Quando se trata de saúde masculina, quase tudo é tabu, uma censura que os homens impõem a eles próprios. No caso da saúde mental, então, o tema é praticamente proibido. “Historicamente, a mulher tende a buscar mais ajuda profissional, a cuidar mais da saúde. Isso vale para todos os aspectos de saúde, até para os outros aspectos físicos”, explicou o psicólogo Ildebrando Moraes de Souza.
Souza contou que a procura de ajuda por homens é muito rara porque o ato é considerado uma atitude vulnerável. “Isso soa mal”, destacou. Segundo o psicólogo, quando a procura finalmente ocorre já há um quadro grave instalado.
“Para o homem, ir para o médico só é válido quando alguma coisa já está muito estragada no corpo. Antes disso não se vai ao médico. Tratamentos preventivos para saúde mental ganharam um contorno ainda mais grave de preconceito, porque precisar de ajuda psicológica muitas vezes envolve a exposição de uma vulnerabilidade, que é destoante do papel masculino na forma que a nossa sociedade se organiza”, disse.
Saúde mental
Ildebrando Moraes de Souza contou que a saúde mental é tratada entre os homens como um assunto “não é tão importante assim”. Em 2018, por exemplo, 69,4% dos homens passaram por alguma consulta, segundo o relatório da Pesquisa Nacional de Saúde publicado em 2019. Entre as mulheres esse percentual é de 82,3%.
Souza notou que os problemas de saúde mental os homens disfarçam com o uso de álcool. Notou ainda que ao buscar ajuda homens e mulheres também se tratam de formas diferentes.
“Em quadros depressivos entre os homens, é comum que o uso de álcool acabe tendo um papel substitutivo para uma medicação ou para uma terapia, embora nós saibamos que não é o caminho correto. Já as mulheres acabam com muita frequência se utilizando de outros recursos terapêuticos, por exemplo, a psicoterapia, e medicamentos próprios para o tratamento adequado. Então, o comportamento masculino está mais uma vez atrelado a essas dificuldades em procurar ajuda especializada”, detalhou.
Cuidado preventivo
O psiquiatra Daniel Kawakami sugeriu mais campanhas de conscientização sobre saúde masculina e que o combate do problema ocorra ainda na infância.
“É necessário tratar o tema de forma preventiva. Se possível, já no início da vida, apresentar para as crianças a necessidade de se cuidar. O que é depressão? O que fazer com esse problema? Como identificar? Precisamos fazer esse trabalho para preparar a próxima geração para essa questão e criar uma nova forma de olhar para isso”, afirmou.
*Com Jornal da USP
*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). Nesta matéria, o ODS 03 – Saúde e Bem-Estar.
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