Pesquisadores da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP alertam para os efeitos do aumento de temperatura nas plantas do Cerrado, um dos biomas mais cruciais do Brasil. O estudo liderado por Tony César de Sousa Oliveira revela que o calor compromete a eficácia da fotossíntese nessas espécies vegetais.

O calor excessivo afeta diretamente a fotossíntese das plantas do Cerrado, conforme constatado durante a pesquisa de doutorado de Oliveira no programa de Biologia Comparada. Ele explica que as espécies estudadas têm uma faixa estreita de temperatura ideal para a fotossíntese, muito próxima à média ambiental. Isso significa que o aumento de temperatura reduz a eficiência desse processo vital.

Além disso, o estudo destaca que o calor prejudica a capacidade de fotossíntese mesmo antes de atingir a temperatura ótima. Isso ocorre devido ao impacto nas estruturas responsáveis pela conversão de energia luminosa, como o fotossistema II (PSII).

Os resultados indicam que a eficiência do PSII diminui consideravelmente quando a temperatura se equipara ou excede ligeiramente a média local, mostrando como temperaturas mais altas limitam a capacidade das plantas de capturar carbono.

Aumento mais acentuado

Tomas Domingues, orientador do estudo, do Laboratório de Ecologia de Comunidades e Funcionamento de Ecossistemas (Ecoferp) da FFCLRP, adverte que o Cerrado enfrenta um aumento de temperatura mais acentuado em comparação com outros biomas brasileiros. Ele prevê que essa tendência se intensificará nas próximas décadas, tornando a fotossíntese menos eficaz durante os períodos mais quentes do dia.

Para entender melhor a resposta das plantas do Cerrado à temperatura, a equipe desenvolveu uma variação do método de um ponto (OPM). A versão atualizada, denominada OPM-ρ, considera a sensibilidade dos processos bioquímicos à variação de temperatura, permitindo estimar a capacidade de fotossíntese das folhas em temperaturas mais elevadas, até 45°C.

Essa adaptação possibilita modelar a resposta da eficiência da fotossíntese à temperatura no Cerrado, identificando a faixa de temperatura na qual esse processo atinge seu máximo desempenho e quando começa a declinar.

Os resultados e a metodologia aprimorada foram publicados no Journal of Experimental Botany, destacando as vantagens em relação ao método original. Oliveira destaca que essa abordagem inovadora contribuirá para uma compreensão mais abrangente das comunidades vegetais em todo o mundo, oferecendo insights valiosos sobre o impacto do aquecimento global na vegetação.

Identificação

Ao avaliar a capacidade fotossintética de diferentes espécies, o orientador do estudo adianta que a ideia é facilitar a identificação das plantas mais vulneráveis às mudanças de temperatura e prever como a biodiversidade global pode ser afetada no futuro. Com o aumento do calor, projeta-se que, nos períodos mais quentes do dia, a fotossíntese se torne menos eficiente, causando mudanças na composição de espécies no Cerrado, com as árvores se tornando menos proeminentes que as plantas de menor porte, como gramíneas e outros arbustos. Também é possível que “facilite uma maior ocorrência de espécies invasoras”, especula o professor. 

Para os pesquisadores, o cenário alerta para a necessidade de um maior entendimento sobre o funcionamento ecológico das espécies vegetais do Cerrado. “É fundamental garantir a preservação da biodiversidade desse ecossistema, promovendo a restauração de áreas degradadas e adotando práticas de manejo sustentável”, adverte Oliveira, em entrevista a Felipe Faustino do Jornal da USP

O desmatamento da vegetação nativa para atividades agropecuárias e o desrespeito às normas do Código Florestal, lembra Domingues, contribuem para agravar as mudanças climáticas e ameaçam a sobrevivência do bioma, sendo necessária a aplicação de técnicas que respeitem o equilíbrio ambiental. 

A tese de doutorado Tolerância térmica em espécies vegetais de uma savana Neotropical: explorando as dependências de temperatura da fotossíntese em um bioma diverso foi apresentada à FFCLRP dia 8 de março de 2024, com orientação de Tomas Domingues e dos professores Elmar Veenendaal e David Kleijn, do Plant Ecology and Nature Conservation Group da Wageningen University & Research, Holanda.

*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), na Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). ODS 13 – Ação Global Contra a Mudança Climática

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