Você se lembra do Apagão que atingiu o Brasil em 2001? Os mais velhos com certeza se lembram. Naquele ano, o Brasil passou pela pior crise hídrica em mais de 90 anos, que resultou em outra crise, a energética. O governo então criou regras de racionamento de energia, onde cada residência do Brasil deveria reduzir em 20% o seu consumo.

A partir daí alguns costumes começaram a mudar. Primeiro, as lâmpadas incandescentes foram trocas para fluorescentes, depois, eletrodomésticos passaram a informar suas estimativas de consumo nas embalagens.

Foi assim também com práticas do dia a dia, com banhos mais curtos e o simples apagar de luzes em um quarto, por exemplo. Tudo isso mudou hábitos de grande parte da população do Brasil, como é o caso do Júlio Barros, que é comerciante e se lembra bem deste período.

“Devido ao apagão que tivemos há vinte anos atrás, a partir daí, todo brasileiro já tem esse costume. Ao comprar um eletro, já se observa se o consumo é A, B, ou C, o que é muito importante. Eu comecei na minha casa, troquei todas as minhas lâmpadas, quando saio de um ambiente já apago a luz, todos os equipamentos visam economizar energia”, disse o comerciante.

Lâmpadas incandescentes foram as primeiras “vilãs” do apagão.

Os consumidores também ficaram mais exigentes. Agora, quem busca por um novo eletrodoméstico, por exemplo, não procura só por um bom preço, mas também por economia de energia.  O vendedor João Veríssimo explica que já ficou comum os clientes perguntarem sobre o consumo dos aparelhos.

“Hoje em dia o cliente busca não só o acesso a um preço menor na loja, mas também para o consumo futuro, com produtos que tenham um consumo menor. Atualmente os clientes já perguntam quais os equipamentos que tem o menor consumo, isso é buscado quase que por 100% deles”, revela o vendedor.

Consequências políticas

Mas não foi só no comportamento dos brasileiros que o Apagão deixou lembranças. Mudanças também foram sentidas na economia, e principalmente, na política. O Brasil em 2001 era governado por Fernando Henrique Cardoso (PSDB), que estava em seu segundo mandato.

Ex-presidente do Brasil, Fernando Henrique Cardoso.

Se no primeiro o presidente ficou conhecido como o herói do Plano Real, durante o segundo o governo FHC sofria muitas críticas. Para o professor da Universidade Federal de Goiás, Luiz Signates, politicamente, a crise do apagão foi o estopim para o então presidente.

“Nós tivemos uma crise energética na época que foi decorrência de fatures naturais, mas sobretudo, pela falta de planejamento e de ações governamentais. O racionamento de energia teve forte impacto sobre a popularidade do então presidente. Às vésperas da eleição presidencial, a crise enfraqueceu a imagem de FHC perante a população brasileira e teve também determinante no pleito do ano seguinte”, avalia o professor.

E o que mudou?

Já em 2021, com os níveis dos reservatórios de hidrelétricas baixos mais uma vez, o país se viu forçado a utilizar usinas termelétricas. A consequência veio na conta de luz, com a criação de uma nova tarifa, a de escassez hídrica, para lidar com os custos.

Ligia Guimarães realiza pesquisas para seu doutorado em uma hidrelétrica. Para ela, a solução seria mais investimentos em produção de energia limpa e sustentável, de forma que cheguem em todos os brasileiros, sem doer no bolso.

“A gente ainda tem a matriz energética muito dependente das hidrelétricas. Quando conversamos sobre o ODS 7, que fala em produção de energia limpa, precisamos diversificar nossas fontes de energia, investindo em fontes limpas e renováveis, mas que também seja acessível à população”, afirma a doutoranda.

Brasil ainda possui mais de 70% de sua matriz energética baseada nas hidrelétricas.

A crise do Apagão de 2001 fez com que os brasileiros adotassem hábitos mais sustentáveis. Mas só manter a consciência ambiental não basta. É preciso que o Poder Público fomente a produção energética sustentável com políticas permanentes. Este é um ponto que precisamos ficar bem atentos nessas eleições.

Repense

Esta reportagem integra a série Repense Clima desenvolvida pelo Sistema Sagres de Comunicação com o apoio da Fundação Pró Cerrado. Ao longo de 12 episódios vamos aprofundar sobre temas relativos à sustentabilidade, produção e consumo, que estão conectados ao Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 07 da Organização das Nações Unidas (ONU), que é “Energia Acessível e Limpa”.