Grande Hotel: o luxo do terceiro prédio de Goiânia

Quem passa pelo cruzamento da Rua 3, com a Avenida Goiás, no Centro de Goiânia, talvez não imagine a importância daquela grande construção, o Grande Hotel. O prédio começou a ser construído ainda no ano de 1935 e foi entregue apenas em 23 de janeiro de 1937, sendo um dos três primeiros edifícios da cidade.

Após a inauguração do Grande Hotel, foram publicados dois editais para concorrência pública e arrendamento do local, já mobiliado e equipado. O contrato foi assinado por Maria Nazaré Jubé Jardim, em 17 de fevereiro de 1937, pelo prazo de três anos. Também constava no contrato que o letreiro luminoso a gás néon da fachada deveria ser iluminado todas as noites.

Durante seu auge, logo após a construção, o local foi sinônimo de luxo, glamour, exuberância e fé no progresso social e tecnológico. O Grande Hotel estava entre os edifícios prioritários do fundador, Pedro Ludovico Teixeira. O local é símbolo do movimento de art déco. Tratava-se de uma obra estratégica, já que a nova cidade precisava de um local para hospedar os visitantes.

A intenção é que o prédio já fosse um cartão-postal do conceito que o fundador da capital queria imprimir na cidade. A localização, na Avenida Goiás, esquina com a rua 3, também atendia a objetivos planejados, pois era de fácil acesso à Praça Cívica, onde fica o Palácio de Governo, assim como os outros edifícios públicos. Também não ficava distante da saída da cidade, já que no final da avenida ficava a Estação Ferroviária.

O Grande Hotel originalmente era uma construção imponente: com três pavimentos, 60 quartos, além de quatro apartamentos de luxo. O local recebeu nomes famosos como o antropólogo Claude Lévi-Strauss. O presidente da República, na época da Fundação de Goiânia, Getúlio Vargas, também veio à cidade e se hospedou no Grande Hotel.

Na ocasião, Getúlio Vargas fez pronunciamento no Palácio do Governo, em Goiânia, no dia 7 de Agosto de 1940. Vargas argumentou que foi a Revolução de 1930 a promotora da construção de Goiânia, a partir de um “movimento de revigoração nacionalista”.

O prédio também já serviu de hospedagem para grandes nomes, como o poeta chileno Pablo Neruda e o escritor brasileiro Monteiro Lobato, autor de obras conhecidas como o Sítio do Picapau Amarelo.

(Foto: Rubens Salomão)

Espaço Cultural

O hotel se tornou um grande polo cultural de Goiânia, reunindo ali muitos visitantes que chegavam na cidade, seja a passeio ou a negócios. A arrendatária do local Maria de Nazaré tocava piano todas as noites para animar as reuniões da sociedade goianiense, que aconteciam nos salões do Grande Hotel.

O prédio proporcionava o ambiente ideal para que os artistas se encontrassem com um público desprovido de locais formais para assistirem apresentações musicais. Estes eventos sociais, sempre seguidos de música, ocorriam com frequência, especialmente aos sábados.

O “Palácio Monumental”, como também era conhecido o Grande Hotel, foi palco dos primeiros bailes de carnaval da capital, onde se apresentavam a banda da Polícia Militar, o Jazz Band Imperial, entre outros grupos.

Descaracterização

Da construção original, resta a estrutura da fachada. O interior foi descaracterizado ao longo dos anos. Mesmo durante seu auge, os problemas já começaram a surgir no Grande Hotel. Em 1938, o Governo de Goiás publicou um despacho convocando a arrendatária do Grande Hotel para, dentro de 30 dias, efetuar pagamentos atrasados para o Estado e Previdência, a fim de não perder a concessão de arrendamento.

Depois de 11 anos, já em 1949, com uma dívida ainda maior, o Governo do Estado decidiu entregar o Grande Hotel à Previdência (hoje, INSS, o Instituto Nacional de Seguridade Social). Até a primeira metade da década de 70, os contratos particulares mantiveram o funcionamento do hotel que, depois, foi alugado para lojistas.

No início dos anos 80, a Previdência venceu, na Justiça Federal, uma ação de despejo com o último locador, requerendo o imóvel para seu uso. A partir daí, o edifício foi ocupado pelo INSS, que, desprezando o valor histórico, artístico e cultural, tentou por duas vezes, demolir o edifício. Em 1991, o edifício foi tombado como Patrimônio Histórico de Goiás como um dos 20 bens que formam o patrimônio do estilo arquitetônico Art decô em Goiânia.

Em 2003 o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), declarou o tombamento do Grande Hotel e dos demais edifícios e monumentos públicos que integravam o conjunto urbano de Goiânia, um total de 22 construções concentradas, em sua maioria, no Centro da cidade. As instalações passaram por reforma em 2004, quando o Grande Hotel sediou o evento Casa Cor.

No ano de 2019, a Prefeitura de Goiânia formalizou uma proposta de compra do Grande Hotel. Um ano antes foi aprovada lei municipal que autorizava o antigo IPSM- Instituto de Previdência dos Servidores Municipais de Goiânia a receber em pagamento, imóvel de propriedade do INSS, no valor de R$ 7 milhões para finalidades socioculturais. A Secretaria Municipal de Cultura pretende revitalizar o espaço histórico.

Goiânia 90 Lugares

Goiânia faz 90 anos em 24 de outubro. Por isso, o Sistema Sagres de Comunicação, com apoio da Prefeitura de Goiânia elaborou um guia de 90 locais a serem conhecidos por você que é goianiense, que mora na capital ou que está de passagem por aqui. Esta é a campanha “Goiânia 90 Lugares”.

A produção inclui 90 reportagens em texto e fotos de lugares marcantes da cidade, 30 vídeos, um mapa e uma página especial. A campanha conta ainda com entrevistas especiais sobre a construção, estrutura e futuro da nossa capital.

As ações tem coordenação de Rubens Salomão, com pesquisa e textos de Samuel Straioto, Arthur Barcelos e Rubens Salomão. Imagens e edição de Lucas Xavier, além das reportagens em vídeo de Ananda Leonel, João Vitor Simões, Rubens Salomão e Wendell Pasqueto. A coordenação do digital é de Gabriel Hamon. Coordenação de projetos é de Laila Melo

*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), na Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). ODS 04 – Educação de Qualidade; ODS 11 – Cidades e Comunidades Sustentáveis

(Foto: Rubens Salomão)

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