A organização sem fins lucrativos Iniciativa Verde trabalha há quase 20 anos pela restauração da Mata Atlântica. Criada em 2005, a ONG surgiu com o objetivo de mitigar as mudanças climáticas através do sequestro de carbono nas florestas do bioma e também incentiva o desenvolvimento rural sustentável.
Com passagem por vários territórios dos biomas brasileiros, a ONG está atualmente concentrada em projetos de restauração florestal e de conservação hídrica na Mata Atlântica do Sudeste, especificamente nos estados de Minas Gerais e São Paulo.
“Trabalhamos bastante o lado social nos nossos projetos, desde fazer restauro em áreas de comunidades rurais, quilombolas e assentamentos, como também capacitar e contratar essa mão de obra local”, disse Bruno Cardoso, analista ambiental da ONG.
Projetos
A Iniciativa Verde tem dois braços de trabalho: os voluntários (créditos de carbono) e as compensações ambientais (planejamento estadual). As atividades são realizadas no Vale do Paraíba, na região de Piracicaba, na Serra da Mantiqueira e no Vale do Ribeira.
A principal atividade da organização é a compensação de carbono, o programa Carbon Free, que atua na compensação voluntária de gases de efeito estufa por meio da restauração da Mata Atlântica.
“O Carbon Free é um programa acessível para pessoas físicas e jurídicas, então é para compensar desde uma operação a viagens e eventos, até mesmo um casamento”, contou. A ONG disponibiliza no site uma calculadora de emissões em que é possível pessoas físicas calcularem a própria pegada de carbono.
“Ela dá a sua pegada de carbono e quantas árvores plantar para mitigar essa sua pegada de carbono, tanto a do dia a dia como a de um casamento, uma festa de aniversário. A gente coloca tudo em números de árvores, mas não estamos apenas plantando árvores, estamos refazendo florestas. Então, além do impacto positivo que é o sequestro de carbono, há o retorno da biodiversidade do local e outros serviços ecossistêmicos”, explicou.
Recursos hídricos
A ONG desenvolveu um projeto de saneamento rural chamado Plantando Água para propriedades rurais e assentamentos. “Nesse projeto a gente conseguiu verba para colocar fossas para várias famílias. Depois fizemos sistemas agroflorestais e também fizemos restauração adequando as propriedades ao Código Florestal”, detalhou.
O projeto ajudou pequenas propriedades a fazer a reserva legal, proteger e recuperar nascentes e gerar renda. O outro programa relacionado a recursos hídricos é da Secretaria de Meio Ambiente do estado de São Paulo, o Programa Nascentes, que visa facilitar a compensação ambiental e o licenciamento.
“É um projeto em que uma empresa ou uma ONG, no caso a Iniciativa Verde, acha uma área que está precisando ser restaurada, geralmente de proprietários rurais que estão com déficit de APP (Áreas de Preservação Permanente) e Reserva Legal. A gente manda o projeto explicando como vamos fazer essa restauração e o programa o aceita pela Secretaria do Meio Ambiente. Então, a gente capta a verba de pessoas que estão fazendo licenciamento, pessoas e empresas”, contou.
Várias empresas precisam fazer uma compensação por causa de algum serviço. Bruno Cardoso citou como exemplo uma empresa fazendo duplicação numa rodovia, porque ela vai desmatar e se desmatar tem que compensar. “Então, ao invés dela compensar, ela contrata a gente, que é um pedaço desse projeto e compensa a área dela”, disse.
Consciência da população
A ONG também desenvolveu o Escola da Floresta, um projeto de educação ambiental realizado em parceria com proprietários rurais, também dentro do programa Plantando Água. A escola promoveu palestras, oficinas e formações sobre sistemas agroflorestais.
Atualmente as pessoas são mais conscientes de que o clima do planeta está mudando e sofrem os efeitos disso mais rapidamente. Também existem mais ações de educação ambiental. Para Bruno, as mudanças climáticas são mais perceptíveis hoje e as pessoas estão mais preocupadas do que eram em 2005.
“Cada vez mais estamos vendo o interesse das pessoas buscando e entrando em contato com a gente para restaurar áreas. Às vezes é um proprietário que herdou uma terra de algum familiar e quer restaurar a propriedade inteira e também tem pessoas aderindo mais aos nossos programas, o Carbon Free e Amigo da Floresta. As pessoas estão querendo saber mais e plantar mais árvores”, disse.
Cenário positivo
Bruno diz que as empresas estão mais interessadas em mitigar as emissões de suas atividades, por isso tem expectativas positivas no atual cenário das discussões climáticas. Segundo ele, um caminho para diminuir as emissões seria a produção ser mais voltada aos sistemas agroflorestais e não apenas as monoculturas.
“A gente teria que melhorar a tecnologia para se conseguir produzir mais em menos terras ou então utilizar mais os sistemas agroflorestais, porque seria o ideal conciliar as duas coisas, a produção com a biodiversidade das florestas. Isso é algo imprescindível. Mas agora com a questão dos eventos climáticos extremos cada vez mais batendo na porta, precisamos fazer alguma coisa”, apontou.
*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), da Agenda 2030, da Organização das Nações Unidas (ONU). Nesta matéria, o ODS 13 – Ação contra a mudança global do clima.
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