Cerâmica, geometria, cores, formas da natureza, poesia. Todos estes elementos artesanalmente são unidos pelas mãos da muquifer e artista visual Marcella Silvério, no Müquifü Cultural. O coletivo de cultura fica na Rua 8, no Centro de Goiânia.

“A poesia é que que me dá esse norte todo de como eu vou produzir meu trabalho. Então isso é bastante coisa. Eu falo que eu sou uma artista visual conceitual multidisciplinar. Conceitual porque tem que estar sempre buscando mesmo esse significado assim por trás da obra, né, ou seja, o que eu quero dizer com isso que eu estou produzindo”, afirma Marcella.  

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Em cada peça, o autoconhecimento por meio da arte. “Tudo que a gente faz a gente está sempre se desafiando. Então o maior desafio é o que eu estou passando na hora, e o que está me bloqueando. Então tudo trabalha em conjunto assim, é poesia, é arte, é a inspiração e é ao mesmo tempo. Ela é parte ela tudo tá ali interligado”, complementa.

A Marcella divide o atelier com outra artista, a Tatá. Garimpando imagens, recortes e materiais diversos, ela desenvolve as chamadas colagens analógicas.

“A colagem analógica vem muito de garimpar revista antiga, livro, de acervo pessoal, acervo familiar. E aí eu vou recortando cada recorte e colando nessa superfícies. Então eu gosto mais de trabalhar com a colagem analógica, apesar de eu também digitalizar elas e fazer às vezes prints e vender esses prints digitalmente”, relata Tatá.

Arte digital

Em outra sala do Müquifü, as teclas da máquina de escrever da Gus Aires é que são o pincel, e a folha em branco se torna um universo de possibilidades. Ela sonha em trabalhar como escritora.

“Eu vou escrevendo e esse escrito ela vira a arte. Então fiquei pensando: por que não fazer a própria escrita ser a arte? E aí eu tento espaçamentos com letra, faço isso tudo de letras, de tipos também, para a produção de uma arte. Eu penso a imagem na minha cabeça, tento escrever essa arte e passo para o papel assim em forma de arte dentro da datilografia mesmo”, esclarece.

Representação digital de Goiânia, com ônibus do transporte coletivo, uma casa em art déco, pamonharia e até o famoso edifício abandonado na Avenida Araguaia (Foto: Sagres TV)

Dos lambe-lambes no papel, que vão parar em diversos lugares da capital, à arte digital, como a representação de Goiânia acima. Uma verdadeira reunião de estilos.

“Eu nunca tinha feito lambe-lambe na vida e recebi um convite da Gus para vir fazer. A gente estando aqui dentro como muquifers experimenta muitas práticas artísticas a partir da provocação dos outros colegas. Isso é muito legal porque se tornam práticas coletivas de momentos, de discussões ou de descobertas mesmo, de outras poéticas, de formas de trabalhar”, afirma Camila Borges, que tesoureira e artista residente no Müquifü Cultural.

Coletivo cultural

Fundado em plena pandemia, o Müquifü respira arte coletividade, diversidade e pluralidade. Além de tudo isso, é local de resistência em prol da cultura, uma fonte de calmaria e de inspiração em pleno centro comercial de Goiânia. É o que explica o fundador Renan Accioly.

Renan Accioly é um dos fundadores do Müquifü Cultural (Foto: Sagres TV)

“O Müquifü Cultural surgiu da ideia da gente ter um espaço onde a gente pudesse receber artistas, trabalhadores da artes e produtores culturais, e isso ocorresse de forma coletiva. Que esse pessoal tivesse espaço para trabalhar e pudéssemos dividir também os valores de custeio, né? Porque a gente sabe que não é fácil não é sobreviver de arte cultura em Goiânia”, pontua Renan.

Ao todo, já são mais de 50 projetos e eventos culturais como mostras de arte, shows, feiras e oficinas. Tudo é realizado pelos próprios muquifers, que vivenciam diariamente o desafio de manter um ambiente coletivamente saudável para todos e também de busca por incentivo.

“Nós mesmos bancamos o Müquifü, a gente divide as contas. Mas se a gente tivesse algum incentivo de dinheiro mesmo, de verba, de patrocínio para continuar, talvez a gente conseguisse expandir nossas atividades, não só internamente mas também para comunidade em Goiânia”, afirma Camila.

O nome do coletivo cultural remete à forma como o prédio se encontrava antes da ocupação cultural em 2021.

“Esse prédio aqui era um abandono. A gente tinha entulhos espalhados aqui em toda a área, poeira em tudo quanto é canto, tudo destruído,  as paredes pintadas de qualquer jeito, então a gente fez um trabalho de reformulação. Desse espaço a gente reutilizou materiais, as mesas dos ateliers são portas reaproveitadas que a gente retirou da rua. É um processo contínuo. A gente sempre está trabalhando, pensando em melhorar o espaço”, conta Renan.

O Müquifü Cultural é um ponto que pulsa arte e cultura, que inspira, e que está de portas abertas para a comunidade.

*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU): ODS 11 – Cidades e Comunidades Sustentáveis.

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