Arthur Barcelos
Arthur Barcelos
Apaixonado por futebol e geopolítica, é o especialista de futebol internacional da Sagres e neste espaço tem o objetivo de agregar os dois temas com curiosidades e histórias do mundo da bola.

O legado de elefantes brancos da Copa do Catar

Os elefantes brancos estão muito presentes em grandes eventos esportivos. Em Copas do Mundo de futebol, não faltam exemplos. O Mundial de 2014, realizado no Brasil, inclusive, tem vários deles, com Mané Garrincha (Brasília-DF), Arena Pantanal (Cuiabá-MT), Arena da Amazônia (Manaus-AM) e Arena das Dunas (Natal-RN).

A expressão, que tem origem na cultura asiática, no caso do esporte, se refere a estruturas em desuso ou não aproveitadas como originalmente projetadas após realização do evento. Seja estádios com grande capacidade que raramente estão lotado ou mesmo arenas que nem mesmo abrem as portas mais.

No caso mais recente, a Copa do Catar vai na contramão de tudo o que a organização e a Fifa pregaram durante a preparação para o evento. Em meio à pressão por construções mais sustentáveis e alinhadas à Agenda 2030, a promessa foi de estádios que poderiam ter a capacidade reduzida ou até mesmo serem desmontados após o Mundial.

Na prática, porém, isso ainda não aconteceu mais de um ano após a competição. Realizada entre os meses de janeiro e fevereiro, a Copa da Ásia usou sete das oito arenas da Copa do Mundo de 2022, que seguiram com sua capacidade máxima. Além deles, outros dois menores também sediaram o torneio.

Gigantes vazios

Mas apesar da utilidade recente na competição, o mesmo não pode ser dito no restante do ano. Somente três arenas “mundiais” são usadas frequentemente no campeonato local: o estádio Ahmed bin Ali, pelo Al Rayyan SC, o estádio Al Janoub, pelo Al Wakrah SC, e o estádio Al Bayt, pelo Al Khor SC, este na segunda divisão.

Projetado para receber mais de 45 mil espectadores, o Ahmed bin Ali deveria ter capacidade reduzida para cerca de 21 mil lugares. O Al Janoub cairia de mais de 44 mil para 20 mil. Já o Al Bayt deixaria de receber os quase 69 mil para apenas 32 mil. Lusail, Educação, Khalifa e Al Thumama seriam as únicas arenas intactas.

A justificativa para romper com a promessa de sustentabilidade é a ambição do Catar em ser um país relevante internacionalmente. O esporte, claro, é um caminho bastante explorado para atingir isso. Ainda mais em um cenário de disputa por poder e influência no Oriente Médio com os vizinhos Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos.

Para além da Copa do Mundo e da Copa da Ásia, o Catar quer seguir como um palco para grandes eventos. No futebol, a próxima competição sediada pelo país é a Copa Árabe de 2025. Esta será a segunda edição do torneio sob a jurisdição da Fifa, mas que já é tradicional e extremamente importante para o mundo árabe.

974: de estádio contêiner a estádio fantasma

O grande exemplo da falsa sustentabilidade da Copa do Mundo de 2022 é o Estádio 974. “Menina dos olhos” do Catar, a arena é cheia de significados. O inusitado nome veio do código telefônico do país (+974) e também do número de contêineres reciclados utilizados para completar a estrutura interna do estádio (974).

“Vendido” como a primeira sede temporária da história da Copa do Mundo, o 974 foi projetado para ser desmontado após o evento e então remontado em outro lugar. Um conceito chamado arquitetura nômade e que faz muito sentido dentro do discurso de promover o Mundial da Fifa mais sustentável.

Mas tudo isso só ficou no discurso. Um ano e três meses depois de receber a sua última partida, o 974 segue em pé na baía de Doha. Segundo uma reportagem do jornal espanhol Marca, o estádio recebeu shows musicais e entre outros eventos. No entanto, outros relatos afirmam que nada acontece na arena desde a Copa.

“Estádio 974: o ‘estádio dos contêineres’ ainda existe, mas não serve para nada”. Assim intitulou o jornal francês L’Équipe uma matéria de janeiro deste ano sobre a arena. Segundo a reportagem, a desmontagem do estádio foi suspensa em 2023 e o futuro do 974 permanece um mistério, sem esclarecimentos das autoridades do Catar.

Leia mais

Mais lidas:

Leia também: