Um avanço significativo na área de métodos alternativos ao uso de animais em pesquisa foi alcançado pelo Laboratório de Ensino e Pesquisa em Toxicologia In Vitro (Tox In) da Universidade Federal de Goiás (FF/UFG). Em parceria com o Grupo Boticário, pesquisadores publicaram um artigo na edição de junho do Toxicology in Vitro, descrevendo um novo teste pré-clínico para avaliar a irritação ocular provocada por cosméticos infantis.

O teste, denominado “sens-ocular”, é um ensaio inovador que mede o potencial de ardência nos olhos de produtos químicos e cosméticos destinados a bebês. Utilizando uma linhagem específica de células cultivadas em laboratório com o receptor TRPV1, o teste simula a reação humana de maneira eficaz. Esse receptor é altamente permeável a íons de cálcio, o que indica a irritação ocular provocada pelos produtos testados.

A professora Marize Valadares, coordenadora do Tox In e autora correspondente do artigo, destaca que o modelo “sens-ocular” poderá abrir novas perspectivas, como a avaliação de produtos para peles sensíveis. “À medida que formos criando um banco de dados robusto, será possível verificar como o teste se comporta e eventualmente associá-lo à inteligência artificial, a ponto de até, quem sabe, substituir integralmente os ensaios clínicos”.

Receptores

Esta expansão é possível graças à semelhança dos receptores encontrados nos olhos e na pele, o maior órgão do corpo humano. O desenvolvimento do teste contou com um investimento de R$ 200 mil do Grupo Boticário, além de suporte técnico.

O teste “sens-ocular” será inicialmente utilizado pelo setor de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) da empresa por um período de exclusividade de dois anos, após o qual será disponibilizado gratuitamente para outras marcas e fabricantes, seguindo a filosofia do Tox In de minimizar o sofrimento animal sem visar lucro.

“Existem laboratórios que patenteiam métodos, é algo normal, mas, nesses casos, queremos deixar disponível a toda a comunidade”, diz Marize. A disseminação do teste “sens-ocular” contribuirá para modernizar o setor de P&D no Brasil, onde atualmente testes similares são realizados apenas no exterior, a altos custos.

Além da professora Marize Valadares, o artigo conta com a participação do professor Artur Christian da Silva, vencedor do Prêmio Lush 2022, Maria Cláudia Passos, que iniciou sua participação durante sua iniciação científica, e Lara Brito, autora principal e membro do Centro de Empreendedorismo e Incubação (CEI) da UFG, a Bio Tiers. Do Grupo Boticário, assinam Andrezza Canavez, Carolina Catarino e Desiree Cigaran Schuck.

Reconhecimento

Vale lembrar que a atuação do Tox In, que integra o Centro de Pesquisas LIFE, localizado dentro do Parque Tecnológico Samambaia (PTS) da UFG, já rendeu reconhecimento ao próprio grupo de estudos. Em 2018, a unidade venceu a categoria Treinamento e Educação do Prêmio Lush, com o projeto intitulado “Disseminando métodos alternativos no Brasil e na América do Sul: educação e treinamento para a substituição de animais na Ciência”.

É também por conta dessa reputação construída ao longo de anos que a professora Marize, uma das maiores autoridades na área de alternativas à experimentação animal, foi escolhida para ser co-chair – uma espécie de liderança – do 13º Congresso Mundial de Métodos Alternativos nas Ciências da Vida. O evento será realizado pela primeira vez no Brasil, em 2025, na cidade do Rio de Janeiro.

Acesse aqui o artigo completo, intitulado “Sens-ocular model: Cell-based assay to evaluate eye stinging potential of chemicals and baby cosmetic formulations” (Modelo sens-ocular: ensaio baseado em células para avaliar o potencial de ardência ocular de produtos químicos e formulações cosméticas para bebês, em tradução livre).

*Com informações do Jornal da UFG

*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). ODS 03 – Saúde e Bem-Estar

Leia mais: