O gestor de futebol do Goiás, Túlio Lustosa, apresentou uma fórmula para que o Campeonato Goiano tenha sua decisão dentro do campo. Túlio propôs que o campeonato volte neste intervalo entre o retorno dos clubes ao trabalho e o início do Campeonato Brasileiro.

A ideia dada (e mal dada) é a seguinte: o Goianão volta com as equipes que se interessarem jogar o restante da competição. Os jogos serviriam para definir o campeão e vice, além de rankear os clubes para participação na Copa do Brasil e Campeonato Brasileiro da Série D de 2021. A questão do rebaixamento, prevista na regulamentação para elaborar os regulamentos dos campeonatos de futebol no Brasil, seria deixada de lado.

O esquema proposto pelo Túlio é interessante para o cube onde trabalha, o Goiás, e para o Atlético, que já estão treinando e vão disputar o Brasileiro da Série A. Para os outros clubes não há nenhuma conveniência, pois não há dotação orçamentária para a sustentação de times e para as equipes que não se classificarem para a próxima fase, a participação se limitaria a dois jogos. É bom frisar que todas as equipes do interior do Estado desfizeram seus elencos e, para voltar, teriam de recontratar os jogadores. Além de contrariar um princípio da lei regimentar dos regulamentos dos campeonatos que manda ter o rebaixamento dos dois últimos colocados de cada uma das séries, para absorver os dois primeiros colocados da série logo abaixo, para o ano posterior.

A fórmula proposta pelo Túlio ignora a pandemia vivida pelo Brasil, o que impede a realização de jogos com a presença de torcedores, onde está a fonte principal de arrecadação dos clubes. Além da renda com a venda de ingresso, a presença do público propicia ao dono do Estádio, a venda de publicidade, através de placas.

Quando afirmei lá atrás que a ideia foi muito mal dada, sustentei a argumentação nos fatores que apresentei aqui. Nunca é demais lembrar que foi por uma ação do próprio Goiás que o Campeonato Goiano foi paralisado, quando faltavam duas rodadas para terminar a primeira fase, quando já ficaria estabelecidos os classificados para a próxima fase e os dois clubes rebaixados.

Naquele período, o Estado de Goiás tinha registrados três casos de contaminação pelo coronavírus e mesmo assim em pessoas que haviam retornado de viagem ao exterior. Baseado nisto o governo do Estado autorizou a realização das duas rodadas que ocorreriam numa quarta-feira e num domingo, ou seja, num intervalo de quatro dias. A única exigência do governo era a proibição da presença do público e a realização de testagem em todos os profissionais que fossem acessar vestiários e gramado. Apenas o Goiás e a Anapolina ficaram contra. Com a maioria a favor e com a autorização do governo, o campeonato seguiria.

O Goiás convocou o presidente do Sindicato dos Atletas Profissionais de Goiás, o ex-jogador Marçal, que se reuniu com os jogadores do Goiás e impetrou uma solicitação de paralisação da competição imediatamente, em nome de todos os jogadores envolvidos na disputa. É como afirmar que interesse dos jogadores de futebol profissional em Goiás é exclusivo ao que atende o interesse dos jogadores do Goiás: o resto é resto. Como o pedido feito pelo Sindicato foi acolhido pela FGF, o campeonato foi paralisado, parindo incerteza, gerando insegurança e obrigando os clubes sem garantias de calendário para o restante do ano, dispensar seus jogadores. Isto foi gerador de grandes prejuízos para os clubes do interior. Um deles, o Clube Atlético Catalano (Crac), declarou que quebrou.

Não há nenhuma condição de retorno dos jogos com esta “conversa de bêbado para delegado” do Túlio Lustosa. Não pode ser como o Goiás quer e não pode atender apenas aos interesses do próprio Goiás e do Atlético. O futebol goiano não se limita a estas duas equipes – é muito mais e todos merecem respeito aos seus interesses e as suas conveniências.

Assim como não podemos aceitar o retorno do campeonato como propôs o Túlio, também não podemos ignorar os jogos já ocorridos. Há súmulas, houve público testemunhando, os jogos tiveram os resultados homologados e isto não pode ser ignorado. Resta então para a FGF a opção de considerar a classificação do dia em que a competição foi paralisada, o que significa considerar o Atlético campeão, o Jaraguá vice, e o Iporá e a Anapolina rebaixados.