolfo Lutz, em São Paulo. Então, nós temos essa amostra que foi detectada no Lacen. Ontem ficamos sabendo que havia também um caso detectado em um laboratório privado em Aparecida de Goiânia, também dessa coinfecção. Então, agora nós vamos atrás desse caso para recuperar essa amostra e trazê-la para o Lacen, fazer novamente o RT-PCR dessa amostra, se for o caso, e enviá-la para o Adolfo Lutz. A gente tem a informação desses dois casos suspeitos em Goiás. 

Aproveito para alertar todas as vigilâncias epidemiológicas municipais que na vigência da detecção concomitante do vírus Influenza e Covid em qualquer amostra de paciente, que seja contactado imediatamente com a vigilância estadual para a gente fazer o resgate dessa amostra e conseguir enviar para nosso laboratório de referência nacional e poder confirmar o caso ou não. Senão vai acabar ficando como caso suspeito e a gente não consegue chegar até a finalização de confirmar esse caso.

Rodrigo Melo: Só é confirmado em São Paulo? 

Cristina Laval: Exatamente. Porque como é feito aqui no nosso laboratório central, assim como nos laboratórios particulares, que estão fazendo o RT-PCR tanto para Influenza quanto para Covid, eu tenho um primeiro resultado que não é um resultado de sequenciamento genômico. Para confirmar, preciso sequenciar os dois vírus para confirmar que realmente eles estão presentes nessa amostra e, desta forma, poder afirmar que existe realmente uma concomitância de infecção dos dois vírus que estão circulando. 

Essa concomitância é possível? Claro que é. Estamos tendo um aumento expressivo da circulação da Influenza no nosso meio e que tende a aumentar inclusive nos próximos dias, e também temos um aumento da circulação do vírus da Covid, provavelmente devido à entrada da variante Ômicron, que tem uma transmissibilidade maior do que as variantes que já circularam e que, no caso de Goiás, a que era mais frequente era a Delta. Das amostras sequenciadas, hoje temos 50% sendo de Ômicron. Então, realmente a transmissibilidade é muito alta dessa variante e leva a um aumento de casos. Então, se tenho uma circulação muito grande de casos tanto de Influenza quanto de Covid-19, a possibilidade de uma coinfecção existe de fato. 

Rodrigo Melo: Esses casos podem se agravar, uma vez que existem dois vírus atacando o organismo ao mesmo tempo?

Cristina Laval: Não há um determinismo nesse sentido, de você estar infectado ao mesmo tempo com dois vírus e isso ser determinante para que haja um agravamento no quadro clínico, necessitando de internação, etc. Inclusive, os dois casos suspeitos em Goiás, até o momento, são de casos leves, não necessários de internação e tiveram um desfecho muito tranquilo. Então, até essa questão clínica, epidemiológica, se são pessoas vacinadas ou não, tudo isso ainda está, junto com a investigação laboratorial, que será feita pelo laboratório de referência nacional, essa investigação clínica epidemiológica também precisa ser aprofundada nesses casos até para a gente conhecer melhor.

Porque é uma situação nova para nós, diferente, que está acontecendo exatamente pela cocirculação desses dois vírus que pode levar a uma coinfecção. Mas tudo isso ainda são respostas que precisamos ir em busca delas. Dos dois casos suspeitos, todos tiveram casos leves. 

Rodrigo Melo: Os casos suspeitos são de Goiânia e Aparecida?

Cristina Laval: Não. Ontem foi divulgado um caso de Aparecida de Goiânia e o outro caso é de outro município do Estado, que não fica nem na Região Metropolitana. Nós, enquanto Estado, optamos em não divulgar qual município, porque não são casos confirmados. Quando confirmar, aí a gente divulga o município. De Aparecida foi a própria imprensa que divulgou. 

Rodrigo Melo: Existe a possibilidade de que os dois casos sejam da variante Ômicron? 

Cristina Laval: Só após o sequenciamento nós vamos ter condições de saber e também comparando com o que está acontecendo com os outros Estados brasileiros para ver a frequência de qual variante causou a infecção nessas pessoas que estão tendo coinfecção. Até mesmo a questão do vírus Influenza, só após o sequenciamento genômico que a gente vai saber qual a cepa que causou essa coinfecção. Com certeza, como existe a possibilidade exatamente por uma larga circulação tanto da Influenza quanto da Covid-19, então espera-se que a coinfecção aconteça com aquelas cepas que estão mais frequentes em circulação. Mas só após o sequenciamento genômico que vamos ter condição de afirmar isso. E ter mais casos, até para afirmar se é uma tendência de ser por qual variante ou por qual cepa. 

Rodrigo Melo: Quanto tempo demora essa confirmação?

Cristina Laval: Nós perguntamos ao Lacen quanto tempo demoraria, e como é um laboratório de referência nacional e recebe amostras também de outros Estados, não só de Goiás, a previsão é de pelo menos 10 dias para que a gente tenha o retorno do resultado do sequenciamento genômico confirmando ou não esses casos.

Rodrigo Melo: Nesses casos, a pessoa infectada pode transmitir os dois vírus?

Cristina Laval: Se ela tem partículas virais dos dois vírus que possibilitaram esse diagnóstico laboratorial, ela pode, sim, transmitir os dois vírus. Então, uma vez confirmado que é realmente uma coinfecção, ela pode transmitir os dois vírus. Nos casos de Goiás, que ainda não temos a confirmação, pode ser, por exemplo, que essa detecção foi feita como acontece nos casos de persistência de partículas virais, aí o risco de transmissão é absolutamente menor. Só mesmo depois de confirmar de que existe a circulação viral e a replicação viral desses dois vírus que vamos poder afirmar que existe o risco dessa pessoa transmitir os dois vírus. Na hipótese de ser um caso que tenha a replicação viral dos dois vírus, sim, ela pode transmitir os dois tipos de vírus.

Rodrigo Melo: O que a SES tem feito para detectar e prevenção em relação ao Flurona?

Cristina Laval: Nesse caso, até pelo aumento de casos de síndrome gripal em vários municípios do Estado, a gente tem orientado a ampliar a testagem. Isso é extremamente importante. Tanto é que de outubro até início de dezembro, distribuímos aos municípios o kit de testagem rápida de antígeno para Covid em torno de 500 mil testes. Nesta semana, a gente já está enviando uma nova remessa de testes, que vieram do Ministério da Saúde para que a gente repasse aos municípios. 

A nossa intenção é essa: estimular que o município possa traçar estratégias de ampliar essa testagem, seja em pessoas sintomáticas ou assintomáticas, exatamente para que de forma oportuna e efetiva as equipes do município possam adotar as medidas de prevenção e controle, que são isolamento dos casos confirmados, independente se é de Covid-19, Influenza, ou suspeita de coinfecção, as medidas são as mesmas. Na Covid-19, normalmente esse isolamento é de 10 a 14 dias, para Influenza é de 5 a 7 dias, porque depende do tempo de transmissibilidade, tempo de incubação e o tempo de persistência dos sintomas.

Além desses cuidados com o caso específico, também o monitoramento e isolamento dos contatos, sobretudo os contatos domiciliares, para que você possa oportunamente fazer um diagnóstico precoce tanto da Covid quanto da Influenza, e dessa forma ir quebrando a cadeia de transmissão. Porque o que estamos assistindo é uma transmissão muito exacerbada, tanto de Covid-19 quanto da Influenza, e isso tem refletido numa sobrecarga nas portas de entrada dos sistemas de saúde dos municípios, que são as urgências, emergências e a atenção básica, tanto da rede pública quanto privada. 

E é preciso que as equipes municipais tracem estratégias de atendimento qualificado a esse cidadão. Porque é muito ruim uma pessoa estar com sintomas de gripe, ir a uma unidade de saúde e não sair com uma informação qualificada, sair de lá com informação de que precisa se ausentar das atividades de rotina para proteger o outro, quebrar a cadeia de transmissão. Então, o que temos orientado também os municípios é que consigam minimamente prestar um atendimento de qualidade, presencial ou através do teleatendimento, de alguma forma que minimamente ele consiga levar uma informação de qualidade para fazer toda essa linha de cuidado: o diagnóstico oportuno, o tratamento oportuno e adotar as medidas de prevenção e controle. 

Rodrigo Melo: A contaminação pode ocorrer também nas unidades de saúde?

Cristina Laval: Isso até pode acontecer, só que a unidade de saúde é o ambiente mais controlado, porque lá as pessoas geralmente estão de máscara, os profissionais de saúde e os pacientes também, sobretudo aqueles que têm sintomas respiratórios. Então, o ambiente de saúde é o ambiente mais controlado. Pode até acontecer um risco de contaminação, existe o risco, mas o maior risco está muito mais nas nossas atividades do dia a dia, onde a gente insiste em continuar abrindo mão da proteção que temos neste momento, que são as medidas não farmacológicas. 

Estamos vindo de um período de festas familiares, onde houve uma maior circulação de pessoas, onde tivemos mais aglomeração e que não foi em um ambiente de saúde, foi no ambiente de trabalho, familiar, nas nossas relações do dia a dia. Independente se é uma coinfecção, uma infecção por Influenza ou Covid, precisamos manter as medidas não farmacológicas de prevenção de qualquer doença respiratória que é neste momento o uso de máscara. Precisamos usar máscara em todos os ambientes. 

Normalmente estamos sem máscaras dentro do ambiente domiciliar, mas estamos com os moradores daquela casa, mas se ali começa a circular outras pessoas que não moram na casa, o risco já aumenta se não estivermos de máscara. Também tem  a questão da higienização das mãos, com água e sabão. Na impossibilidade de usar água e sabão, usar o álcool em gel, e manter minimamente o distanciamento social, evitando sobretudo locais com muita aglomeração, locais fechados com pouca ventilação.

Nestes dias a gente tem visto que houve maior mobilidade das pessoas e certo relaxamento, sobretudo nas confraternizações de fim de ano, onde houve o encontro de várias famílias que vivem em locais separados e que se juntaram e, na maioria das vezes, não utilizaram máscaras nas festas de final de ano. Então, o risco maior está nas nossas atividades e nossas relações do dia a dia do que propriamente nas unidades de saúde. As unidades de saúde são sobretudo um reflexo do que está acontecendo na comunidade, que é a circulação maior dos vírus e aí as pessoas estão adoecendo e procurando os serviços de saúde.

Rodrigo Melo: Há previsão de novo decreto de restrição?

Cristina Laval: Já tivemos o decreto que mantém a situação de saúde pública excepcional, esse decreto do governo estadual ampliou a situação de emergência sanitária até o final de abriu. Agora, essas medidas mais restritivas perpassam pela gestão municipal, porque cada município tem condição de fazer análise do cenário epidemiológico local e adotar medidas mais restritivas. O que a gente orienta e tem orientado sempre os municípios que não abram mão de exigir essas medidas não farmacológicas, sobretudo nos ambientes de maior circulação, que são nos bares, restaurantes, boates, comércio, shoppings, parques. A gente tem visto muito que onde você vai tem a placa de uso obrigatório de máscara, mas em muitos locais a gente não vê mais a dispensação de álcool em gel, nem a preocupação em fiscalizar os ambientes.

Então, mais do que o município impor medidas restritivas, é as médias que já existem serem cumpridas, e para isso precisa de fiscalização. Então, a gente chama a atenção tanto do gestor municipal para o cumprimento dessas medidas quanto da população de que nós não saímos da pandemia de Covid. Aliado a essa pandemia, temos agora a circulação da Influenza, que é totalmente extemporânea, ninguém esperava que houvesse essa circulação no mês de dezembro, porque ela é esperada mais para frente, no final do verão. Então, como nós vivemos hoje um cenário epidemiológico com circulação de vírus respiratório e sintomas de síndrome gripal, as pessoas não podem abrir mão do uso de máscaras, higienização das mãos e distanciamento mínimo entre as pessoas, além de evitar ambientes de aglomeração. 

Não acredito que seja necessário nada novo, mas que as pessoas e o poder público primem em cumprir aquilo que já está estabelecido como medida de controle. Uma coisa que nós precisamos estar atentos, dentro da área de saúde, e já estamos providenciando uma nota técnica para orientar as equipes de vigilância dos municípios, é com relação ao afastamento dessas pessoas que estão com sintomas de síndrome gripal, independente se o diagnóstico é de Covid ou Influenza. Essa pessoa precisa ser afastada das suas atividades habituais para evitar o risco de transmissão.

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