Andrés Iniesta anuncia saída do Barcelona após 22 anos (Foto: Site oficial)

Um pedaço do futebol moderno morreu nesta sexta-feira. O fim veio com uma voz embargada, lágrimas e aplausos, enquanto Iniesta anunciava: depois de 22 anos, o fim da linha no Barcelona chegou.

Um pedaço do futebol moderno morreu nesta sexta-feira. E morreu porque Iniesta era o último resistente de uma estética de outra época, o último elo com outro momento no tempo, em que os jogadores se comportavam como pessoas normais.

Iniesta sempre quis ser normal. Nunca chamou a atenção por seus carros, brincos ou tatuagens, sempre distanciou-se de polêmicas (e das festas) e casou-se com Anna Ortiz, uma discreta cabeleireira que sempre fugiu dos holofotes, e com quem teve três filhos.

Mas, nisso, Iniesta fracassou. Porque, dentro em campo, ele nunca foi normal.

No Barcelona histórico de Pep Guardiola, Xavi era o homem que ditava o ritmo, Messi, o que desequilibrava. Iniesta era a ponte entre os dois mundos. Era o passe cirúrgico num time de linhas pacientes e infinitas; a mudança de direção numa equipe que sempre ia para o mesmo caminho.

Enquanto Xavi tinha as partituras de uma sinfonia e Messi as de um solo de guitarra, Iniesta tocava jazz.

Na seleção espanhola, a banda tocava parecido. E, na falta de um Messi, Iniesta também aparecia como protagonista. Foi graças a ele que a Espanha conquistou a Copa do Mundo de 2010. Naquele ano, ninguém foi mais importante no futebol mundial que Iniesta. E isso, não há prêmio individual que pague.

Ao deixar o Barcelona rumo a uma lucrativa aventura no futebol chinês, Iniesta deixa também um sentimento difícil de descrever, uma mistura entre saudade antecipada e agradecimento eterno.

Com Iniesta, vai-se o último rastro de um jeito de jogar que o Barcelona conseguiu transformar em vencedor, e que hoje se replica em outros clubes – como o Manchester City, o Bayern de Munique e o Napoli. Messi, Busquets e Piqué continuam no clube, e assim será por muitos anos mais; mas a alma do Barcelona que mudou o jeito de o mundo jogar estava em seus dois meio-campistas.

Com o adeus de Iniesta, o ciclo finalmente se encerra.

A bola como protagonista, os triângulos de passes, as jogadas feitas com a certeza de que o companheiro estaria no lugar certo, na hora exata, os passes diagonais depois de posses de dois ou três minutos. Um estilo que já faz parte do passado do Barcelona atual, agora fica de vez gravado apenas em imagens de arquivo.

A boa notícia é que ainda veremos um pouco mais de Iniesta. A Copa do Mundo da Rússia será a despedida em alto nível de um meia único, que ajudou a mudar o esporte e a moldar uma maneira de ver, sentir e jogar futebol.

Um dia, seja em cinco, dez ou vinte anos, todo mundo que gosta de futebol entenderá o tamanho de Iniesta na história desse esporte que amamos e agradecerá.

Eu prefiro não esperar tanto. Gracias, Andrés.