Uma das entrevistadas da edição 155 do Podcast Debates Esportivos, a historiadora Aira Bonfim contou um pouco sobre a história do futebol feminino no Brasil, proibido pelo então presidente Getúlio Vargas entre 1941 e 1983.

Em seu livro, recentemente lançado: “Futebol Feminino no Brasil: entre festas, circos e subúrbios, uma história social (1915-1941)”, Aira repassa a época em que a prática do esporte era incompatível com as condições biológicas das mulheres, de acordo com o decreto presidencial.

“As mulheres, as meninas, não foram convidadas para esse circuito. não foram convidadas para o futebol, mas ainda sim, elas desobedeceram e jogaram”, destaca Aira Bonfim.

Início

De acordo com Aira Bonfim, os futebol de homens e mulheres não pode ser historicamente comparado, afinal, apenas os homens, de elite, praticavam alguma modalidade no início do século 20.

“A gente não pode comparar as categorias, masculino e feminino, em geral, as modalidades esportivas são concebidas de homens para homens, que faziam parte de uma elite econômica do fim do século 19 e início do século 20”, disse a historiadora, que detalha como o futebol feminino se misturava com a arte em vários países, no caso do Brasil, antes da proibição de Getúlio Vargas.

“O que a gente reconhece no Brasil e também na Europa é uma oferta desse esporte por outros meios culturais, como circos e teatros de revistas, dentro do ambiente das artes. Então, se o futebol estava sendo tão consumido e o mercado já oferecia como uma oportunidade de marketing, os diretores circenses oferecem o futebol feminino como uma das atrações, inclusive para a venda de ingressos consecutivos, com um torneio muito bem organizado em três dias: sexta, sábado e domingo”.

Difusão

O livro também mostra o momento em que o futebol passa a ser jogado com mais frequência pelas mulheres no período anterior ao decreto proibitivo. Segundo Aira, as jogadoras chegavam a ganhar dinheiro, sem contar o amplo espaço concedido pela imprensa na cobertura dos jogos.

“Esses Leônidas da Silva tinham tias, filhas, primas, vizinhas e irmãs, então dentro desse circuito, seja de Bonsucesso, Engenho de Dentro, Realengo, Bangu, a gente vai ter umas 15 equipes de mulheres que representam essas agremiações suburbanas masculinas, então acontece uma adesão espelhada, em que elas jogam com o mesmos fardamentos, mesmos campos, e vão jogar muita bola nos anos de 39, 40, a ponto de ganhar dinheiro, espaço e visibilidade na imprensa esportiva da época com fotografias, entrevistas e descritivo técnico dessas partidas”.

A autora fez questão de deixar claro em sua obra, que as mulheres nunca desistiram do futebol mesmo após a proibição, sempre com alguma estratégia para a realização dos jogos

“Ainda sim, acontece muito futebol depois de 41. Existiam estratégias de associar o jogo a uma partida beneficente. Isso aconteceu de norte a sul do país sobre o pretexto de que não era uma jogo de verdade, mas para captação de recursos para campanhas de igrejas, e isso acontece muito nos anos 50 e 60. Além do ambiente das artes, que voltou a dar o espaço para a prática da modalidade, inclusive com o jogo das vedetes lotando o Pacaembu e o Maracanã, arrecadando recursos para a construção do hospital dos artistas”, lembra Aira, que admite evolução da modalidade atualmente.

“Tento fazer uma análise mais complexa. A gente pediu uma estruturação da modalidade em nível mundial, então, notadamente, o torneio de 2023, é bem mais competitivo que os anteriores. A gente não quer só pensar como melhoria para nosso país, mas a partir de outras federações pelo mundo. Esse é o sentido do futebol”

A produção do livro “Futebol Feminino no Brasil: entre festas, circos e subúrbios, uma história social (1915-1941)”é independente e pode ser adquirido online por R$65 mais o valor do frete.

A autora

Aira Bonfim é historiadora do esporte. Recentemente defendeu um mestrado na área de História, mais especificamente, sobre a História do Esporte, trazendo as memórias do futebol feminino brasileiro nos anos que antecederam a proibição no nosso país, em 1941.

Em 2011, se tornou a pesquisadora do Museu do Futebol, em São Paulo, no estádio do Pacaembu, com a missão de trazer a memória esportiva a partir da modalidade de futebol, uma memória que está sempre em disputa, que não está restrita à seleção masculina, nem mesmo aos times de primeiras divisões.

Desde 2015, trabalha com as histórias das mulheres do futebol, não só futebol feminino como modalidade, mas principalmente as mulheres que estão envolvidas nesse futebol há mais de 100 anos, sabendo que mulheres já narraram, já trabalharam como árbitras, já cobriram, já escreveram sobre futebol desde os inícios do século 20.

Hoje, não trabalha mais no Museu do Futebol, porém presta serviço por meio de uma empresa de pesquisa e também faz curadorias de exposições sobre mulheres no esporte.

*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU): ODS 4 – Educação de qualidade; ODS 5 – Igualdade de gênero

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