Candidatos polarizaram a campanha com o sentimento de Marconistas versus Antimarconistas (Foto: Internet/Reprodução)

O debate eleitoral da corrida ao governo de Goiás nestas eleições girou em torno de dois projetos: a oposição ao grupo que comandou o Estado pelos últimos 20 anos, liderado pelo ex-governador Marconi Perillo (PSDB), e a aposta na renovação do passaporte deste grupo por mais quatro anos. Em outras palavras, foi a campanha do marconismo versus o antimarconismo.

No pelotão da frente, duas forças disputaram o título de oposição verdadeira. O neoconvertido Ronaldo Caiado (DEM) – ele esteve com Marconi até a eleição de 2014 – e o deputado federal Daniel Vilela (MDB). Apesar de ser cristão novo na oposição, Caiado conseguiu aglutinar o sentimento oposicionista em torno de seu projeto eleitoral, a julgar pelas pesquisas de intenção de votos.

O senador construiu seu discurso no slogan “a fila andou”, expressão popular que está para esta eleição de 2018 assim como “denossauros” e “panelinha” estiveram para a campanha de 1998. Para quem não se recorda, Marconi, estreante na disputa pelo governo, desconstruiu Iris Rezende (MDB), o líder mais popular do Estado naquela ocasião, associando sua imagem ao atraso e à familiocracia e se apresentando como a modernidade e o futuro.

Curiosamente, esses conceitos definidores de um tipo de visão de mundo não foram os protagonistas do debate neste 2018. Mais que o futuro ou os vários caminhos possíveis para construí-lo, Caiado propôs algo bem simplório. Pediu um voto de confiança, em nome de seus 30 anos de carreira política, de seus 43 anos no exercício da medicina (ele é médico ortopedista).

Em outras palavras ele buscou apoio na ideia de tradição, na “história incorporada” pelos Caiado – para usar uma expressão da pesquisadora Miriam Bianca Amaral Ribeiro, que estudou a permanência da família na política goiana desde o início do século 20 – para conquistar o poder no final desta segunda década deste século 21. Isso não é pouca coisa. Levanta questões que ainda merecerão estudos aprofundados sobre o significado do provável retorno de um Caiado ao poder nesta chamada era da pós-modernidade.

Caiado construiu sua campanha a partir desta ideia nuclear: o povo quer mudar e ele é o candidato confiável para fazer essa transição. E não se desviou um milímetro de seu foco. Foi disciplinado na campanha. Abriu mão do estilo belicoso, às vezes, agressivo, com o qual se notabilizou no debate político nacional, nas tribunas da Câmara dos Deputados e do Senado, para se mostrar um homem centrado, sério, dedicado ao que diz ser sua missão, “recuperar Goiás para os goianos”. Por isso não se preocupou em detalhar propostas para o governo como foi, de forma justa, cobrado por seus adversários.

O deputado Daniel Vilela tentou se colocar no páreo como autêntico representante do oposicionismo que enfrentou os tucanos desde a histórica eleição de 1998. Criou o conceito de uma gestão técnica, menos política. Ele quis ser uma espécie de CEO (Chief Executive Officer, o diretor-presidente em uma empresa privada) público.

Daniel achou que tinha o direito natural ao posto de verdadeira oposição, por vir do MDB, e ainda ser um jovem com a cara de renovação.

Apresentou a receita de “novas ideias, novo Goiás”, segundo ele, um conceito para redirecionar o governo das negociações políticas para as decisões mais administrativas e o planejamento fiscal. Mas, como se viu acima, esta não é a eleição da racionalidade, de conceitos político-administrativos. É a eleição do sentimento de negação. No caso de Goiás, a negação ao marconismo. O candidato do MDB não aglutinou nem mesmo seu partido, pois parte dele preferiu a tradição dos Caiado ao novo.

Os candidatos Kátia Maria (PT) e Weslei Garcia (PSOL) formaram o segundo pelotão dos candidatos de oposição, mas a todos eles: ao MDB, ao DEM e ao PSDB. Consideram que esses partidos são responsáveis pelo “golpe” de 2016, o impeachment de Dilma Rousseff. Kátia foi a embaixatriz de Lula da Silva e seu de sucessor Fernando Haddad.

A petista repetiu à exaustão que era do “time de Lula”, mas o clima para o PT virou durante a campanha. É que Jair Bolsonaro (PSL) assumiu a dianteira das pesquisas em Goiás, lugar ocupado por Lula até o TSE indeferir sua candidatura, em meados de setembro.

Sozinho do outro lado da trincheira ficou o governador José Éliton com a dura missão de defender o legado de Marconi Perillo, depois de um natural “desgaste de material”, como se diz no meio publicitário, e ainda se mostrar como um gestor competente para continuar no comando do Estado. O governador também foi bem disciplinado. Treinou para debater em público, para fazer exposição detalhada, muitas vezes até enfadonha pela quantidade excessiva de dados e números, dos programas e ações do governo.

A julgar pelas pesquisas que o colam em segundo lugar e bem distante do líder Caiado, não teve sucesso. Primeiro por suas próprias limitações. José Éliton nunca tinha disputado uma eleição sozinho e já estreou no topo, como candidato a governador. Como disse um deputado, ele começou a fazer campanha de King Air, o modelo de avião usado pelo governo de Goiás, e não de Opala velho pelas estradas do interior do Estado.

Não pegou o jeito do discurso político, não burilou seu vocabulário, ainda carregado de expressões jurídicas, para parecer mais natural e não apenas um aluno bem treinado. É a experiência política do dia a dia que forma um líder verdadeiramente popular e não uma campanha de marketing. Daí não é de se estranhar que o José Éliton não conseguiu se transformar no Zé de sua propaganda eleitoral.

Ao final de 34 dias de campanha – a propaganda eleitoral gratuita no rádio e na TV começou em 31 de agosto – o eleitor vai às urnas neste domingo não para escolher um projeto político para o Estado. Vai julgar os 20 anos de liderança absoluta de Marconi Perillo, pois esta foi a tônica da campanha. O resultado das urnas poderá confirmar seu poder ou então lhe infringir sua primeira e grande derrota. Que falem as urnas!